Cervejas, vinhos, destilados e outras bebidas buscam tecnologias
que permitam agilizar e flexibilizar suas linhas de produção
| CARLOS DONIZETE PARRA |
Plataforma número 1 em inovação e investimento, a drinktec encerrou o evento deste ano com recorde de visitantes e expositores, inclusive de brasileiros. Foram 1100 visitantes vindos do Brasil e 545 vindos da Argentina, um aumento de 165%, grande parte em virtude da realização do Simei, já que a Argentina é um grande produtor e exportador de vinhos.
Em virtude disso, a área de vinhos ganhou destaque com cerca de 20 mil metros quadrados de exposição onde 200 empresas mostraram equipamentos, embalagens e insumos para o setor vitivinícola.
Vinhos e cervejas cruzam seus caminhos em vários pontos tanto em aspectos tecnológicos como de mercado. O crescimento de um contribui para que o outro também se movimente em busca de inovações para seus produtos. Muitas das tecnologias oferecidas na drinktec tinham como alvo esses dois segmentos de mercado.
Vinhos
O setor mundial de vinhos aponta a sustentabilidade e a autenticidade como tendências para crescimento.
Principalmente no mercade de vinhos premium, esses fatores ganham cada vez mais importância. A marca deve comunicar e destacar palavras-chave como “cultura do vinho” e “tradição”. Outro ponto muito importante para o consumidor é a sustentabilidade, que deve influenciar cada vez mais os compradores de vinhos no cenário mundial. Isso se aplica, por exemplo, ao cultivo de uvas para elaboração de vinho orgânico, bem como aos aspectos de redução do consumo de água e energia nos processos produtivos. A drinktec ofereceu uma grande variedade de soluções para o uso racional desses recursos.
A autenticidade é um atrativo cada vez mais valorizado pelos consumidores. Um ponto de partida nessa direção é o regional ou até mesmo as uvas nativas – uma variedade de uva nativa cresce no lugar onde originalmente existia. Isso se apresenta como uma alternativa interessante para aqueles consumidores que querem um produto local, caseiro, deixando de lado produtos globais.
Um segundo passo para a autenticidade nos leva a vinhos de laranja e vinhos naturais. Eles ainda são um pequeno nicho, mas já são oferecidos em locais famosos e discutidos mais apaixonadamente nos fóruns de redes sociais. Na maioria dos casos, negócios bio-orgânicos ou bio-dinâmicos estão por trás de vinhos “naturais”.
Os vinhos são geralmente fermentados espontaneamente, isto é, sem fermento selecionado. Eles também não são sulfurados e filtrados, ou apenas em um grau leve. A menor tecnologia possível é o objetivo. Em termos de gosto, os vinhos são completamente fora do comum. Devido aos altos níveis de taninos, eles são ligeiramente amargos e apresentam tons herbáceos. Além disso, eles não têm uma quantidade muito baixa de aromas de frutas primárias. De acordo com os fabricantes artesanais este é um sinal real de autenticidade.
Destilados
Por sinal, o movimento artesanal também conquistou os destilados. Depois da avalanche de cervejas artesanais no mercado global, os destilados artesanais seguem o mesmo caminho. De acordo com pesquisas da Mintel, os destilados aumentaram os lançamentos de produtos em todo o mundo em cerca de 265% entre 2011 e 2015.
O estudo mostra que é principalmente a geração Y, nascida entre 1982 e 2000, que mais estimula a demanda por destilados e coquetéis artesanais. Nessa geração, a fidelidade à marca é pequena e as experimentações são sempre bem-vindas. Os destilados tradicionais, vinhos e espumantes estão recebendo misturas cada vez mais incomuns através de extratos botânicos, frutas exóticas, chá, café e vegetais.
Até o champanhe faz parte dessa tendência: Veuve Clicquot está tentando entrar no mundo dos coquetéis. Os ingredientes utilizadoss para essas misturas incluem pepino, aipo, paprica, gengibre, abacaxi e flores de hibisco.
História do vinho interessa Millennials
Enquanto isso, o que é particularmente interessante à geração de milênios quando se trata de vinho é a história por trás da marca. O conceito de vinhos assinados por jovens viticultores é, portanto, também a história de sucesso dos últimos anos.
Portanto, na comunicação, em vez de se concentrar no local de origem, variedade de uva, ou como o vinho foi produzido, eles preferem deixar que fotos, rótulos e nomes falem por si mesmos e, assim, contem uma história. Isso se encaixa perfeitamente na era das mídias sociais, em que o poder das imagens é trazido à nossa atenção diariamente. Apesar do crescimento do comércio eletrônico, em comparação com outras indústrias, os canais tradicionais ainda são de importância central para o vinho. De acordo com um estudo britânico, por exemplo, os milênios vêem o vinho como uma bebida social, que eles preferem consumir em bares ou restaurantes.
