Fabricantes precisam de planos que contenham mecanismos para otimização de formulações para garantir a melhor utilização de ingredientes e insumos
* Por Paulo Garcia de Almeida e Letícia Corassa Neves
É cada vez maior a concorrência nos mercados nacional e internacional. A globalização e a abertura de novos mercados exigem que as empresas encontrem formas de se destacarem nesse meio competitivo. O segmento alimentício enquadra-se dentro do contexto descrito acima; empresas do setor têm buscado adotar novas estratégias de gestão da produção a fim de gerenciar de forma mais eficaz todos os recursos envolvidos durante o processo produtivo para garantir o melhor desempenho em relação ao nível máximo de produtividade e oferecer produtos a preços mais competitivos no mercado.
A criação de um modelo de gestão que permita verificar quais são os custos que agregam e que não agregam valor aos clientes é uma das estratégias possíveis de serem adotadas que está vinculada à eficiência com que a organização utiliza seus recursos.
Ingredientes
Neste aspecto, é de grande importância encontrar formas de maximizar o uso dos ingredientes, pois as perdas que ocorrem durante o processo produtivo são exemplos claros de custos que não agregam valor ao produto e devem ser evitados.
Como ingrediente, definiremos qualquer substância, incluindo os aditivos, empregada na fabricação ou preparação de um alimento e que permanece no produto final, ainda que na forma modificada. O mercado de ingredientes é uma área extremamente dinâmica, as inovações ocorrem em ritmo acelerado e muitas vezes acabam criando oportunidades para o lançamento de novos produtos. E, em um processo de produção, pode-se atingir o máximo de aproveitamento destes ingredientes mantendo a mesma qualidade e rentabilidade do produto final,sendo que muitas vezes, é possível ainda encontrar meios de maximizar o uso da matéria-prima aumentando o lucro.
Um exemplo de otimização do processo visando maior aproveitamento dos ingredientes é a utilização de pré-misturas. Essas misturas podem ser personalizadas, por exemplo, de acordo com a quantidade necessária para cada batelada, evitando assim perdas em diversas fases do processo. Somando-se a essas vantagens, a utilização de pré-misturas traz maior rapidez e facilidade na produção reduzindo, inclusive, o tempo gasto na fabricação do produto.
A implantação de um controle rigoroso de perdas no processo está diretamente relacionada a redução de custos. A automatização das dosagens de matérias-primas é um exemplo de controle, contribuindo para a maximizaçãoda produção com menor consumo de energia e/ou matérias primas, além de aumentar a eficiência no processo, diminuirá emissão de resíduos de qualquer espécie, melhorar as condições de segurança, seja material ou humana e reduzir o esforço ou a interferência humana sobre o processo ou máquina.
Perdas no processo produtivo também podem ser decorrentes da manipulação inadequada de matérias-primas, devido à ausência de procedimentos de trabalho e da ineficiência na execução dos mesmos. Isso pode ser evitado com a realização de treinamentos dos funcionários para que compreendam os procedimentos do processo e sintam-se motivados e valorizados a desempenharem suas funções com maior comprometimento.
A existência de um plano de manutenção preventiva de equipamentos reduz os impactos provocados por desvios de processos, como ingredientes que caem sobre superfícies com sujidades e não podem ser reaproveitados e contaminações causadas por agentes físicos que levam ao descarte dos ingredientes.
Gerenciamento dos resíduos
Um tema que está ligado aos impactos ao meio ambiente, mas tem forte influência na redução de perdas de processo é a minimização de resíduo, um sistema de gerenciamento ambiental preventivo, que visa melhorias no processo produtivo, reduzindo as perdas, e no desempenho ambiental. O termo “resíduo” é utilizado em sentido amplo,englobando não somente sólidos como também os efluentes líquidos e os materiais presentes nas emissões atmosféricas. No processo industrial, o resíduo representa perda de matérias-primas, insumos, subprodutos ou produto principal e requer tempo e capital para o seu gerenciamento. A minimização de resíduos não se refere somente a ações tomadas após a geração do resíduo,como diluição para redução da sua toxicidade e/ou transferência dos constituintes do resíduo de um meio para outro. As técnicas de minimização de resíduos consistem também em reduções na fonte a partir de mudanças de processo, tecnologia e matéria-prima. A otimização no uso de materiais resulta em economia no custo e aumento na produtividade, resultando em vantagem competitiva para a empresa no mercado.
Segundo a projeção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o setor alimentício terá uma necessidade de ampliar em 20% a produção de alimentos para atender o aumento da demanda até 2020. O Brasil é o país que mais deverá crescer, com previsão de aumento de 40% no período, com um faturamento de US$ 5,9 trilhões até o final de 2014.O crescimento na produção de alimentos aumentará a geração de resíduos e será cada vez mais necessário que as empresas busquem formas de minimizar e/ou reutilizar seus resíduos.
Uma alternativa que vem ganhando importância desde o início da década de 70 consiste no aproveitamento de subprodutos-substâncias que têm importância nutricional e podem ser utilizadas posteriormente – como matéria-prima para a produção de alimentos ou como fonte de nutrientes e compostos bioativos para fortificação de alimentos, de modo que esses subprodutos reaproveitados resultam em maiores ganhos econômicos.
As empresas do segmento de alimentos e bebidas comprometidas com sustentabilidade e boas práticas de fabricação quando incluem, no portfólio do seu plano de controle, mecanismos de otimização de formulações, automatização no processo produtivo, implantação de procedimentos padronizados, minimização de resíduos e aproveitamento de subprodutos , com certeza estarão muito mais capacitadas para gerenciar sua lucratividade e competitividade neste importante segmento de mercado.