Esta é uma série especial sobre o momento atual e o futuro do mercado de bebidas com análises importantes para os negócios. Compartilhar práticas e experiências é o melhor que podemos fazer agora.
Perguntamos às indústrias de bebidas quais são os principais desafios que estão enfrentando neste momento e um dos pontos centrais mencionados pelos executivos foi a preocupação com a gestão e proteção do caixa. Outra prioridade é a de garantir a continuidade das operações e o abastecimento do mercado. Acompanhe os comentários.
Aline Eggers Bagatini, CEO · Bebidas Fruki
Um dos maiores desafios é manter a empresa em operação, sendo que para isso, é fundamental priorizar a saúde da equipe. No início da pandemia, criamos um Comitê de Crise (com a participação de um médico do trabalho) que se reúne diariamente. Também adotamos medidas como home office, afastamentos, férias, reuniões virtuais, redobramos os cuidados na indústria e na área de distribuição e reforçamos a comunicação com todas as áreas.
Intensificamos os cuidados com a gestão do caixa, realizando uma avaliação profunda de todas as despesas, com o objetivo de cortar tudo que não é essencial neste momento. Procuramos renegociar condições e prazos de pagamento junto aos fornecedores e adiamos investimentos importantes.
Além disso, precisamos compreender as novas necessidades e comportamentos dos nossos clientes e estar preparados para prestar um bom atendimento. Estamos atentos às tendências e procurando alternativas para melhor atender, sempre priorizando a preferência deles.
Alexandre Biagi, CEO · Uberlândia Refrescos
Retração de consumo em função do fechamento do comércio em função da pandemia Covid-19, além da perda de renda dos consumidores representam os grandes desafios a serem superados.
E, para isso, já estamos tomando diversas ações que vão desde a preocupação com a saúde de nossos colaboradores, mas também com nossos clientes e consumidores. Neste caso estamos trabalhando para garantir o abastecimento do mercado e também ajudando aqueles clientes que estão com dificuldades financeiras, flexibilizando prazos de pagamentos e oferecendo descontos. Com nossos colaboradores, falamos sobre assuntos como educação financeira em momentos de crise, coaching, tratamento humanitário, entre outros.
Paulo Villas, Diretor de Operações Técnicas · Coca-Cola Brasil
Nosso desafio principal, no primeiro momento, foi o de garantir o abastecimento do mercado operando com a maior segurança possível. Para isso e já pensando na retomada, grupos de gestão de crise conectados em todo o mundo trocam experiências e as melhores práticas. E também buscamos total interação com governos e principais clientes.
A pandemia e o isolamento social devem provocar mudanças de hábitos de compras, alterações de portfólios e de canais. É uma fase em que teremos que realizar uma adaptação em todos esses modelos, em especial o comércio eletrônico e produtos affordable.
Fausto Padrão, Gerente de Engenharia · Coca-Cola Andina Brasil
O mundo mudou neste cenário de Pandemia, e algumas destas mudanças deverão se manter na era pós-pandemia. Mas acredito que o maior desafio para todos, no curto prazo, é lidar com o incerto, com o imprevisível. Nesse sentido, compreender e responder às demandas, que estão completamente voláteis, tem sido desafiador. Contudo, a principal preocupação é garantir a saúde de todos os funcionários e manter as fábricas em operação e, por isso, foram adotadas várias medidas de isolamento, proteção e controle nos acessos e convívio dentro da empresa.
A incerteza prevalece para o futuro. Mas a recessão econômica, que já se manifesta, pode ser considerada uma certeza. Com esta visão, as ações da empresa, nesse momento, se concentram no enxugamento de custos, cortando luxos e desperdícios, mas tentando ao máximo manter os empregos e prepará-la para um período de dificuldades. Como aprendizados, percebemos que as reuniões virtuais, e o próprio home office, estarão presentes com muito mais intensidade em nosso futuro, trazendo agilidade e redução de custos operacionais.
