Carlos Donizete Parra
Para o desenvolvimento de um produto plant-based, é possível fazer o uso de diversos ingredientes de alta densidade nutricional, contando tanto com os micronutrientes como com os macronutrientes.
“Pensando na formulação como um todo, e não somente na fonte de proteína, é possível chegar a um produto que seja mais completo nutricionalmente do que o seu respectivo de origem animal. Por exemplo, uma bebida vegetal com o mesmo perfil de proteínas e gordura do leite animal pode ser desenvolvida utilizando proteína de soja e creme de coco em pó para chegar aos teores desses nutrientes.
Porém, a quantidade de gorduras saturadas será menor e, além disso, haverá a presença de MCT – triglicerídeos de cadeia média presentes no coco, reconhecidos pelo seu benefício para a saúde. Além disso, para estabilização da bebida e correção de textura, é possível utilizar uma fibra solúvel, como a fibra de milho solúvel. Dessa forma, incluímos um nutriente que não está presente no leite animal. Muitas outras abordagens podem ser utilizadas. É possível utilizar óleo de abacate em pó para um perfil de gorduras ainda mais saudável, grão de bico em pó para aportar vitaminas e minerais, além da proteína, fibras, grãos ancestrais etc”, avalia Rachel Jesus, Gerente de Serviços Técnicos e Desenvolvimento de Produtos da área de bebidas da ADM Latam.
A combinação de proteínas, aminoácidos, vitaminas e outros nutrientes é fundamental para levar ao consumidor uma alimentação adequada para uma vida mais saudável.
Nátalia Goés, Consultora Técnica Sênior para Fermentados – FC&E Brasil da Chr. Hansen, acredita que a adição de proteínas vegetais em produtos à base de plantas é eficaz para enriquecer o valor nutricional do produto, elevando o percentual proteico, contribuindo, desta forma, para diversos mecanismos fisiológicos, já que são formadas por aminoácidos essenciais para nosso organismo, e para a saciedade do consumidor. “Podemos considerar que os vegetais, grãos e castanhas mais utilizados para produção de produtos plant-based, como, por exemplo, coco, amêndoa, arroz e aveia apresentam baixo percentual de proteínas e, muitas vezes, altos percentuais de gordura no ‘leite vegetal’”, explica a consultora.
Para a Gerente de Beverage & Dairy da Tovani Benzaquen Ingredientes, Cristina Mazzini, os processos de obtenção das proteínas evoluíram grandemente nos últimos anos, e, com isso, é possível obter ingredientes que contribuam para a funcionalidade, estabilidade e corpo das bebidas, e ainda entregar o benefício do high protein associado ao apelo de 100% vegetal.
“Das proteínas vegetais, a proteína de ervilha apresenta o aminograma mais similar ao da proteína animal. Além disso, é livre de gordura saturada, colesterol, lactose, alergênicos e de maior digestibilidade. Com o avanço das tecnologias, é possível desenvolver um produto plant-based usando apenas uma fonte de proteína vegetal que disponibilize a maioria dos nutrientes buscados pelos consumidores. No entanto, sempre há a necessidade de mantermos uma dieta balanceada e rica de micro e macronutrientes, como fibras, vitaminas, sais minerais e proteínas”, pontua Cristina Mazzini.
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Perfil sensorial
Historicamente, os principais desafios para a produção de produtos plant-based são o sabor e a textura, mas isso está virando coisa do passado com o avanço das novas tecnologias.
“Sabor residual, amargor, sabor vegetal, textura, arenosidade, estabilidade, padrão foram desafios complexos que tivemos que ultrapassar. Para os produtos análogos, o grande desafio é imitar o leite.
Mas o mercado plant-based não se limita a reproduzir os produtos de origem animal, nos desafiando a entregar indulgência nas mais diversas aplicações”, explica Caroline Souza, Inteligência de Mercado, Vogler Ingredients.
O mercado de bebidas vegetais se desenvolveu a partir de produtos produzidos com o extrato de soja. Esse ingrediente é responsável pelo conhecido “sabor de soja”. “Hoje em dia, a indústria de ingredientes evoluiu e disponibiliza ingredientes mais tecnológicos para a produção de bebidas vegetais proteicas. As proteínas concentradas e isoladas não possuem óleo nem açúcares da soja.
Dessa forma, têm sabor muito mais neutro. Com isso, é muito mais fácil desenvolver bebidas com altos teores de proteína que apresentem características sensoriais muito mais agradáveis para o consumidor”, explica Tiago Coroa, Gerente de Serviços Técnicos e Desenvolvimento / PD&A ADM.
Os extratos vegetais com alto teor de proteína podem resultar em uma experiência desagradável ao paladar do consumidor, conferindo sabores amargos e arenosidade, gerando desaprovação do produto.
Contudo, a indústria já possui lançamentos recentes para melhorar as características sensoriais das bebidas plant based. “Também há situações da utilização de algumas bases vegetais como a farinha de arroz, que conferem muito corpo ao produto final e descaracterizam o aspecto de bebida. Uma forma de viabilizar a utilização de bases à base de aveia e arroz em bebidas, por exemplo, é utilizar coadjuvantes de tecnologia à base de enzimas”, identifica Carolina Carluci, Especialista de P&D da Prozyn Bio Solutions.
Segundo Natália Góes, Consultora Técnica da Chr. Hansen, os principais desafios sensoriais no desenvolvimento de produtos plant-based estão relacionados às percepções de indulgência em textura e sabor. “Os desafios em relação à textura referem-se, principalmente, às características físico-químicas das moléculas de proteínas vegetais, que diferem-se em relação às proteínas de leite de origem animal, caseínas e proteínas de soro e na formação da estrutura de rede que compõe a textura durante a etapa produtiva de fermentação, interações com outros ingredientes da formulação. Ao mesmo tempo, em muitos casos está relacionada ao baixo teor de proteína no produto, o que dificulta o incremento de viscosidade. Quanto ao sabor, o maior desafio é obter baixas notas de off-flavour provenientes das proteínas vegetais, tornando o produto mais aceitável, saboroso e indulgente”, explica.
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