Carlos Donizete Parra
O mercado brasileiro de vinhos teve um ano tão atípico quanto foi 2020 para todos nós. As vendas de vinhos tiveram crescimento de mais de 30% em relação a 2019 e o consumo registrou picos de 72%, com um consumo per capta de 2,7 litros, marca nunca antes registrada no país. As vinícolas aumentaram a presença nos canais de vendas digitais, assim como em supermercados e outros pontos do varejo, principalmente em lojas de bairro, o chamado mercado local. Assim como em 2020, a incerteza deve ser a regra do jogo em 2021. Um cenário extremamente volátil e que requer velocidade para se adaptar às novas demandas. Para isso, a construção de um portfólio flexível é fundamental. Na categoria de vinhos tivemos ações importantes , como o lançamento de alguns vinhos em lata e um aumento da comercialização do produto em bag in box. Os vinhos rosés também deixaram de ser o patinho feio para se transformarem em uma grande oportunidade para produtores, além de uma excelente opção para os consumidores. Num mercado extremamente competitivo, onde não sabemos mais ao certo quem são nossos concorrentes, precisamos entender muito bem quem são nossos clientes e oferecer produtos personalizados e que atendam todas as ocasiões de consumo.
A incerteza não parece ser a principal dor de cabeça de produtores e vinicultores, afinal eles aprenderam a driblar as diferenças de uma safra para outra e, apesar das adversidades, extrair sempre o melhor da uva. Estamos em plena vindima na Serra Gaúcha, principal região produtora de vinhos do país, e sabemos que ainda há riscos de perdas. Mas, as perspectivas são muito boas para esta safra. Segundo a Embrapa Uva e Vinho, a safra 2021 pode ser melhor em qualidade e quantidade que a safra 2020, dependendo do grupo de cultivar (precoce, intermediária ou tardia). Ainda segundo os pesquisadores da Embrapa, no ciclo vitícola 2020/2021, as condições meteorológicas ocorridas na Serra Gaúcha durante o inverno e na primavera favoreceram o potencial de produção de uvas na região.
Inspirados pelos avanços das vinícolas, perguntamos aos executivos: Qual a sua expectativa para a nova safra? 2021 será o ano do espumante, tinto ou do suco?
Adriano Miolo, Diretor Superintendente, Vinícola Miolo
Estamos no início da safra. Até o final de março, início de abril, dependemos do clima, que tem sido favorável para o cultivo da uva. Entretanto, é muito cedo ainda fazer qualquer tipo de avaliação, pois o ponto alto da colheita está começando. Até o momento colhemos variedades precoces utilizadas para a elaboração do vinho base espumante. O que percebemos é uma excelente qualidade proporcionada pelas condições climáticas, com picos de temperaturas médias e altas e noites mais amenas.
Como trabalhamos com controle total de produção, onde nosso foco está totalmente voltado para a qualidade, deveremos manter um volume aproximado de 10 milhões de quilos de uvas em todas as unidades.
Quanto aos vinhos, podemos dizer que em 2021, o espumante seguirá em destaque diante da qualidade e sanidade das uvas já colhidas. O equilíbrio entre acidez e açúcar das nossas uvas foi determinante para que possamos elaborar espumantes com alta qualidade. Agora, se o clima continuar contribuindo teremos mais um ano de vinhos nobres diferenciados com certeza. Nosso portfólio é 100% elaborado com uvas Vitis Viníferas, mas alguns de nossos tintos dependem da maturação excelente da uva. Por isso, eles não são lançados todos os anos, justamente por depender desta maturação perfeita que nem sempre ocorre. Temos tido a felicidade de alcançar esta performance nas últimas safras. Além disso, cabe destacar o nosso suco, o Sunny Days, feito com uvas colhidas todos os dias em nossos vinhedos do Vale do São Francisco. Lá temos um maior controle sobre o amadurecimento e evolução das uvas em razão do sistema de irrigação feito por gotejamento com águas do Velho Chico.
Agora, se falarmos no Vale dos Vinhedos, este terroir é excelente para espumantes, tanto que temos diversos vinhos com Denominação de Origem. Exemplo disso é a linha Miolo Cuvée.
Luciano Lopreto, Diretor, Vinícola Góes
Em princípio tudo caminha bem para esta safra que começa a ser colhida. Provavelmente não será tão boa quanto foi a de 2020 (considerada a safra das safras). Porém, o trabalho de campo tem sido feito com muita dedicação pelas vinícolas, de tal forma que possamos ter uma consistência em termos de boas safras todos os anos. Aqui na Região Sudeste, as principais safras têm sido as resultantes da Colheita de Inverno (usando a técnica da Dupla Poda). Aqui na Góes já realizamos a 2ª Poda e vamos acompanhar a evolução dos vinhedos até a colheita em junho/julho, que mais uma vez deve vir muito bem.
