Fonte de inspiração, inovação e networking

Dirigido a profissionais da indústria de bebidas,o Beverage Revolution Day, promovido pela Engarrafador Moderno, trouxe os melhores especialistas
do mercado para indicar tendências e perspectivas para o setor

| KATHLEN RAMOS |

A revista Engarrafador Moderno promoveu, entre 27 e 28 de novembro, o Beverage Revolution Day. Com a proposta de reunir as principais empresas do País relacionadas ao setor de bebidas e embalagens, o evento, que recebeu cerca de 150 convidados, apresentou como ideia central em sua 2a edição, a revolução dos negócios por meio da transformação digital e da inovação.

Com o patrocínio da ABB, Döhler, KHS, Krones, LanXESS, Mayekawa, Mcpack, Pall, Prozyn e Ve-rallia; e com o apoio da Frescca, NewAge, Ravache e Ruvolo, o encontro, realizado no Green Place Flat Ibirapuera, em São Paulo, serviu de fonte de inspiração e experimentação para todos os envolvidos. Acompanhe os principais momentos.

Desafios das grandes indústrias Um dos palestrantes do primeiro dia do Beverage Revolution Day foi o VP Digital Transformation da Coca-Cola, Flavio Camelier, que abordou “A transformação dos negócios através do digital”. Durante a palestra, entre outros insights, o executivo apontou o potencial de aplicativos (apps) que servem como delivery de refeições, a exemplo do iFood, e como a indústria de bebidas pode ser beneficiada. “O iFood registrou 10 milhões de transações por mês (até outubro). Mas um app similar da China, o MeituanDianping, alcança 20 milhões de transações diárias. Eles têm, assim, 1,2 pedidos por e-shopper/dia enquanto o iFood tem 0,15. Portanto, a oportunidade é exponencial”, diz. Ele exemplifica que as indústrias de bebidas podem entrar nesses aplicativos de diversas formas, sendo que uma delas é o beverage reminder, no qual o consumidor, antes de finalizar a compra, é lembrado que não pediu a bebida e pode ter mais essa opção de compra.

Outra estratégia da Coca-Cola tem sido a integração de dados da empresa usando a inteligência do Google Analytics, para trazer análises muito mais complexas e precisas. Nesse momento em que a companhia aposta em colocar mais geladeiras da marca no mercado, essa integração de dados permite, por exemplo, cruzar os pontos de venda (PDVs) que atingem os melhores resultados, com aqueles que registram maiores fluxos de pessoas pela cidade, indicando, assim, lojas com amplo potencial para receber esses equipamentos. Na sua apresentação, Camelier também reforçou os esforços da companhia em reduzir o tempo de inserção de novos produtos no mercado, passando de 18 meses para apenas quatro. O experimento foi feito com Del Valle Reserva, para que a empresa entrasse rapidamente no mercado de bebidas inovadoras que, hoje, apresentam grande potencial de crescimento no País.

A Coca-Cola também participou do segundo dia do evento, com a apresentação do gerente de engenharia da Coca-Cola Andina, Fausto Padrão Jr., que apresentou o processo de construção da nova fábrica em Duque de Caxias (RJ), com o tema “Transformando sua fábrica de bebidas: lições de quem já chegou lá”. Entre os principais recursos disponibilizados por esse projeto inovador está o de tornar a fábrica um espaço de produção flexível, que permita a expansão da empresa e com um layout otimizado e ambientalmente amigável. Essa fábrica, desenvolvida diante dos conceitos da Indústria 4.0, trouxe vantagens como redução de tempo de máquina parada, melhor uso de ativos, economia de insumos, mais eficiência na produção, grande capacidade de análise de dados, possibilidade de rastreabilidade de produtos e eventos, entre outros benefícios. Segundo o executivo, foram US$ 150 milhões de investimentos na planta que hoje, é capaz de produzir 400 milhões de litros anuais.

Aliados tecnológicos A aplicação de novas tecnologias para otimizar os processos de produção da indústria de bebidas também foi um assunto amplamente difundido durante o Beverage Revolution Day. O Application Head for Food & Beverage Segment da ABB, Marcello Gulinelli, que discursou sobre “Soluções inovadoras para os desafios da indústria de bebidas na era digital”, trouxe a reflexão de que o consumidor quer saber a origem e composição do produto, qualidade e segurança, inclusive, pagando mais caro por quem oferece esses diferenciais. “Antes, a indústria produzia um artigo e colocava na gôndola. Hoje, de alguma forma, o consumidor pede, a empresa faz e ganha quem sai na frente”, comenta Gulinelli. Diante desse cenário, o executivo apresentou como a ABB, multinacional que atua em diversas áreas de tecnologia, entre elas energia e automação, está envolvida nesse novo comportamento, trazendo soluções que podem ajudar na segurança de dados, na manutenção preditiva e na qualidade da produção.

