Consumidor busca por mais informações do produto, sustentabilidade e inovação, além de qualidade e atendimento personalizado
Carlos Donizete Parra
Gente é a coisa mais importante de um Negócio. Com essa frase, Pedro Lima, presidente do Grupo 3corações, define o foco da sua empresa durante participação na Semana Internacional do Café 2020. Segundo o empreendedor, a cultura do Grupo sempre foi a de olhar para seus colaboradores com atenção e dedicação. E, a partir da crise do Covid-19 isso se intensificou. “ E da parte de nossos colaboradores também vimos um comprometimento total com o trabalho e com as dificuldades que passamos, principalmente nos meses de pico da pandemia, quando ainda não sabíamos ao certo como lidar com um problema desse tipo. Estou muito orgulhoso com o espírito de equipe demonstrado por toda nossa gente”, declara Pedro Lima.
O Grupo 3corações é líder nacional nos segmentos de café torrado e moído e cappuccino, e vice-líder nacional em café solúvel. Fundada em 1959, por João Alves de Lima, em São Miguel, cidade do interior do Rio Grande do Norte, a companhia, que comemorou 60 anos, em 2019, industrializa e comercializa mais de 25 marcas de produtos. Hoje a empresa tem forte presença, também, no mercado gourmet e no setor de cafés raros já incorporou a sustentabilidade à sua cadeia produtiva e vem investindo em projetos inovadores, cujo impacto social e ambiental pode ser bastante representativo. Um deles é o projeto Tribos em que a companhia irá comercializar cafés raros produzidos por tribos indígenas do Estado de Rondônia.
Sustentado nos pilares proteção da floresta, protagonismo do índio e qualidade do café, o projeto Tribos é um exemplo de inovação sustentável. Pedro Lima conta que ficou contagiado com o espírito indígena quando foi apresentado ao projeto. “O que mais me entusiasmou foi ajudar criando valor. Quando chegamos, eu senti os índios muito desmotivados com a distribuição do seu produto. O café orgânico é um produto diferenciado e nós ajudamos nesse suporte de trazer a parte mais técnica do café. Foram dois anos de muita construção. Compramos o café por um preço muito bom, que motivou a comunidade indígena. É uma ação que criou prosperidade, que move toda a cadeia. São cafés raros, com sabor inigualável”, revela.
O Projeto Tribos conta com a participação de importantes parceiros: Funai, Embrapa Rondônia, Câmara Setorial do Café, Emater-RO, Secretarias de Agricultura de Cacoal e Alta Floresta, além das cooperativas indígenas Garah Itxá, Coopaiter, Doá Txatô e Coopsur.
São 132 famílias de indígenas cafeicultores espalhados por 28 aldeias nos municípios de Cacoal e de Alta Floresta D’Oeste (RO). O projeto atua disseminando conhecimento, capacitação e infraestrutura adequada possibilitando a produção de cafés especiais sustentáveis, além de proporcionar a oportunidade de compra de 100% da produção com valorização de acordo com a qualidade alcançada.
Outra iniciativa do projeto foi o Concurso Tribos com cafés sustentáveis, de onde nasceu então o Raro Microlote Tribos 100% Robusta Amazônico, que são microlotes especiais que contam com embalagens personalizadas com conceito visual inspirado na cultura indígena e também que carregam a identidade e história de cada cafeicultor.
Para Pedro Lima, presidente do Grupo 3corações, “como empresa brasileira que possui DNA e paixão por café, quando conhecemos esta importante realidade, nos sentimos sensibilizados e na responsabilidade de agregar para esta causa. O Projeto Tribos é uma grande obra que estará sempre em construção e fundamentada nos três pilares convivendo em harmonia: Protagonismo do Indigena, Proteção da Floresta e Produção de Café de Qualidade. O nosso objetivo com este projeto é promover desenvolvimento sustentável e trazer novos significados para a xícara do consumidor que assim como nós, é apaixonado por café”. Por fim, para fechar o ciclo sustentável do Projeto Tribos, 100% do lucro destes raros microlotes será revertido em virtude desta causa.
