Ação milionária, reação inestimável

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Projeto vai contribuir com a redução do impacto da atividade industrial e para a conservação dos recursos naturais e do meio ambiente

Quinta maior indústria de laticínios do País, o Laticínios Bela Vista possui um portfólio com mais de 100 produtos distribuídos nas marcas Piracanjuba e Pirakids, comercializados em todas as regiões do Brasil. Com faturamento de 2 bilhões de reais e capacidade de processamento de 4,3 milhões de litros de leite por dia, gera mais de 2 mil empregos diretos e possui três unidades fabris, localizadas em Bela Vista de Goiás (GO), Maravilha (SC) e Governador Valadares (MG).

Ciente da importância do uso adequado dos recursos naturais na produção de alimentos, o Laticínios Bela Vista investiu cerca de R$11 milhões para implantação de uma das maiores estações de tratamento de efluentes do mundo em indústrias de laticínios, com reatores anaeróbicos de baixa taxa.

leite 2Para formulação, desenvolvimento e realização desse projeto foram necessários cerca de dois anos e meio de trabalho e uma equipe que chegou a contar com 400 pessoas. A equipe de engenharia do Laticínios Bela Vista realizou a obra Civil e a montagem mecânica. A ADI Sistemas Ambientais Ltda forneceu toda a tecnologia canadense e equipamentos, que contemplaram a reformulação da Estação de Tratamento de Efluentes atual, e a adoção do Reator ADI-BVF.

O reator anaeróbio ADI-BVF é um sistema totalmente hermético sem emissão de odor, resistente à choques hidráulicos e à carga orgânica, o que agrega estabilidade ao processo de tratamento de efluentes. É um sistema de fácil operação com baixo custo de operação e de manutenção, reduzindo a praticamente zero a geração de lodo.

Esta tecnologia dispensa a necessidade de tratamento primário, pois a gordura e os sólidos em suspensão podem ser digeridos no próprio reator.

Outra vantagem e, uma das que mais chamou a atenção do Laticínios Bela Vista é a possibilidade da utilização do biogás produzido no reator ADI-BVF. As vantagens de se utilizar o biogás são: fonte de energia renovável, pode ser utilizado como substituto de gás natural e/ou outros combustíveis, a energia/vapor produzido podem ser reaproveitados no processo industrial, reduzindo a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera.

Familia Pirakids copyNormalmente em sistemas convencionais, o soro e as perdas da indústria láctea são destinados à ração animal. Com a instalação do reator ADI-BVF, o soro e as perdas podem ser destinados à estação, contribuindo com o aumento da geração de biogás no sistema e consequentemente com o aproveitamento energético do mesmo.

O efluente é tratado em meio anaeróbio e o gás formado é captado e enviado para duas caldeiras que utilizarão esse combustível para a geração de vapor. A eficiência no tratamento dos resíduos chegará a 99%, com a possibilidade de reaproveitamento, também, da água. Por outro lado, o Laticínios Bela Vista, que já utiliza exclusivamente madeira de reflorestamento em suas caldeiras de biomassa, contará com uma redução de 30% no consumo de lenha, graças ao uso do biogás gerado.

De acordo com o diretor industrial da empresa, Marcos Helou, entre outros objetivos do projeto estão tornar o tratamento dos efluentes produzidos pela indústria mais robusto e preparado para o crescimento da indústria, além de, ao mesmo tempo, aproveitar a geração de biogás e reduzir ainda mais o impacto ambiental. “Pretendemos devolver ao rio a água com excelente qualidade e pronta para um possível reuso. E, ainda, vamos incentivar a produção de energia sustentável com benefícios ambientais para a sociedade. A empresa conseguiu estruturar um corpo profissional seleto e multidisciplinar, o que propiciou pesquisar e implantar com sucesso a tecnologia. Hoje, as decisões tomadas no Laticínios Bela Vista levam em consideração a nova lógica de pensamento voltada para a preservação ambiental”, reforça.

Tecnologia da ETE

A ETE conta com capacidade de tratamento de 230m3/h em média. Os efluentes são predominantemente das plantas de fabricação de laticínios (leites, bebidas lácteas, leite condensado, creme de leite, leite em pó e queijo) onde são feitas lavagens de tanques, linha e do ambiente. “É importante destacar a presença de ácidos e bases para a limpeza dos tanques e qualquer outro objeto que entra em contato com o produto final, é o processo que chamamos de CIP (Clean in Place) para a assepsia desses pontos”, explica Marcos Helou.

