Marcha lenta em 2015

O esperado recorde da safra agrícola no Brasil não deverá puxar o setor de caminhões em 2015

Orlando MerluzziA MA8 Management Consulting Group avaliou os impactos no mercado brasileiro de veículos comerciais após a divulgação da nova equipe econômica. De acordo com Orlando Merluzzi, presidente da consultoria, “o mercado de caminhões vai andar de lado em 2015 por várias razões e o FINAME não será o vilão desta vez”.

As incertezas de curto prazo na economia farão o empresário parar no primeiro semestre do ano para analisar o contexto do cenário econômico do País. Para Merluzzi, maiores volumes de compras devem acontecer apenas no segundo semestre, “mas em ritmo moderado”.

Segundo avaliação da consultoria, o anúncio da nova equipe econômica do governo é, sem dúvida, uma luz no fim do túnel. Os primeiros sinais indicam um tratamento de choque ortodoxo e isso deve ser seguido de aperto monetário, dificuldade no crédito e aumento dos juros. Tudo para equilibrar as contas e segurar a inflação. “Não é de todo mal, mas fará com que os empresários parem para observar o sentido dos ventos no início do ano, lembrando que o ano para o setor só começa em março”, comenta Merluzzi, alertando que não há nenhum fator mágico no horizonte de 2015 que faça a indústria de caminhões acelerar. “Não deve haver expansão de negócios que demande mais caminhões e nem o esperado recorde da safra agrícola afetará positivamente o setor, pois os preços das commodities agrícolas devem continuar caindo e o crédito ficará mais escasso”.

A MA8 considera que o FINAME deve voltar logo, seja convencional ou PSI, com juros um pouco mais alto, dependendo de repasse do governo ao BNDES e também de regulamentação para os operadores. A consultoria destaca que o ano deve ser marcado pela seletividade dos bancos na aprovação de crédito. Há um setor da indústria de caminhões que não depende do FINAME e que representa cerca de 15% adicionais no volume reportado pela ANFAVEA. São os caminhões semi-leves vocacionados com carroceria sobre chassi. “Esse segmento também enfrenta dificuldades na aprovação de crédito bancário e quem pode comprar à vista vai empurrar a decisão de compra mais para frente”.

Quanto à agricultura, a safra agrícola de grãos continuará em expansão. “Mas utilizar o jargão da safra recorde da agricultura para justificar um aumento de volumes no segmento de caminhões pesados em 2015, pode ser um equívoco”, destaca Merluzzi. A MA8 Consulting identificou que mais de 25% do frete no setor agrícola é contratado na hora da colheita por quem não tem estrutura para armazenamento de grãos e precisa movimentar sua safra.

Ocorre que os preços das commodities agrícolas estão despencando e o Brasil tem um déficit de armazenagem (silos) de aproximadamente 20% da safra, ou seja, cerca de 40 milhões de toneladasDe acordo com a consultoria, os produtores rurais hoje enfrentam margens de lucro muito apertadas e incertezas econômicas também nos mercados externos, uma vez que países europeus e a própria China desaceleraram. Este cenário, afeta a decisão dos agricultores em fazer novos investimentos. “E se tiverem que decidir, provavelmente vão optar primeiro em silos para armazenagem e depois em caminhões”. Em adição a isso, muitos produtores agrícolas estão endividados e com a redução da rentabilidade, a seletividade dos bancos para financiamento vai aumentar.

A expectativa é que a indústria ande lateralmente, com algum soluço de crescimento esporádico em um mês ou outro e efeitos colaterais nos meses seguintes, “a não ser que tenhamos um fator inesperado de aceleração da economia e do mercado, mas o sistema financeiro para o setor de caminhões não costuma ser uma entidade beneficente e se a capacidade de tomada de crédito e de pagamento dos consumidores apresentar qualquer risco, os bancos travam”.
A responsabilidade sobre a concessão e operação do crédito é também um dos entraves que impedem um programa de renovação da frota de decolar no Brasil. “No momento de conceder o crédito e administrar o risco com o caminhoneiro autônomo, que é o elo da cadeia que compra o caminhão usado e faz movimentar a venda do caminhão novo, as instituições financeiras não querem bancar isoladamente”.

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