Exigente e antenado
Com um consumidor cada vez mais exigente e bem informado, questões como procedência e sustentabilidade dos produtos oferecidos se tornaram cruciais para o sucesso de vendas, o que também vem se refletindo no mercado cafeeiro.
“O consumidor é nosso orientador e ele está antenado, atento a tudo. Para ter sucesso, a empresa precisa primeiro prestar contas para o seu cliente e com isso deixará o seu investidor satisfeito. Nossa maior obra é encantar o consumidor, oferecer um produto que faça sentido e que tenha profundidade”, diz Pedro Lima.
Ricardo Pereira, COO da Ally Coffee, afirma que a busca por informações de valor é uma tendência mundial. O executivo cita, ainda, os exemplos das indústrias de vinho e cerveja, que já há bastante tempo entregam conteúdo relevante aos seus clientes, como procedência dos produtos, forma de produção, entre outras.
“As grandes empresas de café já estão se movimentando para proporcionar essas informações. O consumidor quer saber qual é o impacto positivo que ele teve na compra daquele café. O mercado de café tem tido essa influência de outros mercados, a demanda dele é por uma informação honesta e transparente”, explica.
Christina Meinl, Presidente da Specialty Coffee Association (SCA), relaciona a busca por mais informações do produto à sustentabilidade, que traz impactos a muitos aspectos da cadeia cafeeira. “Nossa mensagem é deixar um mundo melhor para as próximas gerações. Não há outra alternativa: todos terão que criar mais valor à cadeia produtiva e pensar em caminhos que impactem menos no meio ambiente”, afirma.
O Brasil, como grande produtor de café e importante player do agronegócio, tem papel importante na busca pela sustentabilidade da produção cafeeira. “Há uma mudança no comportamento do consumidor, uma compra mais consciente do produto. Há uma conscientização como um todo. As pessoas estão buscando experiência, produtos que tragam alegria, segurança alimentar e conforto”, finaliza Eliana Relvas, barista, Q Grader e profissional especializada em avaliação sensorial de café.
Além disso, o consumidor brasileiro busca produtos de mais qualidade em detrimento da quantidade consumida. É um movimento parecido com as cervejas artesanais, melhor consumir um produto mais caro mas com mais qualidade do que um de pior qualidade em grande quantidade. Com isso, os cafés com pontuações mais altas ganham destaque como já acontece em países europeus e nos Estados Unidos. “O americano já tem o hábito de consumir cafés de qualidade com pontuações entre 87 e 90 pontos. Durante os meses de pico da pandemia tivemos uma redução de consumo e também na escolha por esses produtos mais caros, mas mesmo assim o consumo permanece com cafés entre 83 e 87 pontos”, explica Ricardo Pereira, executivo da Ally Coffee, com sede nos Estados Unidos.
Cafeteria Ideal
No Brasil, os cafés especiais ganham mercado e conquistam cada vez mais a preferência dos consumidores. No entanto, é preciso não cair na armadilha de complicar com termos e regras de consumo que dificultam a vida do consumidor que quer simplesmente beber um bom café, assim como já aconteceu com o vinho e que, felizmente vem mudando nos últimos anos.
É importante trazer informações sobre as características, graus de torra, aspectos sensoriais e pontuações do café, mas sempre levando-se em consideração, principalmente, as ocasiões de consumo. Muitas vezes, o consumidor quer tomar um café mais encorpado, em outras algo mais rápido durante uma tarefa e outra do trabalho, e por vezes um café mais marcante e que possa ser degustado com tempo em uma cafeteria ou restaurante de sua escolha. O importante é não complicar e sim democratizar o ato de beber um bom café.