Cerveja artesanal em alta no mundo
Como acontece em vários países do mundo, o número de cervejarias artesanais na Alemanha também está em ascensão. De acordo com a Associação Alemã de Cervejeiros, já existem cerca de 1.400 cervejarias artesanais no país. E a marca de 1.500 deverá ser alcançada até 2020. A cerveja artesanal também está em pleno crescimento em outros países da Europa. Com volumes pequenos de produção, mas uma ampla variedade de produtos, as cervejarias artesanais encantam o mercado com suas criações diferenciadas. As grandes cervejarias também detectaram o potencial das artesanais e se apressaram em investir nesse mercado, ou comprando fábricas e marcas já existentes, ou lançando cervejas especiais para competirem nesse nicho. No Brasil, até o mês de junho eram 610 empresas nessa categoria e – em apenas cinco meses – foram mais 65 novos registros, somando 675.
A Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva) acredita que esse crescimento é apenas um reflexo do que está por vir. “O mercado está amadurecendo e a demanda do consumidor aumentando. A busca por produtos categóricos mostra que a exigência do cliente reflete na qualidade dos fabricantes”, afirma o presidente da entidade, Carlo Lapolli.
É importante salientar que as empresas ciganas não se enquadram nessa estatística. A maior parte da fabricação das bebidas se concentra nas regiões Sul e Sudeste, porém todas as regiões do Brasil estão investindo nesse tipo de produção. Para Lapolli, o paladar dos consumidores está mais refinado, o que torna o mercado das artesanais mais competitivo. “Hoje, a maioria dos bares oferece cervejas artesanais em razão da demanda dos consumidores. Muitos bares estão optando por disponibilizar apenas rótulos artesanais independentes ao invés dos comerciais”, diz.
Ele explica que há espaço para o crescimento e não é necessário um investimento exorbitante para o surgimento de novas cervejarias. “Normalmente a produção se inicia como ciganas. Assim, o consumidor pode optar por novos rótulos e as fábricas têm a opção de começar terceirizando o trabalho”, explica.
Especialmente atrativa entre homens e jovens
Pesquisa feita pela drinktec na Alemanha mostra que a cerveja artesanal está ganhando popularidade – mais de um terço dos alemães (36,5 por cento) já experimentaram (entre os bebedores de cerveja normais, a taxa é de 49%). As cervejas especiais são particularmente populares entre os homens. A bebida também é muito atraente para os jovens – mais da metade dos jovens entre 25 a 34 anos já experimentaram cerveja artesanal em algum momento.
Sabor que apaixona
Quase metade dos apaixonados por cerveja artesanal destacam o sabor diferenciado da cerveja artesanal, mostrando que esse é um dos atributos mais relevantes para o aumento do consumo da bebida. Cerca de 44 por cento dos bebedores de cerveja artesanal acham o sabor ainda mais atraente do que a cerveja tradicional. Portanto, não é nenhuma surpresa que 98 por cento desses consumidores tenham falado que voltarão a beber a cerveja artesanal e que também recomendarão o produto a seus amigos. E mesmo o preço substancialmente mais elevado não faz com que as pessoas deixem de consumir o produto – afinal, quase 40% dos consumidores alemães estão dispostos a pagar mais de 2,50 euros por uma garrafa de 0,33 litro.
Acredita-se que as cervejas especiais alemãs serão muito populares no futuro. A pesquisa confirma esta tendência: quase dois terços dos não consumidores de cerveja artesanal querem experimentar no futuro.
Dessa forma, era evidente que a cerveja artesanal desempenharia um papel importante na drinktec. Além do place2beer, uma espaçosa área para degustação, onde os visitantes puderam experimentar uma grande variedade de sabores e estilos, uma área especial foi montada para exposição de equipamentos, embalagens e ingredientes, para homebrewers e microcervejarias. A área Home & Craft foi muito movimentada durante o evento.
Novidades
Entre as palavras mais ouvidas na última edição da drinktec, sem dúvida estavam a personalização e customização. A digitalização, uma das principais tecnologias da Indústria 4.0 colabora muito para o desenvolvimento dos processos que permitem às empresas de bebidas avançarem nesse caminho.
Krones e Sidel apresentaram conceitos e protótipos de equipamentos e de fábricas inteligentes que ocuparão os espaços de muitas das atuais indústrias.
O Bottling on Demand da Krones é um conceito baseado na digitalização, permitindo uma produção mais flexível, eficiente e sustentável. O conceito demonstrou que é possível envasar e embalar produtos de forma segmentada, sem prejuízos à produção. O Bottling on Demand é composto por uma combinação de enchedora, máquina de impressão direta e transportadores inteligentes. Através desse conceito o produto final pode ser totalmente definido de modo individual, começando com a forma da garrafa, o conteúdo, a tampa, a rotulagem e até mesmo o código RFID – tudo isso através de um aplicativo.
