A crise energética mundial e a indústria de bebida

Alaercio Nicoletti, gerente de Sustentabilidade e Melhoria
Contínua do Grupo Petrópolis

A crise energética pode impulsionar a aceleração da transição energética para energias limpas

 

Por Alaercio Nicoletti

 

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia trouxe à luz o dilema entre o aumento dos custos dos combustíveis naturais, que estimulam o retrocesso aos combustíveis fósseis, e a agenda ESG, enquanto as discussões sobre as mudanças climáticas e a consequente redução de emissões de CO2 foram intensificadas na COP27, que ocorreu no Egito entre os dias 06 e 18 de novembro de 2022.

O fechamento de usinas termoelétricas e nucleares por força de pressões para o atendimento de metas climáticas gerou uma armadilha para as nações europeias devido ao corte de fornecimento de gás natural pela Rússia. A retomada da produção em tais estabelecimentos, requerem um estudo do estado de conservação e certamente a injeção de bilhões de euros, além da afronta direta ao ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) 13 da ONU, que trata do combate às alterações climáticas. Em uma resposta rápida e protecionista, o Conselho Europeu, em 21 de outubro de 2022, costurou um acordo entre seus participantes estabelecendo teto para o custo do gás natural no bloco, e o incentivo fiscal para o uso de energias renováveis, além de manterem os incentivos à geração de energias renováveis.

A crise energética extrapola as fronteiras da Europa devido às relações de interdependência e à “concorrência” de recursos entre os países

A crise energética extrapola as fronteiras da Europa devido às relações de interdependência e à “concorrência” de recursos entre os países, e o Brasil já sentiu seus efeitos e continuará convivendo com suas consequências e, as fabricantes e distribuidoras de bebidas sofrem diretamente os impactos. Esse setor, que responde por 9,2% do consumo energético do país, sofre impacto direto em quaisquer oscilações no mercado de energia. Apesar dos esforços na adoção de soluções verdes, não se consegue mudar da noite para o dia uma matriz energética tão importante.

O setor de fabricação de alimentos e bebidas, embora seja sensível à crise mundial,
mostra-se já no caminho da otimização
de sua matriz energética

Conforme o Balanço Energético Nacional (BEN 2022), o Brasil tem 44,7% de fontes renováveis para geração de energia, sendo 34,4% dependente de petróleo e seus derivados, 5,6% de carvão e 13,3% de gás natural, sendo que esse último emite27% menos CO2 que o petróleo e 44% menos que o carvão. Nosso setor da indústria reduziu em 10,5% o consumo de energético total em 2021, mas foi o único que apresentou impacto negativo face aos demais setores que aumentaram ao menos 3,9%.

Mas isso não é o suficiente, podemos aproveitar esse momento para intensificarmos nossos compromissos com os ODS 13 já citado e o ODS 12, que trata do consumo e da produção sustentáveis. Assim, no caminho do aumento do consumo de energia limpa e da consequente redução das emissões de GEE (gases de efeito estufa), passa pela redução de consumo de combustíveis fósseis, quer seja com melhoria contínua, tecnologias ou mesmo substituição de fontes como no caso no uso de biomassa nas caldeiras.

É preciso intensificar os compromissos
com os ODS 12 e 13 que tratam
do consumo e da produção sustentáveis

A indústria brasileira tem lançado diversas iniciativas que unem a indústria, como a Conexão Circular, lançada em setembro em Nova York que conta com a participação de diversas empresas brasileiras com o intuito de unir as iniciativas de Economia Circular no país. Outro exemplo é a missão industrial da Circularidade do Vidro, lançada em nível nacional pelo Grupo Petrópolis em associação com o SENAI Mario Amato. Ambas propostas integram diversas empresas, universidades, instituições e startups, além de contribuir efetivamente para a agenda climática, uma vez que reinserem em cadeias produtivas os materiais, propiciando economia em custos e simplificação do transporte. Para citar o vidro, sua indústria chegou a importar cacos de vidro da Bélgica, pois necessita de tais insumos para a produção de novas embalagens.

Enxergando o copo meio cheio, o setor de fabricação de alimentos e bebidas, que responde por 10,6% do PIB brasileiro e 1,72 milhão de empregos formais diretos, embora seja sensível à crise mundial, mostra-se já no caminho da otimização de sua matriz energética, atuando na melhoria de seus processos, adoção de tecnologias limpas e investindo em estudos que aumentam sua competitividade, além de observar os aspectos econômicos e socioambientais.

 

* https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/balanco-energetico-nacional-2022
* https://marioamato.sp.senai.br/8064/missao-industrial-chamadas-publicas
Alaercio Nicoletti
Gerente da Sustentabilidade do Grupo Petrópolis e professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie

 

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