O conceito de cafeteria to go parece ter aportado de vez no país. Pegar uma xícara de café e sair andando como nos acostumamos a ver nos filmes de Hollywood está cada vez mais próximo do consumidor brasileiro. O conceito to go é fortemente alavancado pelos pilares de praticidade e conveniência. Estar onde as pessoas estão. Seguir o movimento do consumidor e oferecer uma xícara (copo) de café ou de uma bebida a base de café é o que garante o sucesso de algumas redes de cafeterias que se expandem pelo Brasil. Fundamental, portanto, o ponto, seja ele na rua, shopping, condomínio, evento ou em qualquer lugar que possa satisfazer uma nova ocasião de consumo. O Brasil produz cerca de 20 milhões de sacas de cafés especiais das quais cerca de 4 milhões de sacas já ficam por aqui, sem contar a grande quantidade de cafés tradicionais que também são consumidos em pontos de vendas, como as cafeterias em geral.
Encaixar uma xícara de café entre as atividades do dia a dia faz parte da cultura do brasileiro, e nos últimos anos o consumo de preparos especiais tem ganhado cada vez mais espaço no mercado nacional. Mas levando em conta a rotina agitada dos grandes centros, qual é a forma ideal para que uma cafeteria explore a variedade e versatilidade desta bebida milenar? No Coffee Box, empreendimento inaugurado em Balneário Camboriú (SC) no início de dezembro, não é preciso mais que um espaço bem compacto e um cardápio focado no melhor dos cafés especiais.
Instalado na Avenida Atlântica, mais importante via de acesso da cidade, o Coffee Box aposta no conceito “to go” e propõe uma experiência prática e singular para o público, marcada pela funcionalidade e serviço de excelência. Inspirado na estética de cafés micro muito popular na Ásia e em centros urbanos de todo o mundo, a ideia é oferecer opções de qualidade de forma ágil e descomplicada. “O Café tem uma função muito significativa no cotidiano, mais do que um hábito, chega a ser um ritual que garante a energia para encarar o dia. E se nem sempre é possível fazer uma pausa na rotina, nós somos a alternativa para apreciar um bom café em casa, no trabalho, ou a caminho de um compromisso”, declara Alex Barros, sócio fundador do Coffee Box.
A dinâmica do Coffee Box contempla um modo de operação pensado para otimizar tempo e espaço e que funciona por autoatendimento. O cliente consulta o cardápio em uma tela de 24 polegadas disposta no balcão, efetua o pagamento via cartão de crédito ou débito e retira o pedido logo em seguida. “O objetivo é explorar a melhor maneira de entregar o conceito de ‘pegar e levar’, atendendo o público com variedade e qualidade única na cidade”, diz Alex Barros.
A primeira unidade franqueada da rede de minicafeterias, que já atende em dois endereços na cidade de Curitiba, terá como grande destaque os blends exclusivos desenvolvidos pelo barista curitibano Paulo Poran. São 10 opções de cafés especiais quentes: espresso italiano, espresso duplo longo, americano, machiatto, latte, cappuccino italiano, mocha, carmelotto, latte com xarope de côco e cappuccino com chocolate e caramelo. Para os veganos, o empreendimento conta com versões sem lactose com leite de castanha de caju. As bebidas quentes terão preços entre R$3,90 e R$9,90. O menu contará, também, com nove bebidas geladas (latte – tradicional, com coco, com baunilha ou com caramelo doce e salgado -, espresso tônica, frappé de caramelo, frappé de chocolate e chocolate gelado) disponíveis em copos de 300ml ou 440ml, com valores que variam entre R$ 6,90 e R$ 18.
