Produtos saudáveis e naturais ganham a preferência do consumidor e movimentam o mercado de sucos no Brasil
Por Carlos Donizete Parra
O mercado brasileiro de sucos vem crescendo a taxas acima de 10% anualmente nos últimos anos. É certo que a base de comparação para essa categoria de produto era muito baixa, já que o brasileiro não tinha como hábito o consumo de sucos prontos para beber.
O suco 100% cresceu 258,2% em volume em uma década, segundo estudo realizado pela Consultoria Marketstrat a pedido da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).
Apesar da alta taxa de crescimento, os volumes ainda são pequenos chegando a apenas 67 milhões de litros.
O estudo apresenta ainda o aumento do consumo no mercado nacional de outras bebidas industrializadas, como o café que saltou, em uma década, de 9,807 milhões de litros para 14,704 milhões, um aumento de quase 50%. Ou o chá que tinha, em 2005, um volume consumido de 544 milhões de litros e passou para 1,099 milhões de litros em 2015, mais que dobrando o volume em apenas 10 anos.
Categorias como o leite que já possui uma base de consumo elevada obtiveram um percentual mais modesto (2,9%) mas que representa um volume muito substancial e que propicia aos empresários retorno e capacidade de investimento em novas tecnologias e processos que permitam a continuidade de crescimento.
Esses dados mostram o potencial de crescimento que ainda temos no mercado brasileiro de sucos, e em especial os desafios e oportunidades para os próximos anos.
Suco 100%
O brasileiro ainda não sabe a diferença entre bebida mista, néctar e suco 100%. Até pouco tempo atrás, suco de fruta (principalmente o de laranja) só extraído da fruta pelo próprio consumidor.
Ainda hoje, o suco de laranja pronto para beber enfrenta uma grande rejeição devido à forte tradição brasileira em consumir sucos feitos em casa. Segundo pesquisa da Mintel, o suco natural – feito diretamente da fruta – foi consumido por 86% dos entrevistados pelo menos uma vez durante seis meses anteriores a abril de 2015.
Consomem o suco com muita frequência foi a resposta de 69% que afirmaram consumir esse produto pelo menos uma vez por semana, e 27% uma vez por dia. Os consumidores acima de 55 anos apresentam o maior consumo diário, com 34% afirmando beber sucos frescos uma vez por dia ou mais.
Frequência de consumo de sucos e refrescos de fruta – Abril/15
Fonte: Ipsos Observer Brasil/Mintel
O mesmo estudo produzido pela Mintel mostra que os brasileiros são grandes consumidores de sucos e refrescos de frutas. Segundo a pesquisa, 97% dos entrevistados afirmaram ter consumido pelo menos um tipo de produto desta categoria durante os seis meses anteriores a abril/15. A freqüência mais alta é a diária, com 60% dos entrevistados afirmando consumir a categoria “uma vez por dia ou mais”.
A penetração da categoria de sucos e refrescos de fruta no Brasil é semelhante en-tre homens e mulheres, mas é geralmente maior entre os consumidores jovens (16 a 24 anos, 99%), e entre os consumidores da classe AB (99%). No entanto, segundo o estudo, sucos e refrescos de fruta têm uma grande penetração entre toda população brasileira.
Mesmo com a grande disponibilidade de frutas no Brasil, a conveniência e tendência cada vez mais frequente do consumo de produto saudáveis empurra o crescimento dos sucos prontos para beber. O consumo do produto ainda é muito pequeno no Brasil, mas as expectativas de crescimento são boas. Para se ter uma ideia o consumo per capita de suco 100% no Brasil é de 0,4 litro, enquanto nos Estados Unidos o consumo é de 18 litros por habitante, Canadá 29 litros, França 21,3 litros e na Alemanha, 23,4 litros por habitante/ano.
Isso demonstra que o potencial dentro da categoria de sucos é muito grande, sem falar no potencial existente dentro da categoria total de não alcoólicos. Os sucos 100% representam 0,1% do total de sucos consumidos, enquanto os néctares representam 1,3%.
Oportunidades
Existe, portanto, uma oportunidade de crescimento tanto no volume quanto na receita. O mercado de sucos em geral, que inclui integral, 100%, néctar, bebida mista, suco concentrado, suco em pó e refrescos, faturou em 2014, incluindo as bebidas de soja, R$ 12,9 bilhões. Do total, os néctares e sucos respondem por R$ 4,2 bilhões, enquanto bebidas mistas e refrescos faturaram R$ 3,9 bilhões e a categoria de suco em pó por R$ 3,083 bilhões.
