Aumento da capacidade industrial, produção colaborativa e outras estratégias alavancam crescimento do mercado de artesanais no Brasil
* por Carlos Donizete Parra
Investir no mercado de cervejas artesanais requer ousadia e coragem e, acima de tudo, sabedoria para valorizar as experiências adquiridas no passado e perceber as nuances da realidade do presente, para então traçar um caminho a longo prazo. Novas cervejarias surgem a todo momento buscando formas para ampliarem suas vendas.
A cerveja, no Brasil, criou a cultura da pilsen. Fomos acostumados a beber só esse tipo de cerveja e também aprendemos que cerveja é uma bebida refrescante e para ser consumida em festas. Por um período esses argumentos de vendas surtiram efeito, os consumidores em sua maioria com baixo poder aquisitivo optavam pelos produtos com menor preço e as empresas fabricantes reduziam os custos oferecendo um portfólio pequeno de produtos. O ganho se dava no volume.Isso continua acontecendo, mas as opções aumentaram, seja aquelas oferecidas pelas grandes empresas ou os produtos disponibilizados pelas microcervejarias e fabricantes de cervejas artesanais.
Produto gourmet
Nas mesas dos restaurantes as bebidas são acompanhamentos indispensáveis nas refeições e, melhor dizendo, são fundamentais para o sucesso do prato servido. Aumentam consideravelmente a receita desses estabelecimento e, portanto, são imprescindíveis para o desenvolvimento do negócio.’A cerveja tem muito espaço para ser reconhecida como produto gourmet , os produtores ainda têm muito trabalho para mostrar como essa bebida é rica para a gastronomia’, explica o premiado Alex Atala, um dos mais prestigiados chefes de cozinha do Brasil em palestra durante a Degusta Beer&Food, realizada em junho, em São Paulo.
Para Alex Atala é impossível não associar comida e bebida numa refeição. ‘Elas são complementares’, diz ele. Nesse sentido, o vinho já é reconhecido mundialmente como parceiro da comida por chefs e clientes em restaurantes do mundo todo, cabe agora à cerveja buscar esse reconhecimento.Para outro renomado chef de cozinha, o francês radicado no Brasil Laurent Suaudeau, a cerveja pode fazer parte de uma das principais revoluções da gastronomia atual e, para isso, é preciso ousar, quebrar padrões e não querer fazer igual ao vinho, cada um tem suas características e, portanto a cerveja deve buscar seus próprios caminhos.’Os restaurantes também devem quebrar esses padrões e não criar sempre os mesmos pratos, é preciso propor algo diferente que harmonize bem com a cerveja’, explica o chef.
Segundo Laurent, a persistência também é importante, nem sempre o cliente aceita determinados pratos e harmonizações com bebidas logo de cara. ‘Muitas vezes elaboramos grandes receitas, com ingredientes fantásticos e, no final, esses pratos não vendem.É preciso persistir e continuar tentando.Acostumar o cliente a pedir também ‘o diferente’. A cerveja artesanal faz parte desse movimento de não ser escravo da massificação.A culinária também precisa tomar esse cuidado”, finaliza Laurent Suaudeau.
Aumento da capacidade produtiva
O brasileiro já possui o hábito de beber cerveja, o que as microcervejarias e cervejarias artesanais pretendem agora é que esses consumidores aprendam a beber uma cerveja diferenciada. Para isso, uma enxurrada de novas cervejas começam a fazer parte de cardápios de restaurantes e bares, além das prateleiras de supermercados e outros pontos de vendas espalhados pelo país.
O aumento do leque de opções só é possível com o crescimento da capacidade produtiva das fabricantes e do surgimento de novos produtores. As duas coisas estão acontecendo. Microcervejarias instaladas há vários anos no mercado sentiram que chegou a hora de expandir a capacidade produtiva, assim como empresas inauguradas há pouquíssimo tempo viram a demanda aumentar e começam a investir para ganhar participação no mercado.
Desta forma, a Cervejaria Brotas Beer, dois anos depois de sua fundação, planeja expansão da planta industrial para aumentar a capacidade de fabricação de seus produtos.
Em 2006, o então empresário do ramo de informática, Marcio Egea Secafin, começou uma empreitada para o que se tornaria a Cervejaria Brotas Beer. “Foi folheando as páginas de um jornal com uma matéria sobre fabricação de cerveja que tive meu primeiro insight. Resolvi sair do ramo de informática para me dedicar a esse mundo de sabores complexos e corpos incríveis. Mas só depois de muitos estudos é que eu consegui colar a Cervejaria de pé”, conta o empresário.
Seis anos depois, em 2012, a Cervejaria tomou corpo e forma. Com o investimento inicial na planta industrial, a capacidade de fabricação de cervejas era de 3.000 litros ao mês, servindo apenas o mercado local. “Com o sucesso dos rótulos entre os brotenses e turistas, eu não tive dúvidas de que precisaria fazer uma adequação na marca. Com nova identidade visual e planejamento de expansão”, relembra Secafin.
