Reposicionamento levou empresa a adquirir
vinhedo em Encruzilhada do Sul
Em 2014, às vésperas de completar 100 anos, a Vinícola Peterlongo, de Garibaldi (RS), adquiriu seu primeiro vinhedo. A compra de 22 hectares, localizados em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste, foi o pontapé inicial do projeto de reposicionamento da marca, lançado no ano seguinte. De lá para cá, um forte trabalho técnico transformou os vinhedos. A quarta colheita se aproxima, as videiras estão vigorosas e saudáveis e a projeção é atingir 100 mil quilos de uvas de alta qualidade entre janeiro e março.
“Para elaborar vinhos e espumantes excepcionais é preciso começar pelo vinhedo. Então, além de mantermos um programa de assessoria junto aos nossos produtores parceiros, também dedicamos grande parte do nosso tempo com uma equipe técnica altamente qualificada para transformar nossos vinhedos. Assim, conseguimos evoluir por dentro e por fora”, destaca o sócio diretor da Vinícola Peterlongo, Luiz Carlos Sella. Segundo ele, a quantidade cultivada em Encruzilhada do Sul é pequena, diante de um total de cerca de 4 milhões de quilos de uvas processadas todos os anos, mas a qualidade vem surpreendendo. Na última safra, as uvas alcançaram 25 graus babo, o equivalente a mais de 14% de álcool natural. “Assim como a vinha tem suas etapas de desenvolvimento, a Peterlongo projetou e segue seu caminho. O trabalho é longo, mas os resultados já aparecem nas premiações internacionais e no reconhecimento do consumidor”, comemora.
Todo trabalho no vinhedo vem sendo acompanhado de perto por uma equipe liderada pela engenheira agrônoma francesa, Carole Dumont, e pela técnica agrícola e enóloga, Natália Ferrari, que dão suporte aos enólogos Pascal Marty, francês que é o atual winemaker da vinícola, e Deise Tempass, enóloga responsável da Peterlongo. Juntos, eles redesenharam a viticultura da marca para poder transformar a vinicultura. Segundo Natália, a rotina tem sido dedicada ao manejo de acordo com o clima e as etapas de maturação das uvas. “Estamos projetando para os próximos anos a implantação de variedades tintas como Teroldego e Touriga Nacional. Por enquanto, o trabalho ainda segue intenso com a poda verde. Estamos cortando as pontas e retirando as folhas em volta do cacho para ter mais insolação. As plantas estão perfeitas e com boa carga”, comenta.
A última visita de Deise e Marty à propriedade foi em novembro, quando puderam ver de perto a qualidade dos vinhedos. “Se o clima continuar colaborando, teremos uma excelente safra e, obviamente, produtos com altíssima qualidade”, garante Deise. Da mesma forma, Marty aposta no clima e destaca o desempenho da uva Merlot, que vai originar o Armando Memória Merlot.
Grande parte da área plantada se destina ao cultivo da variedade branca Chardonnay, utilizada na elaboração do Armando Memória Chardonnay e dos espumantes Presence Brut e Presence Brut Rosé. Na região, também se cultivam as tintas Merlot e Pinot Noir. A colheita inicia na segunda quinzena de janeiro com as uvas Chardonnay e Pinot Noir. Em março será a vez de colher a Merlot.
Um pouco de história
A história da Vinícola Peterlongo está intimamente ligada ao desenvolvimento da vitivinicultura brasileira. Quando chegou ao Brasil, em 1899, o imigrante italiano Manoel Peterlongo, trouxe consigo o conhecimento herdado de seu avô na metodologia difundida por Don Perignon, com o método champenoise. Assim, em 1913, ele elaborou o primeiro espumante brasileiro, dando início à história da bebida no Brasil. A vinícola é fundada oficialmente em 1915. A partir daí, o crescimento foi ganhando o mundo. A marca Peterlongo estava sempre presente em banquetes oferecidos pelo governo Getúlio Vargas e foi elogiada até pela rainha da Inglaterra, Elizabeth, ao visitar o Brasil.
O Castelo Peterlongo, hoje uma peça emblemática nessa história, foi construído em 1930 e por muito tempo serviu de residência da família. Sua arquitetura segue os padrões da região de Champagne, na França, e suas instalações serviram, nos últimos anos, de sede do varejo, recentemente inaugurado na estrutura original onde funcionava a expedição e a câmara fria, primeira da América Latina. O complexo conta, ainda, com uma cave subterrânea em pedras basálticas, a primeira do Brasil. Na época de sua construção, as caves foram projetadas com o objetivo de remontar o ambiente ideal para a preservação de champagnes, possuindo um túnel que capta o vento típico do Rio Grande do Sul e mantém a temperatura estável em seu interior.