Hermínio Ficagna, Diretor Superintendente · Vinícola Aurora
Um grande desafio é retomar progressivamente as atividades da empresa com responsabilidade e os cuidados necessários para preservar a vida dos trabalhadores e de suas famílias de eventual contágio do vírus, com atenção especial aos funcionários que estão no grupo de risco. Também estamos buscando superar todas adversidades para manutenção do quadro funcional, honrar os compromissos – mesmo cientes de que muitos de nossos clientes estão solicitando prorrogação de prazo de seus títulos –, reorganizar e planejar o sistema de vendas, considerando as mudanças de hábito e perfil dos consumidores.
Gustavo Barreira, CEO · CBCA Cervejaria
O principal impacto agora é a queda significativa de vendas. Com bares, restaurantes e comércio de bens não essenciais fechados e eventos cancelados, a única porta aberta são as redes de supermercados, onde disputamos diretamente com grandes cervejarias. Queda de vendas implica em redução de produção, férias e em último caso, redimensionamento de equipe. O ponto central é a administração do capital de giro. Controle de estoques, contas a receber e a pagar e gestão de endividamento, para as cervejarias que têm dívidas.
Paralelamente, estamos trabalhando no nosso plano de retomada, que envolve projeções de cenários de vendas, plano de produção, revisão do portfólio de produtos, investimentos na área comercial e foco nos canais e regiões onde acreditamos que a recuperação será mais rápida. A variável mais importante e a mais difícil de acertar, será o padrão de consumo pós-isolamento. Por isso estamos desenhando diferentes cenários, mas concentrando as atenções em dois ou três.
Gustavo Assoni, Gerente Industrial · Cervejaria Ravache e Bebidas Convenção
Os desafios são diários, mas a prioridade é a saúde e segurança de todos os nossos colaboradores. De acordo com as possibilidades e funções, implantamos o home office e incentivamos a prática de cursos online para todos os colaboradores. De imediato, tivemos uma redução de volume em torno de 30%, principalmente na linha fria (bar). Estamos buscando um volume de vendas saudável para manter a estrutura fabril, além de efetuar o controle rigoroso de insumos/estoque e de uma operação mais enxuta possível.
Estamos com foco total na qualidade e entrega dos produtos aos PDVs de forma imediata (entrega em 24 horas), além do fortalecimento do e-commerce, principalmente para a linha de cervejas.
Carlos Parra, Diretor · Revista Engarrafador Moderno
Com certeza, o que sabemos nesse momento é que essa crise vai passar e precisamos estar preparados para a saída da quarentena e uma retomada da economia.
Em uma situação caótica como essa, um dos pontos principais é proteger o caixa no curto prazo sem destruir o negócio no longo prazo. E essa é uma decisão que não pode ser delegada a terceiros. É uma decisão do CEO ou do fundador da empresa.
O fluxo de caixa deve ser visto, revisto e acompanhado diariamente e alterado sempre que necessário de acordo com as mudanças do mercado. No entanto, é importante levar em consideração que a retomada vai acontecer e a empresa tem que ter capacidade de reação frente a uma nova janela de oportunidades que será aberta. Não pode ficar “congelada” esperando as movimentações. Tem que buscar alternativas de receitas, novos canais de distribuição e um mix de produtos que atenda a nova realidade do mercado.
Gino Di Domenico, Sócio Fundador · Doxa Partners
As empresas de bebidas que têm seu modelo de distribuição centrado no “ponto de dose” ou no chamado “mercado frio” terão seu faturamento altamente impactado. Estimo perdas entre 40% e 60% nos próximos 90 dias e perdas entre 15% e 30% em até 6 meses. Desde a primeira quinzena de março, mediante o impacto da Covid no mercado brasileiro, focamos a gestão de nossos clientes em 3 temas: gestão do fluxo de caixa com captação de recursos para 18-36 meses no sistema financeiro, proteção das margens operacionais através de reduções de custo e despesas, e busca e identificação de novos canais de venda e regiões onde a Covid não está presente. Ou não tão presente.
Outro ponto fundamental é preservar as relações comerciais com clientes, pois o consumo será retomado após a pandemia.
Aproveitar a crise para acelerar projetos em novos canais de venda, principalmente a venda por meios eletrônicos (portais, delivery e empresas de serviço etc.).