Na apresentação da KHS, companhia fornecedora de sistemas de envase e embalagem, o gerente comercial, Marcelo Martini, traçou uma linha do tempo, relembrando a evolução do envase de bebidas com embalagens PET e mostrando como a indústria 4.0 contribui nesse processo. “Com esse advento, as fábricas não precisam mais ter um acúmulo de máquinas, já que elas conversam entre si, favorecendo a redução de layout”, conta. Ele cita como exemplo, as máquinas tribloco, que contemplam sopradora, rotuladora, enchedora, embaladora e paletizadora. Ele afirma que a KHS está revolucionando esse mercado com um novo equipamento que, inicialmente, pode ser usado apenas em bebidas não-carbonatadas. “Com essa tecnologia, ao invés de soprar a garrafa e encher, já é possível formar a garrafa diretamente com o líquido e tampar, tudo numa única máquina”, revelou. Essa nova solução, que deve estar disponível para venda a partir do segundo semestre de 2019, também promete a redução de 59% de energia em relação ao método tradicional.

No segundo dia do evento, a Krones, que atua no fornecimento de linhas de engarrafamento para bebidas, também abordou o universo digital com o tema “Novas tecnologias para linhas de envase com foco em inovação e flexibilidade”. O diretor comercial da empresa, Silvio Rotta, apresentou novos equipamentos da empresa que trazem benefícios para a indústria de bebidas. Entre eles, o Dynafill, enchedora que pode reduzir o tempo do processo de envase em 50%, encurtar distâncias e substituir equipamentos que costumavam apresentar duas unidades (enchedora e tampadora) em apenas uma. O equipamento também garante o envase de uma garrafa de 500 mL em apenas meio segundo.

Filtração e esterilização “Microfiltração na indústria de bebidas” foi o tema escolhido pelo Brewing Market Manager Latin America da Pall Corporation, André Trombe, que trouxe, em sua palestra, uma reflexão sobre o atual momento da indústria de bebidas, que se vê forçada, pelos consumidores, a produzir artigos cada vez mais naturais, como sucos e águas de coco. “As bebidas saudáveis foram resistentes à crise e, com a retomada econômica, devem continuar em ascensão no mercado”, disse, acrescentando que, para garantir a qualidade de produtos como água de coco, eliminando a adição de conservantes, o processo de filtração é fundamental. Ele aproveitou a ocasião para apresentar algumas das soluções da Pall, fornecedora global de produtos de filtração, separação e purificação, e que se mostram alternativas por exemplo ao tratamento térmico e pasteurização a alta pressão para a água de coco pura. Para tanto, são usados uma combinação de filtração tangencial e filtros de membrana de cartucho, que fornecem uma solução confiável e econômica.

Já o gerente comercial da LanXESS, companhia que atua nos setores químico e de polímeros, Cristiano Otte, falou sobre o tema “Preservando sua bebida no mercado moderno”e, entre outros insights, apresentou os principais fatores de contaminação microbiológica das bebidas e a opção de esterilização com Velcorin, que pode ser aplicado em bebidas não alcoólicas, carbonatadas ou não, e também alcoólicas, como vinhos e cidras. Segundo Otte, essa solução traz alguns benefícios, como efetividade contra microorganismos, nenhum efeito no sabor e cor da bebida, boa relação custo-benefício, compatibilidade com todos os tipos de embalagens, entre outras vantagens. Além disso, pode trazer diferenciais, inclusive, na composição. “Com o Velcorin, é possível diminuir a quantidade de benzoato de sódio nos compostos, reduzindo, por consequência, o sódio”, conta.

Momento de reinvenção No segundo dia do Beverage Day, a tendência de saudabilidade na indústria de bebidas foi novamente reforçada, agora pelo diretor-presidente da Famiglia Zanlorenzi, Giorgeo Zanlorenzi, que apresentou a palestra “Investimentos em tecnologia e processos para gerar novos negócios através da diversificação do portfólio”. A empresa, que por muitos anos foi reconhecida apenas pelo mercado de bebidas alcoólicas, com destaque aos vinhos, se reposicionou no mercado, apresentando novas opções ao consumidor. Assim, em 2015, por meio da marca Campo Largo, desenvolveu a primeira fábrica de suco integral, sem adição de açúcares e conservantes. Logo na sequência, em 2016, passou a produzir sucos funcionais, feitos com os mais diversos ingredientes, como gengibre, espinafre, hortelã e outros, sempre voltados a quem procura bebidas saudáveis e com benefícios adicionais para o dia a dia. Na mesma toada, surgiram as linhas de chás funcionais, a base de chá verde e adoçados com stevia; e kombuchas, bebidas a base de chás e fermentadas naturalmente. “Todo nosso portfólio está muito focado na saudabilidade”, disse Zanlorenzi.