A Sidel apresentou na drinktec soluções alinhadas às expectativas dos consumidores que demandam bebidas mais saudáveis, mais naturais e sem o uso de conservantes. Além disso, os consumidores estão procurando uma variedade maior de sabores. Para isso a empresa apresentou vários equipamentos e conceitos, entre os quais a Fábrica Estendida e o Aqflex.
As linhas de embalagem devem ser remodeladas seguindo o novo conceito de ‘layout desmaterializado’ da empresa. Os equipamentos individuais continuarão a ser usados, mas sem estarem conectados entre si. Os “sistemas ciberfísicos”, como são chamados no jargão da Indústria 4.0, são ilhas autônomas de produção inteligente que podem ser montadas ao lado das linhas de alta capacidade e das frequentes linhas de formato individual. Elas se comunicam com o seu entorno e são carregadas e descarregadas por meio de plataformas móveis, sem o uso de transportadores cruzados e qualquer inflexibilidade de layout. Podemos aplicar o princípio para lotes unitários e outros planos de produção: embalagens com sabores sortidos (rainbow packs) ou promocionais (embalagens de presente). Onde tanto as estações de preparação como as áreas de seleção usufruem de acesso permanente a todos os produtos necessários para produzir lotes sob demanda. Como não é possível a realização de lotes personalizados na mesma velocidade das mudanças de formato, a fábrica do futuro deve contar com uma logística de produtos semiacabados em suas linhas de produção.
A Gea também mostrou seu conceito de cervejaria 4.0, focada principalmente na redução do tamanho dos lotes de produção e na variedade de marcas e produtos que as cervejas especiais trabalham atualmente. O novo sistema reduz os tempos de fermentação e maturação sem comprometer a qualidade do produto final. A nova cervejaria concebida pela Gea deverá produzir através de processo contínuo e utilizará a digitalização como chave para transformar os dados dos fabricantes em comandos integrados a sensores capazes de executar decisões específicas de produção.
Fundada em 1677, a Kaspar Schulz é a mais antiga fabricante de cervejarias do mundo com clientes espalhados por mais de 60 países. Na fábrica de Bamberg, na Alemanha, aproximadamente 200 funcionários produzem cervejarias completas e totalmente automatizadas.
Com design compacto, a empresa apresentou a Craft Generation, uma sala de brassagem para 20 hectolitros, além de um novo sistema de filtração e o sistema dosador de lúpulo Schulz Rocket – S, flexível e higiênico, montado em skid o que facilita sua operação em diferentes tanques.
Com um portfólio bastante amplo de enzimas para cervejaria, a Du Pont possui soluções para vários problemas encontrados durante o processo cervejeiro. As enzimas da Du Pont possuem um excelente custo em uso, permitindo melhorar a qualidade das cervejas, além de reduzir custos e agilizar os tempos de produção. Na drinktec, a empresa realizou apresentações diárias de especialistas sobre as tendências do setor de bebidas. O destaque da feira foi a enzima Max Flow 4G para utilização em cerveja.
Representada no Brasil pela HRP, a Logopak, fabricante de etiquetadoras voltadas para diversos mercados, entre eles as indústrias de alimentos e bebidas, apresentou soluções para identifcação e rastreabilidade de paletes, barris e outras embalagens.
Com o conceito de Indústria 4.0 cada vez mais presente, a Etiquetadora Logomatic 500+ foi um dos equipamentos apresentados pela empresa na drinktec. Rápida, simples e muito flexível, pode ser configurada com mais de 30 diferentes tipos de aplicadores para etiquetagem em cima, embaixo, na frente ou nos lados dos pacotes, paletes ou caixas. A Logomatic 500+ imprime por Thermo-Direct ou por Thermo-Transfer, com bobinas de 35mm até 165mm de largura que podem ter até 800mts. O equipamento é fácil de manusear e já está disponível no Brasil.
Fornecedor de soluções para fabricação de bebidas, a Meura apresentou uma linha completa de filtração, entre eles o MVD (Membrane Vacuum Device).
Fornecedor mundial de rótulos e etiquetas especiais, Constantia Flexible mostrou a tecnologia Thermowash para garrafas retornáveis. Os rótulos Thermowash se soltam facilmente das garrafas no processo de lavagem, agilizando e simplificando o processo de reciclagem. Para garrafas plásticas, a Constantia apresentou a Spear RC, uma etiqueta sensível à pressão que também tem como característica se soltar facilmente da garrafa.
A Fermentis possui uma ampla gama de leveduras cervejeiras em seu portfólio no Brasil. Na drinktec apresentou a SafAle HA-18, recomendada para produção de cervejas que queiram atingir teor alcoólico bem elevado, 18%, dependendo do processo e do substrato com uma boa resistência à pressão osmótica e altas temperaturas de fermentação.
Também apresentou a SafAle BE-134, uma Saccharomyces cerevisiae, caracterizada por alta atenuação. Recomendada para cervejas belgas, com aroma frutado e notas de cravo.