Empreendedores precisam buscar
conhecimento sobre as diversas fontes
de financiamento disponíveis
As startups de base científica e tecnológica (deeptechs) dispõem hoje, no Brasil, de todas as fontes de financiamento necessárias para apoiar seus projetos de inovação, em diferentes estágios de desenvolvimento. É preciso, contudo, que saibam pleitear os recursos de forma estratégica, avaliar o momento oportuno e levar em conta os níveis de maturidade e risco, além de escolher os melhores parceiros.
A avaliação foi feita pelos participantes da mesa-redonda “Da ideia ao mercado: fontes de financiamento a projetos de inovação tecnológica no Estado de São Paulo”, promovida pela FAPESP e o Instituto do Legislativo Paulista (ILP).
O evento fez parte da abertura da Expo PIPE-FAPESP – Inovação, empreendedorismo e impacto –, mostra de soluções inovadoras e de alto impacto tecnológico desenvolvidas por 19 startups apoiadas pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/52750).
“Se olharmos para o ecossistema de investimento em startups no Brasil há dez, 15 anos, veremos que não era completo. Uma startup que precisasse fazer uma captação de investimentos de série A [a primeira rodada de financiamento após o estágio inicial de investimento, conhecida como série-semente ou seed] ou B [a terceira etapa de financiamento de investidores-anjo] tinha de ir para fora do país e enfrentava muita dificuldade de acessar os instrumentos. Hoje o mercado está supercompleto, ou seja, o ciclo fechou. As startups conseguem inicialmente sair de uma agência de financiamento, como a FAPESP, depois ir para um grupo de anjo, pegar dinheiro de fundos de investimentos e vender a empresa, tudo aqui dentro do Brasil”, avaliou Flavio Levi Moreira, diretor de investimentos da Anjos do Brasil.
Em uma fase inicial, as deeptechs podem buscar fomento de programas como o PIPE, da FAPESP. À medida que forem crescendo, é preciso que passem a diversificar suas fontes de financiamento, ponderou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP.
“Agências de fomento como a FAPESP têm um papel importante nesse sistema [de financiamento de deeptechs] porque a vida inicial de um empreendedor não é simples e o mercado não tem produto para esse seed money. Mas a gente brinca que o PIPE é o ‘jardim de infância’ das startups. À medida que se tornam grandes, elas têm de ir para a Desenvolve São Paulo ou para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], por exemplo”, avaliou Pacheco.
O objetivo da Desenvolve São Paulo, uma agência de fomento paulista, é financiar ideias que não apresentam todas as garantias exigidas tradicionalmente no mercado de crédito, explicou Ricardo Brito, diretor-presidente da instituição.
“Nossa missão é transformar ideias em nota fiscal. Não queremos saber o fluxo de caixa das startups [em estágio inicial], mas a expectativa de receita. Gostaríamos de ver os recursos dos quais dispomos saindo mais para inovação”, afirmou Brito.
Após emitir as primeiras notas fiscais, as startups podem se habilitar a rodadas de investimentos como as organizadas pela Anjos do Brasil, sugeriu Moreira.
A rede de investidores composta por 550 membros, situados em todo o país, que já realizaram mais de 200 investimentos e avaliaram mais de 10 mil startups, foi uma das selecionadas pela FAPESP para operar rodadas de captação de empresas apoiadas pelo PIPE. Por meio da parceria, empresas egressas do programa poderão se habilitar para receber aportes.
“Na cadeia de investimentos de startups, a Anjos é a organização que, normalmente, concede o primeiro cheque ao empreendedor, cujo valor varia de R$ 300 mil a R$ 1 milhão, quando a empresa está emitindo suas primeiras notas fiscais. E somos uma organização agnóstica [sem teses definidas de mercado]. Investimos em govtechs, agritechs, fintechs e editechs, e também estamos fazendo um coinvestimento com a SP Ventures em empresas do agro”, afirmou Moreira.
Vale do Silício do agro
Gestora do Fundo de Inovação Paulista, lançado em 2014, com recursos da ordem de R$ 150 milhões para investir em empresas no Estado de São Paulo, a SP Ventures é a maior investidora em startups do agronegócio da América Latina, afirmou Francisco Jardim, sócio-fundador da empresa.
“Temos mais de meio bilhão de reais de startups nessa área e colocado muitos investimentos na região de Piracicaba, que vem se transformando no vale do Silício do agro”, avaliou Jardim.
Segundo o executivo, tem sido cada vez mais observada uma intersecção de tecnologias voltadas a oferecer soluções para o agronegócio, como a de biotecnologia, aeroespacial e inteligência artificial.
“Dentro do agronegócio, segregamos oportunidades geradas dentro e fora da porteira em áreas como ciências da vida em tecnologias vinculadas ao agro e temos investido em empresas que têm se mostrado vitoriosas nessa cadeia”, disse.
Uma das startups do setor apoiadas pelo Fundo de Inovação Paulista e egressa do PIPE foi a InCeres. Situada em Piracicaba (SP), a agritech, que utiliza inteligência artificial para prever a fertilidade do solo, foi comprada recentemente pela empresa sueca Husqvarna.
“Há várias empresas na carteira do PIPE cuja saída de sucesso foi ser adquirida por uma grande empresa. Isso também possibilita ter um ganho de capital significativo”, avaliou Pacheco.
Novas formas de apoio
A FAPESP já investiu, por meio do PIPE, mais de um R$ 1 bilhão para financiar projetos de inovação de deeptechs paulistas, espalhadas por mais de 160 municípios do Estado de São Paulo, sublinhou Marcio de Castro, diretor científico da FAPESP.
“O PIPE tem o objetivo de apoiar a pesquisa tecnológica e inovativa para promover o desenvolvimento e a competitividade dessas pequenas empresas, gerando renda e empregos no Estado de São Paulo”, explicou o dirigente.
A fim de ajudar as startups apoiadas pelo PIPE a ter acesso a outras fontes de financiamento após passarem pelo programa, a FAPESP lançou nos últimos anos um conjunto de iniciativas, como participação em fundos de investimentos e cadastramento de redes de investidores-anjo (leia mais em: pesquisaparainovacao.fapesp.br/2873).
“Estamos tentando criar instrumentos que acompanham o ciclo de vida das empresas apoiadas pelo PIPE lá na frente, por meio da construção de fundos de investimentos com parceiros privados, a seleção de investidores-anjo que façam rodadas de investimentos em empresas egressas do programa e mecanismos de crowdfunding”, disse Pacheco.
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