O gerente comercial da New Age Bebidas, Edison Nunes, também abordou a inovação da indústria com o tema “Reinventando os negócios: ideias e alternativas multiplicando os resultados”. Ele apresentou um pouco da história da empresa no mercado e como ela tem feito para se reinventar e inovar ao longo dos anos. A companhia, que nasceu em 1988, no interior de São Paulo, produzindo e distribuindo sob licença as marcas internacionais Schweppes, Crush e Gini, além dos refrigerantes Guaraná Cruzeiro e Soda Limonada Galeguinha, hoje, produz e comercializa 284 produtos diferentes. “Velocidade é incrível, especialmente no verão, onde os clientes nos procuram para produtos específicos”, afirmou Nunes. Além de envasar bebidas para terceiros, a New Age também detém suas próprias marcas, como o Tampico. “As marcas próprias representam, hoje, mais da metade do faturamento da companhia”, diz. Já o tradicional Guaraná Cruzeiro, por exemplo, que tem 70 anos, ganhou uma nova roupagem, realçando o fato de ser uma marca vintage. “Estamos envazando memórias da infância”, destacou. Aliás, uma das ideias da empresa foi o desenvolvimento de rótulos usando a foto dos consumidores.

Inovação e gestão Quem abriu o segundo dia do Beverage Revolution Day foi o consultor Homero Guercia, da Guercia & Guercia Consultoria, que com o tópico “Excelência na Indústria de Bebidas”, mostrou, como conquistar excelência nesse mercado. Para ele, independentemente de implantar ou não a metodologia TPM (Total Performance Management, em português, gestão de performance total), o segredo está na gestão. “A empresa pode investir nas mais modernas tecnologias e contratar especialistas, mas se não tiver gestão, não alcançará os resultados esperados. Só se alcança bons resultados quando se tem a cultura da excelência incorporada no negócio”, analisou. Ele lembrou que são elementos comuns em empresas de excelência a estratégia definida, gestão eficiente, processos capazes (robustos e estáveis) e pessoas certas e capacitadas.

Também no segundo dia, com o tema “Inovação, transformação digital e economia circular: O imperativo da competitividade sistêmica”, o gerente de Inovação do Centro Internacional de Inovação do Sistema Fiep, Filipe Miguel Cassapo, trouxe uma reflexão sobre a inovação que, segundo ele, deve ser o coração de qualquer estratégia. Também convidou os participantes a imaginarem a inovação disruptiva, inclusive no setor de bebidas. “O que impede de, no futuro, as indústrias venderem para as pessoas a capacidade de realizarem suas próprias bebidas? Seria a desmaterialização dos negócios”, comentou.

Comportamento do consumidor Num momento em que o consumidor é o centro de quaisquer estratégias de sucesso, o primeiro palestrante do encontro, fundador do Narita Design & Strategy, Mario Narita, discursou sobre o tema “Embalagem: conexão efetiva com o ser humano gera vendas”. Na apresentação, Narita falou sobre sua metodologia própria, chamada Processo Límbico. Ela defende que para se ter uma efetiva conexão com o consumidor, é necessário, primeiro, vê-lo como um ser humano, para então desvendar a emoção latente que irá sensibilizá-lo. Só assim a atenção desse público será despertada e ele se abrirá para a mensagem emitida. Segundo Narita, sem o acolhimento dessa emoção, qualquer tentativa de diálogo será em vão.

Já a Verallia, com a palestra de Camila Machion, falou sobre “Como o comportamento do novo consumidor impacta o consumo de bebidas”. Camila explicou as transformações nos hábitos de compra e como se dá o relacionamento do público com as marcas. Ela reforçou que o consumidor deve ser o protagonista das estratégias de negócios e que ele busca, cada vez menos, ter, mas viver experiências. Camila comentou, ainda, que, nesse cenário, os 4 ‘Ps’ do marketing, passaram por uma grande transformação. O primeiro P, de Produto, passou a ser Problema, já que só se ganha, hoje, resolvendo dificuldades do consumidor. O segundo, de Praça, passou a ser Perseverança; o Preço se tornou Percepção de valor; Promoção agora é Propósito e, há um quinto P, de Pessoas. “Cem por cento dos clientes são pessoas. O que muitas marcas não aceitam é levar em consideração as reclamações do consumidor”, alertou.