O sabor mais consumido continua sendo o de uva com 31%, seguido da laranja com 16%, pêssego (15%), maracujá (8,4%), goiaba (7,7%) e a manga com 6,9%.
Saudáveis e naturais
A crescente procura por hábitos mais saudáveis abre um leque de oportunidades para todas as opções, mas sem dúvida, os sucos 100% são a “menina dos olhos” dos consumidores. Todos querem um produto mais natural, sem conservantes e sem adição de açúcar.
A utilização de aditivos não naturais ganha extrema importância para os consumidores. Para um grande número de pessoas esses aditivos são um impeditivo para a compra. Segundo estudo global do Instituto TNS, encomendado pela GNT, fabricante mundial de ingredientes, no topo da lista negra dos consumidores estão os conservantes, os corantes e os edulcorantes artificiais visto que 60% dos consumidores evitam esses produtos ao comprarem alimentos e bebidas.
Segundo a pesquisa, um baixo teor de gordura é um fator importante para 53% dos consumidores, ao passo que 51% procuram por produtos com teor de açúcar reduzido.
A pesquisa mostra, ainda, que quatro categorias receberam atenção especial: bebidas não-alcoólicas, doces, iogurtes e sorvetes. O iogurte é a categoria percebida como mais natural. Dois terços dos participantes da pesquisa rejeitam aditivos neste produto. Se esta exigência não for atendida a confiança do consumidor pode ser afetada de forma prolongada.
Frequência de consumo de sucos e refrescos de fruta por tipo – Abril/15
Fonte: Ipsos Observer Brasil/Mintel
No que diz respeito às bebidas não alcoólicas os consumidores aceitam – mas não aprovam – a utilização de ingredientes artificiais com maior frequência: mais da metade dos participantes consideram que geralmente esses produtos contêm ingredientes artificiais. No entanto, mais de uma pessoa em cada três estaria disposta a comprar sucos, doces, sorvetes e produtos semelhantes com maior frequência se estes fossem produzidos com ingredientes naturais.
Aumentando as vendas
Como em todo negócio, o segredo para o sucesso é encontrar um diferencial para seu produto e poder navegar sem muitos sobressaltos, a não ser aqueles já triviais da economia brasileira: má gestão governamental, corrupção, falta de infra-estrutura de estradas, alta tributação etc.
Depois de lançar em 2007 a primeira caipirinha pronta inteiramente natural no mercado brasileiro, o empresário Ricardo Ermírio de Moraes deu uma nova cartada na área de bebidas. Com experiência anterior em virtude dos negócios do Grupo Votorantim nessa área, Ricardo investiu na implantação da Natural One, inaugurada em 2014, na cidade paulista de Jarinú. Os sucos da Natural One foram lançados no mercado com o diferencial de ser um produto integral que passa por um processo de pasteurização a frio para preservar as propriedades da fruta. Para mostrar ao consumidor as diferenças entre um néctar, uma bebida mista e um suco integral, a empresa estampa nas embalagens a quantidade exata de frutas usadas – um recipiente de quatro litros contém 56 laranjas, nada de suco concentrado.
Outro diferencial são as embalagens PET em formato quadrado com um design inovador também para as tampas e rótulos.
A sucos “do bem”, escrito assim mesmo com letras minúsculas, já está no mercado desde 2007 com produtos naturais e sem conservantes vendidos em embalagens cartonadas da Tetra Pak. Fundada pelo carioca Marcos Leta, que nada tinha a ver com suco, mas que sempre foi adepto de produtos naturais, a empresa mantém o escritório no Rio de Janeiro, mas a fábrica arrendada para a produção de suas bebidas fica em Dobrada, uma pequena cidade do interior de São Paulo.
Um dos principais diferenciais da do bem foi a construção de uma marca voltada principalmente para pessoas que têm na alimentação um estilo de vida. Esse público não para de crescer seja aqui no Brasil como em qualquer parte do mundo, o que permite aos fabricantes explorarem também o mercado internacional.
A do bem ampliou sua linha de sucos com diversos sabores e formatos de embalagens e, recentemente, investiu em uma linha de chás e em barrinhas naturais.
O empresário Edson Mazeto Júnior vem se destacando no setor com a Juxx, marca nacional de sucos funcionais. Ele trabalhava como gerente de uma multinacional que trouxe o suco de cranberry para o Brasil. Questões comerciais motivaram a empresa a vender a operação para Edson, que desembolsou, em 2007, R$ 2 milhões.
