Tecnologias que reduzem gastos com energia e otimizam a
cadeia produtiva dão o tom da Fispal Tecnologia 2017
Nelson Donato
Um dos principais desafios de todos os setores industriais é a implantação de novas tecnologias que aumentem a produção, economizem energia, atendendo as necessidades dos clientes sem agredir o meio ambiente, com gastos cada vez menores. Com base nesses fatores, empresas dos segmentos de alimentos e bebidas, aproveitaram a 33ª edição da Fispal Tecnologia, que ocorreu entre os dias 27 e 30 de junho, no Expo São Paulo, para apresentar seus mais recentes lançamentos e mostrar que a Indústria 4.0 chegou para ficar.
Mas, o que essa nova concepção fabril representa para o mercado? A resposta para essa pergunta passa diretamente pelas novas exigências dos consumidores. Se antes os fabricantes indicavam as tendências e ofereciam ao público linhas de produtos determinadas e com variedade limitada, hoje temos uma drástica inversão de papéis, na qual os clientes apontam o que desejam consumir, e os produtores precisam adequar seus parques fabris com objetivo de atender praticamente todas as pessoas individualmente.
A partir dessas mudanças, muitas linhas de produção tornaram-se obsoletas, já que estavam adequadas ao antigo modelo de negócio, e em sua grande maioria, restringiam-se à montagem padrão de um ou dois produtos. Daí a importância de introduzir um sistema que utiliza maciçamente informação e comunicação dentro da cadeia produtiva, o que permite que o mesmo parque industrial produza diversos produtos simultaneamente.
As soluções apresentadas pela Sacmi para o setor de bebidas são exemplos do alcance da Indústria 4.0. Os equipamentos vão desde a preparação da matéria prima até as operações de embalagem final, a interação proporciona aumento da produtividade, redução do consumo energético e menor índice de descarte. Um dos produtos de maior destaque é o novo sistema de injeção para Preformas IPS, que proporciona flexibilidade nas instalações com trocas de formato rápidas, soluções tecnológicas ergonômicas e economia de energia. Outro desque é a Monobib, monobloco de enchimento que reúne todas as funções para embalagens do tipo Bag in Box.
A Gebo Cermex mostrou o conceito do Agility 4.0 que faz uso de máquinas inteligentes com o objetivo de melhorar o desempenho da planta. Os equipamentos funcionam de maneira autônoma, passando por mudanças de formato, interfaces ergonômicas não só intuitivas como também instrutivas com lições inseridas em IHMs, além de serem equipamentos capazes de interagir em segurança para os operadores. A empresa também apresentou o software EIT™ Efficiency Improvement Tool, que executa a Aquisição, análise e interpretação dos dados de produção.
A Logopak apresentou sistemas de rotulagem de paletes, totalmente automatizados e compatíveis com a Indústria 4.0. Os produtos das séries 300 e 800 melhoram significativamente a eficiência do processo. Os rótulos são produzidos por meio de impressão térmica, direta ou de transferência. Outra vantagem é a fácil instalação dos produtos. A capacidade do modelo 300 é de 80 a 90 etiquetas por minuto para aplicações em pacotes diversos, tanto frontal, como lateral e esquina.
Outro conceito utilizado pela Logopak é a rastreabilidade, que permite o gerenciamento de todos os processos da cadeia produtiva e, consequentemente, aumenta a eficiência da planta, já que facilita a identificação de possíveis problemas que atrapalhem a produção. O rastreamento também proporciona ao consumidor mais atento, preocupado com todos os processos industriais, informações sobre todo caminho que o produto percorreu, desde a saída da fábrica, até a chegada ao ponto de venda.
Com base nesse monitoramento e pensando na transparência para com o público, a Sig Combibloc, em parceria com a Languiru, lançou no final de maio, nova plataforma digital que permite o acompanhamento de todas as etapas industriais por meio de um único QR code impresso nas embalagens da linha de lácteos da Languiru – Qualidade do Início ao Fim. “Depois que o leite é coletado, ele passa por diversas etapas como, preparação, estabilização, tratamento térmico, envasamento, aplicação de tampa, paletização, até chegar ao ponto de venda. São várias etapas distintas com controles distintos. A maioria de nossos clientes faz este acompanhamento manualmente ou por softwares não integrados. Nossa plataforma integra todas essas informações por meio de um único QR code. Cada embalagem possui um código individual que permite ao comprador conhecer o DNA do produto em segundos”, explica Rafael Silva, Head de Serviços da Sig Combibloc na América do Sul.