Evolução na indústria cervejeira Os sócios-proprietários da Bierland, Eduardo Krüger e Rubens Deeke, foram responsáveis por mostrar as mudanças na indústria cervejeira ao longo dos anos. “Cervejas Especiais x Cervejas Mainstream: Produtividade e Padronização” foi o tema desenvolvido pelos especialistas, que traçaram uma espécie de linha do tempo sobre esse mercado, falando sobre o surgimento, abertura, crescimento, transformação e futuro deste setor. Eles enxergam que o mercado vive um momento em que tanto as grandes indústrias de cervejas quanto as micro disputam o mesmo espaço e que há uma pressão para que surjam produtos de qualidade, por preços competitivos.

No segundo dia do Beverage Revolution Day, as cervejas voltaram ao centro das atenções. O diretor industrial do Grupo Petrópolis, Diego Gomes da Silva, abordou o tema “Como atender os consumidores de cervejas especiais. Adequação das grandes cervejarias ao movimento das artesanais”. Ele começou apresentando um pouco das operações do Grupo Petrópolis, que hoje detém marcas como Crystal, Petra, Itaipava, Lokal Bier, Black Princess e Weltenburger Kloster, e também exibiu alguns números sobre cervejarias artesanais no Brasil. Segundo ele, hoje, o País possui 679 empresas com esse perfil sendo que, só em 2017, foram 91 novas unidades, e que 83% delas estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste. “As microcervejarias tiveram um papel fundamental na disseminação da cultura e valorização da categoria”, comentou. Ele citou ainda que, no mercado nacional, os principais influenciadores nas compras de cervejas artesanais são os amigos, seguidos pelo estilo da cerveja, preço, marca e premiações do produto. Para participar desse mercado, considerado extremamente promissor, o Grupo Petrópolis desenvolveu o Centro Cervejeiro da Serra, espaço que funciona como polo de pesquisa e desenvolvimento de rótulos especiais.

Também no segundo dia do evento e fechando o ciclo de palestras, o sócio-proprietário da Cervejaria Leuven, Gustavo Barreira, propôs o tema “A utilização de novos modelos de investimentos para expansão dos negócios cervejeiros”. Um dos assuntos de destaque apresentados por Barreira foi como o Crowdfunding ajudou (e ainda ajuda) na constituição da empresa, modelo que aceita investidores menores (com aporte de R$ 15 mil, por exemplo) e proporciona uma relação mais próxima com essas pessoas que, de alguma forma, também ajudam a divulgar a companhia no mercado. “É como se fosse uma empresa de capital aberto, que precisa prestar contas, mas não temos ações em bolsa”, exemplificou Barreira.

Degustação de sabores Jane Vieira, diretora de marketing da Döhler, empresa que atua no mercado de ingredientes alimentares, proporcionou uma experiência diferenciada aos participantes do Beverage Revolution Day. Com o tema “A transformação da cadeia de laranja: experiência sensorial”, ela apontou como são desenvolvidos os mais diversos tipos de aromas da laranja, desde os mais frescos, até os mais intensos, usando diversas partes da fruta. Na empresa, as matérias-primas têm origem em 100% fruta (ou plantas) e são processadas diretamente no local, nas melhores regiões de cultivo do mundo. Assim, garante-se os ingredientes mais puros para sua aplicação.

Quem também instigou os convidados para a degustação de seu produto foi o diretor e fazendeiro do Café Santa Mônica, Arthur Moscofian, com o tema “O café do futuro: investimentos em qualidade, diferenciação e numa nova geração de consumidores.” Ele reforçou que o café da marca, cultivado na própria Fazenda Santa Monica, na nobre região do sul de Minas Gerais está, hoje, entre os melhores do mundo. A tecnologia também é grande aliada na qualidade dos grãos, já que máquinas a laser conseguem captar aqueles que não estão adequados para a produção. Entre as inovações da empresa apresentados durante o evento está o Drip Coffee Santa Monica, considerado um “café de bolso”, já que é composto por um sachê de café moído com hastes flexíveis que se encaixam nas bordas de copos ou xícaras, permitindo que a bebida seja coada na hora. “Por ser embalado individualmente, o consumidor pode levar sua dose de café para onde quiser”, lembrou o executivo.

Já o diretor executivo e científico da Smart Yeast Pesquisa e Desenvolvimento, Cauré Portugal, usando o tema “Leveduras não-convencionais e customizadas: inovação e aplicação na indústria de bebidas fermentadas e destiladas”, comprovou, na sua apresentação, que esses fungos também podem ser usados para indústrias que estão em busca de aromas diferenciados, pois a fermentação das leveduras pode trazer impressões, sensações e novos sabores. “O consumidor está em busca de muito mais que uma bebida, mas de conteúdos”, concluiu.

 

 


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