O setor de embalagens vive momentos de muita inovação com uma grande certeza:
impossível criar valor para a embalagem sem sustentabilidade
Por Carlos Donizete Parra
A s crescentes demandas por sustentabilidade, custos e escala fazem o setor de embalagens permanecer em constante ebulição. Uma hora se destaca um tipo de material outra hora outro e, assim, vão se sucedendo lançamentos e inovações que movimentam toda a cadeia de supply.
O consumidor de alimentos e bebidas no Brasil é bastante sensível a preços, principalmente em momentos como o que vivemos agora de inflação e instabilidade econômica, sendo portanto o custo das embalagens um fator preponderante na decisão de lançamento de um novo produto. Tornando-se prioritário, inclusive, a questões tão fundamentais como a sustentabilidade. Algumas soluções precisam de adaptações ao nosso mercado para que possam surtir os efeitos desejados por todos os envolvidos na cadeia de consumo.
Fica claro que num contexto de mudança de hábitos e comportamentos dos consumidores, a embalagem tem papel fundamental na geração de valor e facilitação das operações e dos modelos de negócios.
Lata de alumínio atinge recorde de reciclagem
No Brasil, a reciclagem já apresenta índices altíssimos em materiais como a lata de alumínio que recentemente atingiu a marca histórica de 100% de reciclagem, segundo dados da Recicla Latas/Abal/ABRALATAS.
No ano passado, aproximadamente 31,85 bilhões de unidades de latas de alumínio foram recolhidas, totalizando cerca de 390,2 mil toneladas de sucata. Essa conquista do índice de 100% reflete uma evolução do país no setor, bem como uma atenção maior ao impacto ambiental que a produção de lixo possui. Esse processo também gera renda e empregos para catadores – muitos que têm a reciclagem como única fonte de renda. Atualmente, o Brasil conta com 36 centros de coleta mantidos pelo setor, atendendo 100% do território nacional. Os locais garantem a destinação adequada de toda sucata para a reciclagem. Mais de 800 mil catadores de materiais recicláveis são beneficiados com o programa de logística reversa de latas de alumínio gerando renda de mais de R$ 5 bilhões por ano.
PET avança com resina reciclada pós-consumo
O avanço do uso do PET reciclado pós-consumo para contato com alimentos e bebidas traz ganhos extraordinários para a cadeia produtiva de bebidas, assim como representa benefícios valiosos para a economia circular.
KHS
Produção flexível graças à troca mais rápida de boca na sopradora por estiramento. Graças ao novo e simplificado sistema de troca de boca, a KHS consegue agora reduzir o tempo necessário para fazer a conversão na sopradora por estiramento InnoPET Blomax – incluindo a alimentação das pré-formas.
O Brasil possui, atualmente, uma capacidade instalada de 1 milhão de toneladas de resina virgem de PET e capacidade de reciclagem de 480 mil toneladas de resina de PET.
Na questão da reciclagem, as dificuldades do PET ainda são inerentes à coleta e até mesmo à triagem dessas embalagens nos lixões.
De qualquer forma, o PET avança aumentando sua participação no mercado. Segundo dados da Abipet, o polímero cresceu 13% entre 2021 e 2022 e a chegada do PET PCR aumenta esse número para 32%.
Aumenta, portanto, a importância da reciclagem tanto na questão ambiental como comercial, afinal é mais uma opção de resina para o supply das empresas, especialmente as de bebidas.
Reutilizáveis e o refil
As embalagens reutilizáveis aparecem como uma solução rentável e sustentável tornando-se opção para a busca de um planeta mais possível de se viver. Elas ganham destaque, assim como o refil.
No Brasil, nos últimos anos, estamos acompanhando um grande número de produtos utilizando-se do refil com resultados muito interessantes, destacando nessa onda os produtos de limpeza. Em alguns casos são produtos concentrados que podem ser misturados e preparados pelo consumidor que ganha no custo e benefício, tendo em casa um produto que pode ser preparado e utilizado de acordo com suas necessidades e conveniência.
A França lidera um projeto de embalagens reutilizáveis onde os formatos são padronizados facilitando o uso na indústria. Até 2027, uma lei francesa determina que 10% das embalagens sejam reutilizáveis passando para 25% até 2030. Afim de estimular o cumprimento desses objetivos, o Governo francês concede benefícios fiscais e financiamentos para as empresas se adaptarem ao novo projeto.
Na França, a legislação proíbe a utilização, a partir de 2030,
de embalagens produzidas com materiais não recicláveis.
Uma tendência que deve ser acompanhada pela maioria dos países no mundo
Plásticos macios
Outro grande ponto de discussão e atenção são os plásticos macios (soft plastics), tradicionalmente utilizados no país para acondicionamento de açúcar, arroz, feijão, sorvetes e tantos outros produtos do setor alimentício. Na Austrália, as embalagens plásticas são coletadas separadamente de acordo com o tipo de plástico, inclusive a mesma embalagem pode ser descartada em locais diferentes, separando-se tampa e frasco por exemplo. Em algumas dessas cidades, os plásticos macios não podem ser descartados junto com o lixo e devem ser levados para lojas e pontos de coleta apropriados.
Papel é opção
O papel surge também como opção para diversas bebidas. Na Europa, uma embalagem de 5 litros para água mineral ganha espaço pela praticidade e o apelo sustentável. As garrafas de papel para cervejas e outras bebidas alcoólicas também são “testadas” em diversos países e em situações diferenciadas de consumo. Uma questão de hábito e persistência da indústria que pode gerar novas oportunidades para maior utilização desse material no setor de bebidas.
Soluções do dia a dia
Chamou nossa atenção recentemente um vídeo circulando no Tik Tok de uma linha de bags plásticos para água na África. É a indústria buscando soluções que possam atender as demandas daquele mercado específico. No Brasil, a indústria de água envasada também busca seus caminhos para tornar o produto viável economicamente e mais acessível ao consumidor. Um fabricante de Minas Gerais comercializa um stand up pouch de 335ml para água adicionada de sais destinada, principalmente, para eventos esportivos. Em outro estado brasileiro uma envasadora comercializa bags de plástico de 12 litros para água como opção aos garrafões de 20 litros tradicionalmente encontrados por todo o país. Essas embalagens devem obedecer às exigências legais e regulatórias regidas pelas leis brasileiras.
Retornáveis
A garrafa de vidro retornável é outro movimento fundamental nesse processo de redução de custos e sustentabilidade. Nas indústrias essa embalagem pode ir e voltar mais de 20 vezes garantindo economia de custo e redução de resíduos nas fábricas. Uma facilidade operacional com impacto direto no meio ambiente.
A Ambev acaba de anunciar uma operação conjunta com o Zé Delivery garantindo a troca das garrafas vazias na casa do consumidor. O objetivo é reconstruir esse hábito perdido há décadas no Brasil.
A tentativa é muito louvável já que o consumo de retornáveis é uma prática comum em bares e restaurantes, porém uma dificuldade no consumo dentro de casa, mas extremamente importante para a economia circular do vidro.
Fatores de decisão
Por fim, é fundamental entender que a sustentabilidade desponta como um dos pilares do mercado de bebidas e, por isso, aumenta cada vez mais a utilização de embalagens alternativas que poluem menos o meio ambiente e que atendam os desejos do consumidor. No entanto, o custo ainda aparece como fator decisivo para consumidores e indústrias o que torna essencial a pesquisa e a inovação para que se possa encontrar alternativas razoáveis para as demandas desse mundo sempre mais complexo e inusitado.