Apesar do sistema de rastreabilidade integrado ter sido implantado há pouco mais de um mês, Silva detalha que já houve diminuição dos índices de desperdício da Languiru. “Estamos falando de um cliente com taxa de eficiência muito alta, e de um pequeno período de avaliação, porém já foi possível verificar o aumento da produção e a queda nos indicadores de perda.
Inovações
Por ser uma feira voltada à tecnologia para o setor de alimentos e bebidas, a Fispal é uma vitrine para apresentação de novos produtos.
A Agavic, por exemplo, trouxe para a feira grande variedade de barris do tipo Keg (chopp), com capacidade de armazenamento que varia entre cinco e 50 litros, e Post e Pré-Mix (xaropes e sucos) com capacidade de cinco a 19 litros. Seu portfólio também possui kit móvel para assepsia, tubos sifão, válvulas de transferência, tanques de sanitização (CIP) e tanques fixos e móveis desenvolvidos para armazenar e transportar polpas de frutas, mel, catchup etc. Vale destacar os serviços de manutenção dos barris, que são submetidos a análises de vazamentos, inspeções internas, testes com líquido penetrante/revelador e medição de volume.
Também presente no evento, a Zegla mostrou conjuntos blocados multifuncionais para cerveja. A empresa possui em seu catálogo o modelo RZ-RET GA PV GIII. Multifuncional, composto de sistemas como enxágue acionado pela presença de garrafas, tampador com selecionador de tampas automático, válvulas isobáricas, dupla pré evacuação com setup de tubos de ar para diferentes níveis de envase e sistema de lavagem em caso de explosão de frascos.
Já a Jopemar apresentou modelos de tanques e reservatórios feitos de aço inox e aço carbono para diversos tipos de bebidas. Os produtos possuem acabamento em soldas verticais, já o acabamento interno dos tanques é desenvolvido, na sua grande maioria, com soldas rebaixadas e polidas na grana 220. Além dos tanques, a empresa fabrica acessórios como abraçadeiras, sensores de nível eletrônico, registros borboleta e válvulas de esfera.
A SEW mostrou durante a feira sua linha de motores e conversores de freqüência, redutores industriais e sistemas descentralizadores. Destaque para o Motoredutor de engrenagem helicoidal Linha R que apresenta como principais características alta potência e longa vida útil.
Indústria busca equilíbrio com a natureza
Desde o início da primeira revolução industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII na Inglaterra, o esgotamento dos recursos naturais do planeta ocorre perigosamente. A partir da década de 90, foram realizadas diversas Conferências envolvendo os países mais industrializados com objetivo de reduzir os impactos ambientais.
Por conta disso, a maioria das corporações percebeu a importância de manter ações sustentáveis, que impactem a natureza o menos possível ou que ofereçam contrapartidas para os danos causados. Uma das soluções é a otimização das plantas e, consequentemente, a diminuição do desperdício.
A implantação de sistemas autônomos, uso de reguladores de vazão e a eficiência energética, são algumas das medidas tidas como primordiais para um sistema sustentável. Com base nessa visão, a Pall do Brasil trouxe para Fispal Tecnologia o filtro de estabilização microbiana Imperium, voltado para bebidas como vinho, cidra, cerveja. Uma das principais inovações do produto é a utilização de apenas um cartucho, que substitui até seis cartuchos de 30 polegadas, o que reduz a área ocupada em até 75% e o número de emendas do filtro, aumentando a vida útil, e reduzindo os custos operacionais em até 30%. “É um produto inovador. O tempo de vida útil do cartucho é muito maior, o que reduz o número de trocas e consequentemente o risco de manuseio. Os custos de filtragem também são reduzidos, assim como o risco de contaminação. É um produto que economiza energia elétrica e térmica e se encaixa perfeitamente nos conceitos da sustentabilidade. Notamos também que com o uso do Imperium, as cervejas, mantêm seu frescor por mais tempo”, detalha Helena Branco, gerente regional de Marketing, da Pall do Brasil.
A Danfoss também aproveitou a Fispal para apresentar sua linha de produtos totalmente adaptada aos ditames da Indústria 4.0. O maior destaque foi a apresentação do novo design do Frame E para diversos modelos de conversores de frequência. O volume até 73% menor dos equipamentos facilita a instalação assim como otimiza o espaço para cabeamento de acesso aos terminais. A empresa também trouxe sua nova linha de blocos de válvulas Flexlie ICF, que oferece soluções para controle multifacetadas, permitindo a economia em diversas áreas com a substituição de uma série de válvulas por um bloco único. Com isso, o produto reduz em até 50% do tempo de manutenção.