Em 2013, a Cervejaria ganhou o slogan “Cerveja com classe, mas nem tanto”. Que indica tratar-se de um produto fabricado com os melhores produtos do mercado, mas sem perder o bom humor e a leveza, que são a marca registrada da Brotas Beer. Ainda em 2013, a Cervejaria ganhou também um novo sócio, Eduardo Camillo, que passou a integrar a equipe e participou efetivamente da expansão da planta industrial e dos pontos de distribuição da empresa. “No início, a distribuição das cervejas estava restrita apenas à Brotas, onde possui aproximadamente 35 pontos de venda que abastecia 3000 litros ao mês apenas na cidade. Este número equivalia a capacidade total de produção. Com a mudança da planta e aumento do volume de produção para 25.000 litros por mês, se faz necessário aumentar os pontos de distribuição para assim ganhar espaço no mercado”, explica Camillo.
Fazem parte dos planos de expansão da Cervejaria cidades maiores e próximas à Brotas como Bauru, Jau, São Carlos, Araraquara e Ribeirão Preto. Também no eixo Brotas – SP, em cidades como Rio Claro, Americana, Piracicaba, Campinas, Jundiaí e São Paulo. “A distribuição, porém, não se restringirá a estas regiões, queremos estreitar os laços e consolidar parcerias com distribuidores de outras áreas mais afastadas”, completa Camillo.
Além da expansão na distribuição, novos rótulos entrarão no plano da marca que planeja lançar os estilos Bock e Red Ale. Hoje, estão disponíveis, em garrafa de 600 ml, os estilos Pilsen, Weissbier, Dry-Stout, Red Ale e Bock, além de chope barril de 10, 20, 30 e 50 litros.
O projeto do rótulo foi a peça final de um completo estudo de branding para a marca Brotas Beer. Ele exibe o personagem (Jacaré), minuciosamente criada para ser o “embaixador” da cervejaria e carrega conceitos de qualidade e refinamento, com leveza e bom humor.
A ideia do personagem nasceu como referência ao rio Jacaré Pepira, que corta a cidade de Brotas, mas muito mais que isso, busca uma conexão com um público alvo refinado. O Jacaré veste seu terno risca de giz – cuja referência extrapola sutilmente todo o rótulo – e aristocraticamente emoldurado em uma moldura dourada, o personagem chama atenção e cativa. “Decidimos exibir os textos conceituais sobre marca e as informações das harmonizações para que a garrafa pudesse interagir com o consumidor no momento do consumo. A garrafa e o rótulo acabam sempre virando assunto nas mesas e nas rodas. O rótulo é parte de um sistema integrado de branding, com elementos que são repetidos em todos os outros pontos de contato da marca. Foi intencionalmente pensado para chamar atenção e garantir sucesso no momento de decisão do consumidor seja na prateleira ou na geladeira”, finaliza.
Olivia IPAlito na garrafa
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Fundada em 2012, a Cervejaria Suméria, em Santo André, na Grande São Paulo, nasceu da amizade entre Marcelo Ribeiro, Sidnei Martins e Marcelo Bonato. Os sócios, através de estudos aprofundados e dedicação integral à bebida mais antiga do mundo, decidiram criar uma empresa que possui a amizade como principal ingrediente e a alegria como objetivo fundamental. Fundaram então a Suméria. Uma microcervejaria que segue os fundamentos da lei da pureza a fim de obter sempre uma cerveja de qualidade, baseada nos princípios básicos da bebida mais popular do mundo.
Depois de produzir vários estilos de cervejas, a cervejaria andreense lançou seu primeiro rótulo no estilo IPA, o Olivia IPAlito, feito em homenagem à Olivia Palito, personagem do desenho Popeye bastante presente na infância dos proprietários. Lúpulos frescos vindos diretamente dos Estados Unidos e maltes de primeira qualidade dão à Olivia IPAlito delicado, mas acentuado amargor e coloração intensa alaranjada. O teor alcoólico é de 5,4% e tem 59 IBUs.
O rótulo traz a personagem Olivia em um mar de lúpulos entre os marinheiros Popeye e Brutus, que como sempre, a disputam entre si. Olivia IPAlito está à venda em garrafas de 300 ml.
Harmonizações infinitas, cervejas também
As possibilidades de combinações de cervejas com pratos é infinita. Para qualquer prato servido em um restaurante ou preparado em casa temos uma variedade enorme de cervejas disponíveis no mercado. E isso depende , é claro, do gosto de cada um.Praticar essa experiência é um prazer que a cada dia aumenta mais no Brasil.Para que isso seja feito de forma mais organizada existem os cursos de sommelier de cerveja ou também é possível adquirir conhecimento através de livros e revistas especializadas.Os consumidores estão aderindo a essas práticas e cabe às empresas de bebidas entrarem nessa onda e conquistar esse público.
