Cientistas verificaram que as funções probióticas foram mantidas no ambiente espacial
A Yakult Honsha (matriz da multinacional japonesa, com sede em Tóquio) e a Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA) acabam de divulgar os primeiros resultados das pesquisas iniciadas em 2015 sobre os efeitos do probiótico Lactobacillus casei Shirota – exclusivo da Yakult – nas funções imunológicas e na microbiota intestinal dos astronautas submetidos a ambientes fechados de microgravidade. Os cientistas confirmaram que a cepa Lactobacillus casei Shirota mantém as mesmas funções de probiótico em ambiente espacial que as amostras armazenadas na Terra. Os resultados foram publicados no jornal on-line Scientific Reports, integrante da revista científica britânica Nature (https://www.nature.com/articles/s41598-018-29094-2).
Durante o experimento, intitulado ‘Estação Espacial Internacional ‘Kibo’ – Avaliação da estabilidade por experimento a bordo no Módulo Experimental Japonês’, os cientistas verificaram a quantidade de bactérias viáveis nas amostras, as propriedades de fermentação da cepa, as informações genéticas e os efeitos imunomodulatórios do probiótico Lactobacillus casei Shirota liofilizado, preparado para ingestão e armazenado por um mês na Estação Espacial Internacional (ISS) ‘KIBO’ Japan Experiment Module (módulo de experiência do Japão).
Antes de iniciar esta pesquisa espacial foram desenvolvidas amostras de cápsulas experimentais contendo Lactobacillus casei Shirota liofilizado, adequadas para uso na ISS. Os testes de armazenamento em longo prazo na Terra demonstraram que a cepa pode ser armazenada por 12 meses em temperatura ambiente. Mas os cientistas precisavam saber se, ao armazenar na ISS, o Lactobacillus casei Shirota poderia ser afetado pela microgravidade ou radiação cósmica.
A fim de investigar a temperatura ambiente e a exposição à radiação cósmica foi preparado um pacote de amostras para experimentos de consumo, incluindo registrador de temperatura e detector de radiação cósmica (biopadress). O pacote partiu no Dragon Supply Vessel Nº 8 (SpX – 8) da SpaceX, Inc., lançado em 9 de abril de 2016 (horário do Japão), e foi mantido na ISS ‘Kibo’ Japan Experiment Module por cerca de um mês. Depois deste período, foi recarregado no SpX – 8 e coletado no Oceano Pacífico na costa da Califórnia, em 12 de maio do mesmo ano (horário do Japão).
O pacote recuperado foi transportado pelo Centro Espacial Johnson (NASA) para o Instituto Central Yakult, localizado em Kunitachi, Tóquio, em condições refrigeradas. Na sede do Instituto, os cientistas realizaram as análises sobre viabilidade, propriedades de fermentação, informação genética e efeitos imunomoduladores da cepa e comprovaram que não houve diferença nos resultados desses parâmetros entre as amostras armazenadas na ISS e de controle na Terra.
Os pesquisadores conseguiram manter as bactérias vivas e estáveis por um longo período através da liofilização, tecnologia de secagem que constitui na remoção da água por meio da sublimação, otimizando as condições de produção. Desta forma, o grupo de pesquisa considera que as propriedades dessa amostra experimental de consumo também contribuíram para a estabilidade do probiótico em ambiente espacial. Com base nos resultados desta pesquisa, espera-se que os efeitos do probiótico, quando consumido na Terra, sejam os mesmos quando consumidos por astronautas na ISS.
Importância
Os astronautas que atuam na ISS são afetados por fatores específicos do espaço, como a microgravidade e a radiação cósmica, além de realizarem inúmeras missões em um ambiente isolado e fechado. As pesquisas na Medicina Espacial já indicaram que, ao ficar por muito tempo no espaço, que é um ambiente de estresse complexo, ocorre alteração do equilíbrio da imunidade com diminuição da função das células imunológicas. E para ter sucesso no voo espacial com tripulação é necessário manter a saúde mental e física dos astronautas, o que inclui a resistência imunológica, para que possam ter o melhor desempenho em suas importantes tarefas.
O diretor do Instituto Central Yakult, Dr. Fumiyasu Ishikawa, afirma que, na Terra, já está cientificamente provado, através do acúmulo de resultados de pesquisa durante muitos anos, que o Lactobacillus casei Shirota chega vivo aos intestinos e promove um bom ambiente através do equilíbrio da microbiota intestinal, mantendo e ativando a função imunológica. Por outro lado, a Yakult não tinha experiência em desenvolver pesquisas em ambientes espaciais, por isso, não era possível responder claramente se o probiótico teria o mesmo efeito no espaço.
“Com essa experiência com a JAXA conseguimos demonstrar cientificamente que o Lactobacillus casei Shirota armazenado na ISS manteve as mesmas propriedades, avaliando por diversos pontos. É a primeira conquista do mundo confirmando a estabilidade de um probiótico no ambiente espacial e sinto que demos um grande passo para abrir o caminho da utilização de probióticos na próxima era espacial. Estamos continuando as pesquisas, agora, com a ingestão do probiótico por astronautas que ficarão na ISS”, afirma.
O diretor técnico espacial da ISS, Koichi Wakata, acrescenta que são poucos os sintomas clinicamente problemáticos ao permanecer no espaço por cerca de seis meses, porém, uma maior permanência no espaço pode acarretar em um maior risco para a saúde, inclusive na função imunológica dos astronautas. “O resultado desta pesquisa é um grande passo em direção ao uso de probióticos no espaço”, acentua