Para tornar a experiência ainda mais especial, a Coffee Box de Balneário Camboriú terá um cardápio exclusivo de drinks. São cinco opções: o Blue Iced, feito com Martini, Tônica e Blue Curaçao; o Green Apple Gin, que leva gin tônica e maçã verde; o Cherry, elaborado com espumante branco, espresso tônica e cereja; o Gin Tonic Lemon, com gin tônica, espresso e limão siciliano; e o Green Martini, feito com Martini, espresso tônica e maça verde. “Estamos muito felizes em fazer a Coffee Box se tornar parte de um dos cartões postais de Santa Catarina, oferecendo uma solução prática e saborosa para apreciar enquanto aproveita toda a beleza e atrativos que a cidade oferece com toda a excelência que o público merece”, completa Alex Barros.
Expansão nacional e internacional
A The Coffee, foodtech curitibana de cafés, recebeu aporte series A de R$ 28 milhões liderado pela Monashees e com a participação da Norte Ventures e Shift Capital. O investimento terá papel fundamental na estratégia de expansão nacional e internacional que a empresa planeja para 2021.
Fundada por três irmãos curitibanos, Alexandre Fertonani, Carlos Fertonani e Luis Fertonani, a startup nasceu com o objetivo de trazer uma nova experiência e conceito de cafeterias para o país. “Somos apaixonados pela cultura japonesa e depois de muitas viagens ao Japão, decidimos criar uma empresa que trouxesse a cultura To Go para nosso mercado”, conta Alexandre Fertonani, co-founder da The Coffee.
Os elementos da cultura japonesa podem ser vistos em todos os lugares, principalmente no que diz respeito a uso de tecnologia, alta qualidade e minimalismo. “Entendemos que a tecnologia é tão importante quanto o próprio grão do café”, afirma Fertonani. Ao chegar em alguma unidade The Coffee já é possível entender que a modernidade é uma realidade. “Queremos proporcionar uma experiência para nossos clientes desde o primeiro momento. Como não aceitamos dinheiro, o próprio consumidor faz o seu pedido no nosso tablet ou app mobile e finaliza o pagamento com cartão. Tudo de forma 100% intuitiva, moderna e dinâmica”, completa Alexandre.
Hoje, a foodtech tem 30 lojas abertas no Brasil – em Curitiba, São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte, Fortaleza, Blumenau e Balneário Camboriú. Mas com o aporte a expectativa é aumentar esse número para 100 estabelecimentos até o final de 2021. Segundo o co-founder, “por sermos minimalistas e usarmos tecnologia, nosso negócio pode ser escalável com maior rapidez e facilidade do que as cafeterias tradicionais”.
Além das demais capitais brasileiras e cidades com mais de 300 mil habitantes, outro foco da The Coffee é a expansão internacional e a primeira parada é o continente europeu. “Vamos começar por Espanha e Portugal para depois ir entrando em outros mercados. Além da questão financeira, existe todo um processo burocrático que deve ser respeitado para entrar num novo país, sem contar que as necessidades e forma de consumo de cada lugar é diferente também”, diz o co-founder. Serão duas lojas em Lisboa, duas em Madri e duas em Barcelona e a expectativa é que todas sejam inauguradas no primeiro trimestre de 2021.
As lojas também seguem um conceito minimalista e têm, em média, 6m². Esse design e arquitetura dos espaços, somados a tecnologia e a alta qualidade das bebidas oferecidas no cardápio deixam a marca ainda mais forte no mercado. “Prezamos muito pelo que construímos até aqui. Cada detalhe do logo, do menu do tablet, cardápio, embalagem foi pensado para que a The Coffee fosse mais que ‘mais uma cafeteria’. Nosso desejo é que nosso público seja mais que um comprador de produto. Seja parte de todo e compartilhe desse lifestyle que estamos desenvolvendo.
Além do aumento das lojas físicas, a foodtech também vai ampliar o canal de receita para um e-commerce, que deve ser lançado ainda esse ano. A loja vai vender produtos da marca, como os cafés especiais. “Com a loja online conseguiremos atender um público ainda maior e fortalecer ainda mais a marca da The Coffee pelo país”, conclui Fertonani.
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