A DQO de entrada do sistema gira em torno de 5.500 mgO2/L, sendo que a DBO é 45% desse valor. O sistema foi projetado para 230m3/h e 12.250 mg/L de DQO. A empresa cumpre as normas do CONAMA 357 e 430. “Em termos gerais, isso quer dizer que não podemos mudar a classificação do rio que está sendo lançado o efluente que passou pelo tratamento, ou seja, interferir na qualidade dele quando ocorrer a mistura do efluente tratado com a água que segue no leito. Para tanto, fatores de diluição e a qualidade do efluente lançado são determinantes para a manutenção da qualidade do rio. Hoje, temos uma eficiência de mais de 95% na fase de adaptação do sistema e chegaremos a mais de 99% após essa adaptação, que ocorrerá entre 2 e 6 meses, no máximo”, garante o executivo.

Depois de diversos estudos de viabilidade e avaliações quanto às necessidades da indústria, a equipe técnica optou pela tecnologia de tratamento recém implantada. Trata-se de um reator anaeróbio de baixa taxa (1Kg de DQO/m3.dia) do tipo BVF da ADI System do Canadá. O reator possui 70.000 m3 é todo vedado com uma cobertura de polietileno (fluxograma básico abaixo). Sendo que parte dos equipamentos e instrumentos foram produzidos no Canadá e parte na fábrica da ADI System, em Pirassununga, no Brasil. Foram 12 meses de projeto e licenciamento e mais 12 meses de fabricação e montagem.

Fluxograma básico

Gradeamento — Equalização — Reator anaeróbico BVF — Valo de Oxidação

Carrossel (pré-existente) — Decantador — Wetlands — Lançamento

Geração de biogás

A Estação já está gerando cerca de 600 Nm3/h e o sistema deverá gerar 1.600 Nm3/h a plena capacidade. “Nesse início, o gás vem se mostrando bastante puro, em torno de 75% de CH4 e com baixo teor de H2S, por volta de 450ppm. Tais indicadores mostram boa qualidade do gás e isso deverá continuar assim, dadas as qualidades físico-químicas do efluente, que não variarão com a previsão do crescimento da empresa”, diz Marcos Helou, diretor industrial do Laticínios Bela Vista.

O gás não será purificado para ser queimado nas caldeiras. Existe uma tecnologia que foi aplicada ao sistema que torna desnecessária a purificação de H2S. A remoção de água foi uma grande preocupação inicialmente, contudo é previsto que 3% ou menos de água ultrapasse para os queimadores, o que diminuiu a importância dessa impureza nesse momento.

leite 3Duas caldeiras serão adaptadas para receber o biogás na forma como sairá do reator anaeróbio, uma de 15 e outra de 28 toneladas de vapor saturado produzidas por hora, a uma pressão de até 300 psig. Ambas trabalham com biomassa, toras de eucalipto e cavaco de eucalipto, respectivamente. Essas caldeiras serão adaptadas para receber o biogás, os queimadores foram fabricados pela Alfa Laval (fabricante das caldeiras). Essas caldeiras continuarão a receber biomassa sendo o biogás o coadjuvante na queima, esse último representará aproximadamente 30% da capacidade calorífica em cada uma das caldeiras ao final do projeto.

Atualmente, a fábrica gera aproximadamente 43 ton/hora de vapor que é utilizado nos processos de pasteurização e ultrapasteurização do leite, bem como para limpeza das instalações. A expectativa, segundo Marcos Helou, é iniciar com a geração de quase 7 ton/hora de vapor com a parte relativa a biogás, podendo chegar até 13 ton/hora quando na capacidade máxima da Estação. Em sua capacidade plena, o biogás será responsável por 30% da geração de vapor.

O biogás é retirado do reator e comprimido, e enviado para o flare ou para a caldeira. A tubulação que levará o biogás para a caldeira será construída em aço 316L. Terá 520m de comprimento no diâmetro de 200mm e sua obra está prevista para iniciar ainda em 2015. A escolha do material em aço inox 316L se deu por sua durabilidade e capacidade de suportar corrosão ácida pela presença, mesmo que em baixa concentração, do H2S. Lembrando que na presença da água essa substância reage formando H2SO4, ácido sulfúrico.

leite“A escolha da tecnologia considerou vários fatores. O biogás foi importantíssimo para essa escolha, tanto pelo benefício da geração de receita por sua reutilização quanto pelo fator de sustentabilidade associados ao seu uso e substituição da madeira na caldeira. Mas, claro sem deixar de pensar na tratabilidade dos resíduos que possuem peculiaridades importantes no processo de escolha”, finaliza Marcos Helou, diretor industrial do Laticínios Bela Vista.

 

Marcos Helou, diretor industrial do Laticínios Bela Vista, Marconi Perillo, governador de Goiás, Cesar Helou, diretor de relações institucionais da Piracanjuba e Eurípedes José do Carmo, prefeito de Bela Vista

 

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