Quanto ao crescimento de safra, estamos sempre limitados ao tamanho e produtividade das áreas de cultivo, que dependem mais das condições naturais do que do desejo dos produtores. O bom desempenho de consumo e vendas de 2020 servirá sem dúvida de incentivo para ampliação de áreas cultivadas, cultivo de novas variedades etc, mas isso é para o médio prazo.
Acredito que 2021 seguirá a tendência de 2020, os vinhos tranquilos (tintos, brancos e rosés) continuarão puxando o crescimento do consumo.
Hermínio Ficagna, Diretor Superintendente, Vinícola Aurora
Estamos bem otimistas com a safra da uva que iniciou nos últimos dias de dezembro e seguirá até metade de março. Até o momento, tudo está perfeito! No ano em que celebramos 90 anos de fundação, vamos comemorar também mais uma vindima histórica em qualidade.
Em volume, a expectativa é que sejam colhidos acima de 70 milhões de quilos da fruta, cerca de 15% a 20% maior em relação ao ano anterior, em face das mudanças climáticas extremamente favoráveis à produção de uvas. Com a safra 2021, projetamos que mais de 60 milhões de litros de bebidas, entre vinhos, espumantes, sucos e coolers, sejam elaborados pela Aurora.
Acredito bastante na consolidação de nossos vinhos, sucos e espumantes este ano. Embora com dois cenários bem distintos em razão do início da imunização da população frente à Covid-19. Teremos mudanças de comportamento e, com certeza, num segundo cenário, que deverá ocorrer no segundo semestre do ano, os espumantes deverão obter um aumento maior, pois tudo indica que os eventos e comemorações voltarão, gradativamente, a fazer parte do cotidiano das pessoas.
Alexandre Angonezi,
Diretor Executivo, Vinícola Garibaldi
Este ano, vamos começar a colher os frutos dos investimentos feitos em anos anteriores em novas áreas de vinhedos. Com isso, nossa safra deve ser 25% maior do que a colhida em 2020, chegando a 25 milhões de quilos. Também estamos muito satisfeitos com a qualidade do grão, e a previsão de pouca chuva para os meses de colheita promete contribuir com a maturação das uvas.
Acreditamos que tanto os vinhos e, especialmente os espumantes, seguirão sendo bem consumidos. Ambos tiveram crescimento de vendas em 2020, o que nos deixa otimistas para 2021. Com a pandemia, o brasileiro teve mais tempo para conhecer e experimentar o vinho e o espumante nacionais, identificar seu próprio paladar e comprovar a qualidade dos nossos produtos.
Jeronimo Mioranza, Diretor,
Vinícola Mioranza
Tudo indica que teremos uma safra grande em volume, mas sempre olhamos a qualidade da fruta que é o mais importante para o nosso negócio. E estamos sempre atentos às condições em que a fruta chega em nossa vinícola, que pelo que estamos observando será de uma qualidade brilhante.
O ano será bom para todos os produtos vinícolas, e falo isso porque estamos recebendo a uva em perfeita condição de colheita, a fruta amadureceu no seu tempo certo.
Deunir Argenta,
Vinícola Luiz Argenta
A safra 2021 vem tendo um bom desempenho. Até o momento, desde a primavera, está muito parecido com 2020. Este ano temos um excelente equilíbrio entre qualidade e quantidade. Aqui na Luiz Argenta, limitamos a produção e, então, não somos parâmetro para dizer se aumentou ou não, buscamos trabalhar sempre com o equilíbrio da planta.
Ainda é cedo para afirmar, por enquanto as uvas para base espumante estão com altíssima qualidade, o restante só teremos a certeza a partir de fevereiro.
Catherine Petit, Diretora Geral, Moët Hennessy do Brasil
Nossos vinhedos estão localizados em Garibaldi, na Serra Gaúcha a uma altitude em torno de 650m e em Encruzilhada do Sul, 275km mais ao sul, em uma região montanhosa mais fria e seca a cerca de 400m de altitude perto da fronteira com o Uruguai. Iniciamos a colheita da safra de 2021 em 7 de janeiro na região da Serra do Nordeste, Monte Belo do Sul e Garibaldi e em 13 de janeiro na Encruzilhada do Sul, Serra do Sudeste. Até 6 de fevereiro, 85% de nossas uvas já foram colhidas manualmente e estima-se que a colheita termine no início de março.
As condições climáticas são muito favoráveis com dias quentes, ensolarados e secos e temperaturas frescas à noite. Portanto, esperamos uma alta qualidade para nosso Chardonnay, Pinot Noir e para nosso tesouro local Riesling Itálico, que adiciona grande frescor e delicadeza aos nossos espumantes.
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