Ele então adaptou o produto para o paladar brasileiro, começou a fazer divulgação para a área médica e mudou o conceito de distribuição – passou a atender de grandes redes até o consumidor final. O foco da empresa são bebidas que promovem a manutenção da saúde, isto é, que tenham propriedades que hajam a favor do organismo, prevenindo doenças. Todos os sucos da marca são reconstituídos por utilizarem concentrados como matéria-prima. Os sucos da Juxx são envasados assepticamente a frio em embalagens cartonadas. Na linha de latas, os produtos são pasteurizados e envasados a quente.
A linha aumentou e conta, atualmente, com os sabores romã, ameixa, frutas vermelhas e blueberry.
Mais recentemente, a Juxx lançou OX-Mune, um suco que potencializa a imunidade do organismo. Ele é feito com frutas amarelas e vegetais e não contém sódio.
A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é a ingestão de menos de 2 gramas de sódio por dia, portanto, ultrapassar esse limite significa expor a saúde a diversos problemas como doenças cardíacas e derrames.
No dia a dia, sem perceber, as pessoas consomem muito sódio, principalmente nos alimentos industrializados, que concentram altas quantidades do mineral. “Muitas vezes as pessoas passam a consumir algo por ouvir falar que é saudável, mas esquecem de verificar a quantidade de sódio presente no produto. O X-Mune, além de ser funcional, não oferece risco a hipertensos, por exemplo, pois não contém sódio”, explica Edson Mazeto Junior, fundador e diretor da marca.
Entre os ingredientes da novidade estão a laranja, manga, acerola e cenoura, além do Composto XIV (Xtreme Immune Vitamin), que é uma fonte de vitaminas e minerais exclusiva da Juxx.
X-Mune não conta com adição de açúcar, corantes, conservantes e aromatizantes artificiais e ainda é livre de qualquer tipo de espessante ou estabilizante. Além disso, é rico em vitaminas A, C, E e B6, Selênio e Zinco.
“O desafio da Juxx é sempre lançar produtos pioneiros e inovadores, e ainda criar a cultura de consumo deles. As oportunidades desse mercado são ilimitadas, mas é preciso criar algo que agrade o paladar, tenha apelo saudável ou funcional e com custo acessível”, explica Ed-son Mazeto Júnior.
Integridade do sabor
Quem busca uma alimentação saudável e em harmonia com o meio ambiente pode encontrar como nova aliada a linha de sucos orgânicos da Fazenda da Toca. Disponíveis em quatro sabores – laranja, tangerina, goiaba e manga -, os produtos são livres de conservantes e corantes, além de contarem apenas com o açúcar da própria fruta.
O cuidado com o meio ambiente está presente também nas garrafas. Produzidas pela Owens Illinois (O-I), as garrafas de vidro são reutilizáveis, 100% recicláveis, além de preservar as características dos sucos e destacar suas cores naturais.
Os sucos da Fazenda da Toca são produzidos de acordo com os princípios da agricultura biodinâmica, técnica que vai além da orgânica, pois não utiliza adubo, aditivos, inseticidas químicos e resgata práticas ancestrais de cuidado com o solo, como a observação das fases da lua e do ritmo da natureza para definir os momentos de plantio e colheita. A embalagem acaba de receber o Prêmio Abre da Embalagem Brasileira 2015, na categoria Design Gráfico.
Envasados à quente e com rígido controle de temperatura e tempo durante a pasteurização, os sucos da Fazenda Toca têm os processos de produção controlados desde a seleção das frutas até a venda do produto ao consumidor final. Entre os desafios enfrentados pela empresa para vender seus produtos no mercado estão as questões regulatórias. Segundo João Carvalho, gerente de produtos da Fazenda da Toca, a legislação para bebidas e sucos mistos no Brasil é muito confusa.
“Outros entraves para o crescimento do mercado de sucos são os canais de distribuição para produtos frescos e a margem de lucro muito alta de varejistas para produtos premium, dificultando o giro. Além da qualidade da matéria-prima e a limitação tecnológica para produção de orgânicos em escala”, diz o executivo.
Suco de uva brasileiro
Sabor mais consumido no mercado brasileiro, o suco de uva tem o dobro de market share do segundo colocado, a laranja.
Com uma podução de cerca de 1 milhão de litros na safra de 2015, a Vinícola Peterlongo é um dos fabricantes que representam a supremacia do suco de uva no Brasil.
