A triagem e a reciclagem de resíduos sólidos no Brasil foi nos últimos anos um dos temas mais abordados, mas também um dos mais controversos. A verdade é que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei 12.305 promulgada em Agosto de 2010, não teve o desenvolvimento que se esperava inicialmente. Um dos principais objetivos desta lei, recorde-se, seria evitar que o material fosse para os aterros, reduzindo os riscos e os danos ambientais. No entanto, seis anos depois, pouco foi feito e é preciso alertar o país para esta realidade.
De acordo com a PNRS, as metas referentes aos resíduos sólidos urbanos que foram inicialmente propostas, diziam que em 2014 haveria a eliminação total dos lixões no Brasil. Ora, o mesmo não aconteceu e a realidade mostra que este fim ainda pode estar muito longe, se nada for feito. A plena vigência da PNRS, que deveria ter acontecido em 2014, não foi suficiente para mudar a cultura de produção e gestão do lixo no Brasil. Esta é a avaliação do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, sobre os dados do Panorama Dos Resíduos Sólidos no Brasil. O documento mostra que, entre 2010 e 2014, a geração de lixo cresceu 10,36%.
“Nem mesmo com a edição da PNRS, que traz entre os princípios, como primeira ação na hierarquia dos resíduos, a minimização da geração, a gente percebe que isso ainda não está em curso. Nós ainda estamos em linha de crescimento de geração [de lixo], tanto no total quanto per capita”, destacou ele. A média brasileira de produção de lixo por pessoa é 1,062 quilo (kg) por dia, de acordo com as últimas estatísticas.
Entre os entraves para o funcionamento da PNRS, Carlos Filho aponta falta de vontade política dos gestores municipais, pouca capacidade técnica para viabilização da solução adequada e recursos. “Não adianta dar mais prazo, não adianta estender a lei. O que precisa é conjugar esses três fatores e colocar isso em prática. Do contrário, vamos continuar sofrendo com uma gestão inadequada”, declarou. Para ele, dar mais tempo para cumprimento da lei pode agravar problemas ambientais já registrados hoje, como contaminação do solo e águas.
A pesquisa aponta que mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no país, em 2014, tiveram como destino lixões e aterros controlados – locais que oferecem riscos ao meio ambiente e à saúde. A PNRS preconiza o fim dos lixões. No entanto, de acordo com a pesquisa, 3.334 dos 5.570 municípios brasileiros ainda mantém este tipo de estrutura. A maioria delas são cidades pequenas e médias.
O mercado mundial e a aposta nos grandes investimentos
A reciclagem é um dos assuntos que têm gerado mais preocupação em nível mundial. A aposta mundial está voltada, nos últimos tempos, para os grandes investimentos em alta tecnologia que permitem uma grande recuperação dos materiais, com menos recursos. Um exemplo interessante é a planta Ecocentral Granada, na Espanha.
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Localizada em Alhendín (Granada), com capacidade nominal de 450 mil t/ano, é uma das principais plantas de recuperação de resíduos na Espanha. Ao todo são quatro linhas de tratamento com capacidade de processar 30 t/h, equipadas com 10 separadores automáticos AUTOSORT da TOMRA. As linhas de processamento são agrupadas duas a duas de forma simétrica permitindo que a planta trabalhe com dois tipos diferentes de materiais ao mesmo tempo, com estabilidade e versatilidade do processo.
A Ecocentral Granada dá trabalho diretamente a cerca de 190 funcionários e trata os RSU gerados por 144 municípios (812.000 habitantes), assim como os recipientes recolhidos de forma seletiva de toda a província (923.000 habitantes). A recuperação de RSU da Ecocentral em 2015 foi de 10,80% da entrada total, o que equivale a 38.525 toneladas de materiais recicláveis recuperados. A este número soma-se ainda outras 5.670 toneladas de materiais recicláveis recuperados da coleta seletiva, com uma eficiência de recuperação de cerca de 72,5%.
A automatização e as últimas alterações na Ecocentral Granada fizeram da planta uma referência na Espanha, e um bom exemplo de alta performance de recuperação com a inclusão das tecnologias avançadas para o tratamento de Resíduos Sólidos de forma determinante no aumento de eficiência e na melhoria da gestão. Entre essas melhorias tecnológicas introduzidas figuram os equipamentos de classificação baseadas em sensores AUTOSORT da TOMRA.
Atualmente, a planta dispõe de 10 unidades AUTOSORT, sendo 4 equipamentos instalados na linha da fração rolante de duas linhas do processo, outros 4 equipamentos estão em paralelo também instalados na linha da fração rolante nas outras duas linhas simétricas, e os 2 equipamentos óticos estão instalados para a recuperação de embalagens e para a recuperação de papel e papelão no rejeito de todas as quatro linhas.
Segundo explicou Ricardo Alonso Pérez, Engenheiro de Serviço de Resíduos da Ecocentral Granada: “Com a introdução dos AUTOSORT a recuperação de papel e papelão teve um aumento de recuperação de 0,8% a 1% sobre o total da entrada da planta. Atualmente se recuperam por turno entre 5 a 8 toneladas de papel e papelão de grande qualidade”.
Quanto à recuperação de outros materiais como o PET, o PEAD,a caixa de bebida etc: “as vantagens vão desde a alta disponibilidade e alta eficiência de separação, estabilidade e versatilidade para poder separar novos produtos demandados pelo mercado, trocar os produtos a serem selecionados ou reconfigurar a cascata de seleção dos materiais em caso de tratamento de diferentes fluxos de materiais (RSU ou coleta seletiva, por exemplo”, afirmou Alonso.
A ponte para o mercado brasileiro
A Ecocentral Granada é apenas um dos muitos exemplos de plantas que estão optando pela automatização de processos com equipamentos da TOMRA Sorting Recycling. São mercados mundiais com grandes semelhanças ao mercado brasileiro, pela quantidade de lixo que produzem. No entanto, o Brasil ainda está uns passos atrás, no que diz respeito, a grandes volumes de recuperação de materiais recicláveis, ou seja, através de plantas de processamento de alta capacidade de resíduos.
Apesar da grande relutância das empresas brasileiras, muito por causa do nível de investimento elevado, a verdade é que essas plantas automatizadas são economicamente viáveis, mesmo no mercado brasileiro que está em ascensão. Só pelo fato de permitir recuperar recicláveis que estão em falta no país, devia ser uma das prioridades da política brasileira, assim como das próprias empresas, que iriam obter resultados mais rápidos e ver assim o investimento devolvido a médio prazo.