A GEA Group desenvolveu o DecantergMaster CF 4000. Utilizando o sistema GeaWestfalia summationdrive, o decantador possui ajuste de velocidade de acordo com a carga de sólidos. Esse método operacional permite a geração de sólidos mais secos e líquidos mais clarificados. “Este produto está conectado aos novos conceitos de mais eficiência com menos gasto energético. A Gea está muito preocupada com a questão dos impactos ambientais, por isso buscamos trazer equipamentos que se alinham melhor às novas tendências do mercado e que com sua economia diária, proporcionem aumento nos investimentos tecnológicos”, afirma Rogério Brighenti, gerente comercial da Gea.
Adaptação de maquinário antigo
A chegada da Indústria 4.0 já é uma realidade. Considerada a quarta revolução industrial, os novos conceitos estão cada vez mais latentes e os empreendedores que desejam permanecer competitivos no mercado devem se adequar ao novo modelo o quanto antes. Entretanto, a instalação de equipamentos de última geração gera calafrios nos empresários devido ao grande valor de investimento.
Porém, a migração para esse conceito industrial não precisa ser feita apenas com a troca total do maquinário. Ela pode ocorrer de modo mais acessível, conforme explica o professor pesquisador do Instituto Mauá de Tecnologia, Ari Costa. “Muitas pessoas pensam que para entrar na Indústria 4.0 é preciso se desfazer de todo o seu legado de máquinas e adquirir equipamentos totalmente novos. Mas, isso não é verdade. É possível alfabetizar as plantas mais antigas para que elas possam responder a sistemas integrados. É possível instalar sensores, ou algum tipo de inteligência para que as máquinas antigas conversem com o sistema. Lá na Mauá, por exemplo, instalamos dispositivos em um mecanismo com mais de 30 anos e ele interligou-se aos demais equipamentos. Essa operação teve um custo de cerca de R$ 10.000”.
Um exemplo da tecnologia citada por Costa é o Smart Sensor da ABB. Com sua instalação, simples motores tornam-se máquinas mais inteligentes, otimizando a produção, já que a redução do tempo de parada cai em até 70% e prolonga a vida útil do maquinário em até 70%. O dispositivo conecta o motor à Internet das Coisas, enviando dados operacionais para um servidor em nuvem, onde os dados são analisados e convertidos para otimizar a operação, proporcionando mais produtividade.
Industrializados lutam contra imagem negativa
Durante o fórum de abertura da 33ª edição da Fispal Tecnologia, entre os assuntos debatidos, destaque para as dificuldades que o setor de alimentos industrializados tem enfrentado para mudar a imagem negativa, que associa seus produtos ao aumento da obesidade e outras doenças da nova sociedade.
O aumento drástico de pessoas acima do peso tornou-se uma das maiores preocupações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Embora esse quadro necessite de análise mais ampla, abrangendo não só a dieta, mas também, os hábitos da sociedade atual, esse alimento industrializado foi eleito o principal vilão para uma “vida saudável”.
É com base nesse raciocínio que Raul Amaral, coordenador técnico da plataforma de Inovação tecnológica do ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), destacou três elementos-chave para tornar a relação entre o público e o setor mais transparente: a comunicação clara junto ao consumidor, a introdução de regulamentações adequadas para o segmento e a adoção de políticas esclarecedoras que possam melhorar a qualidade de vida da população. “É preciso um trabalho integrado para orientar o consumidor sobre a importância dos alimentos industrializados com base em estudos, não em crenças e mitos”.
A visão de Amaral é compartilhada pelo presidente da Abir (Associação Brasileira das Bebidas não Acoólicas), Alexandre Jobim, que reafirmou a necessidade de trocas de informações com os clientes, que atualmente estão mais exigentes e preocupados com o que irão ingerir. “Há necessidade de informar mais e melhor o consumidor e oferecer ainda mais opções para que ele tome suas decisões, inclusive modernizando a rotulagem como exemplo de evolução para que ele tenha informações ainda mais claras sobre os produtos”.
Jobim também afirmou que criar taxas adicionais para as bebidas com adição de açúcar não afetará a luta contra a obesidade, pois, em sua opinião, o sobrepeso é algo multifatorial. “A obesidade precisa ser analisada em toda a sua amplitude sem tornar vilão um ou outro produto. E taxar as bebidas açucaradas não é a solução. As experiências internacionais nos mostram isso.”
Durante a mesa de debates, Claudio Zanão, presidente da ABIMAPI (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados) lembrou da importância de estudos médicos sobre o assunto e criticou a adoção de dietas radicais como solução para a erradicação da obesidade. “Na dieta equilibrada você come de tudo e gasta mais para emagrecer, mas na retirada radical de alimentos do cardápio diário não leva a nada além do efeito sanfona.”