O processo de produção da empresa consiste no aquecimento (65oC) da uva esmagada em termomacerador tubular (tubo em tubo), que tem como finalidade extrair os compostos fenólicos responsáveis pela cor presente na película. Posteriormente a esse processo o suco segue para envase, que é realizado a quente, 90oC. Depois, o suco é resfriado bruscamente a 38oC no engarrafamento. “Esta prática é utilizada porque não adicionamos nenhum conservante químico”, explica Deise Tempass, enóloga da empresa.
Dentro do portfólio de produtos da vinícola, o suco integral premium Casa Peterlongo apresenta coloração intensa e encorpada, típica das variedades de origem, sem adição de água, açúcar e nenhum conservante. Em comemoração ao Centenário da empresa, completado em outubro deste ano, o rótulo deste produto traz uma aquarela pintada pelo artista plástico Anastácio Orlikowski, em 1999, que retrata o Castelo Pertelongo, construção de 1930 e que segue os padrões da região de Champagne, na França, e suas instalações incluem o varejo e a cave subterrânea em pedras basálticas.
Refrescância com preço acessível
A ebba empresa brasileira de bebidas e alimentos S/A detém as duas maiores marcas de sucos concentrados do País, Maguary e Dafruta, além de um portfólio completo com mais de 200 produtos desde sucos concentrados, sucos prontos para beber, chás, água de coco e purês de frutas. Com quatro modernas unidades industriais, duas em Aracati (Ceará) e duas em Araguari (Minas Gerais), concretizou, no último ano, um processamento de aproximadamente 40 mil toneladas de fruta e produção de mais de 200 milhões de litros de suco. ‘Temos o maior mix de sabores e um portfólio completo de sucos concentrados, néctares, opções de néctar com pedaços de frutas, sucos 100% e purês de frutas. Nossos produtos seguem rigorosos processos de produção com envase a frio e asséptico. Nossa tecnologia conta com uma linha de pasteurizadores que possibilita que o produto seja envasado na temperatura correta, garantindo qualidade superior. Também contamos com uma eficiente tecnologia de esterilização de nossas embalagens’, explica Daniela Bolletta, gerente de comunicação e marketing da ebba.
A demanda por produtos cada vez mais saudáveis beneficia esse mercado e abre um leque de opções para os fabricantes. Para explorar novas possibilidades, a ebba procura diversificar seu portfólio através de novos sabores e embalagens de acordo com as diversas ocasiões de consumo. ‘Nas gôndolas dos supermercados dos Estados Unidos e Europa, regiões mais maduras na categoria de sucos prontos para beber, a embalagem PET é amplamente encontrada em produtos diferenciados, premium e de alta qualidade. Entre as inovações da Maguary em 2015, a principal delas foi o lançamento dos prontos para beber Caju, Goiaba, Laranja, Tangerina e Maçã em uma embalagem de 1,5 L, tamanho família. Além disso, as bebidas com pedaços de fruta de verdade também são tendência e no Brasil, os néctares com pedaços são inéditos na linha Maguary Pedaços. Nossa intenção é proporcionar aos consumidores uma verdadeira experiência sensorial’, explica Daniela Bolletta.
Linha de funcionais
Seguindo a linha de produtos funcionais, a Ultrapan acaba de desenvolver a linha Frutaria Funcionais, néctares e bebidas mistas, de baixa caloria e com mix de frutas e vegetais. Disponíveis nas versões Detox, Antiox e Osteo, os lançamentos têm como foco o público preocupado com a saúde e o bem estar. “As bebidas funcionais são uma forte aposta da indústria alimentícia para atender à crescente demanda de consumidores preocupados com a qualidade dos alimentos ingeridos. Inovação é uma das características da Ultrapan”, ressalta a gerente de marketing, Vivian Zamoner.
Combinação de maçã, cenoura, pêra, abacaxi, água de coco, gengibre, couve e limão, o néctar Frutaria Detox tem apenas 35 kcal em 200 ml, 0% de sódio e sem adição de açúcares, conservadores ou adoçantes artificiais, com 40% de polpa na formulação.
“Conseguimos unir a boa concentração do suco com baixa caloria, preocupação importante para quem faz dieta e busca o benefício funcional dos alimentos”, explica Vivian Zamoner.
Já o néctar misto de maçã, cranberry, framboesa e blueberry, nova opção da Linha Frutaria Funcionais, possui 40% de polpa de frutas vermelhas, conhecidas pelo seu potencial nutritivo e alto poder antioxidante, com atuação no combate a doenças e ao envelhecimento. E, por fim, o Osteo, uma bebida que leva colágeno e cálcio em sua fórmula e é indicada para prevenir a osteoporose e problemas ósseos em mulheres e homens, uma vez que atua no fortalecimento dos ossos e melhora as articulações.