A Mr. Beer, uma das principais franquias de cervejas do país, desenvolveu uma ação de harmonização de petiscos e cervejas com a rede de padarias Benjamin Abrahão visando a promoção de seus produtos.
“As cervejas especiais possuem imensas possibilidades de harmonizações, até mais do que os vinhos. São essas diferentes combinações que transformam as degustações em excelentes experiências gastronômicas”, afirma Demian Salles, beer sommelier da Mr. Beer. Ele aproveita para dar algumas dicas de harmonizações com algumas cervejas norte-americanas que acabaram de chegar no Brasil.
Salles harmoniza os rótulos da tradicional cervejaria Hop Valley, Proxima e Alphadelic, com alguns dos petiscos criados pela rede de padarias Benjamin Abrahão. “Como as cervejas são bem amargas e refrescantes, com aroma frutado e cítrico, proveniente dos lúpulos americanos, o ideal é harmonizar com petiscos gordurosos, que tenham carnes vermelhas e opções apimentadas”, sugere Salles.
O beer sommerlier sugere o Trio de Mini Hambúrgueres, que combina perfeitamente com o amargor das cervejas. Feito com alcatra os hambúrgueres são servidos com três queijos: mussarela, prato e ementhal francês e no pão de mandioquinha. Acompanham exclusivo molho com redução de cerveja.
A porção de Pastéis de Carnes do Brasil também harmoniza perfeitamente com os rótulos. São três pastéis de carne moída com azeitonas verdes e ervas. Massa do tradicional pastel de “feira”, também feito com cachaça, o que deixa a massa leve e aerada. Acompanha vinagrete aromatizado com lúpulo.
A Mr. Beer tem mais de 80 unidades com, aproximadamente, 400 variedades, 70% delas importadas e mais de 100 exclusivas. E, ainda, iguarias como os bolinhos de feijoada e de camarão na moranga, salsichas alemãs, calabresa artesanal acebolada, tábua de frios mista, e outras, acompanham a degustação.
Cerveja com fondue
Se a cerveja harmoniza bem com petiscos, imagina então com fondue? Afinal, quem resiste a pedacinhos de file mignon envolvidos por creme de queijo quente ou frutas embebidas em chocolate derretido? Melhor ainda acompanhada de uma boa cervejinha.
Harmonizar o fondue com cervejas especiais é uma grande sacada para deixar a experiência gastronômica muito mais intensa e alguns estilos são perfeitos para tal combinação. Confira algumas possibilidades abaixo.
Fondue de queijo
O fondue com queijo pode ser feito com queijos mais leves, mais pesados ou com a mistura pronta do supermercado. Para cada caso, há uma cerveja específica que se encaixa melhor na harmonização. Se o fondue for feito com queijos mais pronunciados como o gorgonzola, o ideal é uma cerveja igualmente mais robusta como a Triple Secrets Des Moines. No estilo belgian trippel, o rótulo tem aroma frutado, sabor delicado, deliciosa acidez e equilíbrio perfeito com 8% de teor alcoólico.
Queijos mais adocicados como o Emmental ou Gruyere pedem uma cerveja mais leve e fácil de tomar. Estilos como o weiss, belgian ale, pilsen e blonde ale são os mais indicados. No estilo blonde ale, a Crew Republic Munich Summer, que é produzida com os lúpulos Tradition, Citra, Cascade, Comet, Amarillo e com os maltes Pilsener Malt, Munich Malt, Crystal Malt, cumpre a harmonização perfeitamente. A cerveja tem 22 IBU e 4,8% de teor alcoólico. Este rótulo também pode ser harmonizado com a mistura pronta de supermercado.
Fondue de chocolate com frutas
Para harmonizar o fondue com chocolate, a dica é uma cerveja mais encorpada, que tenha notas de torrefação e teor alcoólico mais elevado. A 8 Wired IStout, no estilo russian imperial stout, tem alto amargor e 10% de álcool, o que casa totalmente com a sobremesa, e o chocolate, por sua vez, destaca as características naturais da cerveja.
Fondue com molhos condimentados
Depois de fritos os pedaços de carne, é comum combiná-los com molhos condimentados, como o barbecue, mostarda, mango chutney etc.
Nesses casos, a harmonização deve ser feita com uma cerveja mais lupulada e com teor alcoólico mais elevado, como é o caso da Fuller´s India Pale Ale, uma IPA com 5,3% de teor alcoólico, aroma floral e leve toque de lúpulos picantes que terminam num tom frutado. A Fuller´s IPA tem alto amargor, no entanto, o retrogosto não é agressivo, mas bastante refrescante.