Alternativas saudáveis e sustentáveis

O mercado de bebidas plant-based deve atingir aproximadamente 380 bilhões de dólares
até o ano de 2027. A crescente demanda vem registrando um aumento
significativo no portfólio e marcas disponíveis ao consumidor

 

Por Thais Martins

 

“Apesar dos avanços, há desafios a serem enfrentados no campo regulatório e tributário, que envolvem disseminar
o conhecimento sobre o significado de plant-based”,
FELIPE Carvalho e RODRIGO Carvalho, a Tal da Castanha

O movimento em direção a uma alimentação mais nutricional tem impulsionado uma transformação no setor. Segundo um estudo do Market Research Future de 2022, o mercado de bebidas plant-based deve atingir aproximadamente 380 bilhões de dólares até 2027. Produzidas a partir de ingredientes de origem vegetal, como frutas, vegetais, nozes, sementes e grãos,as bebidas são consideradas alternativas mais saudáveis e sustentáveis aos produtos lácteos e outros itens convencionais por serem geralmente livres de lactose, colesterol e conservantes artificiais.

Felipe Carvalho, diretor da A Tal da Castanha, analisa a crescente demanda com um aumento significativo no portfólio e marcas disponíveis ao consumidor. “Estamos presenciando uma verdadeira revolução no setor, com empresas adaptando seus parques fabris para atender a essa nova demanda, proporcionando uma nova fonte de negócios e diversificando o perfil de produtos em suas unidades”, afirma. O empresário também ressalta que apesar dos avanços, há desafios a serem enfrentados no campo regulatório e tributário, que envolvem disseminar o conhecimento sobre o significado de plant-based.

“A venda de leites vegetais chegou a
US$ 980 milhões em 2022, representando um aumento de 17% em relação ao ano anterior”, RAQUEL Casselli, GFI Brasil

Os números crescem

Apesar de ainda ser uma indústria modesta, as bebidas plant-based demonstram um crescimento impressionante. Raquel Casselli, Diretora de Engajamento Corporativo do GFI Brasil, informa que a venda de leites vegetais chegou a US $980 milhões em 2022, representando um aumento de 17% em relação ao ano anterior. Já a venda de iogurtes vegetais cresceu 21% em 2022, chegando a US$ 8 milhões. Enquanto isso, a venda de carnes vegetais chegou a US$ 271 milhões em 2022, representando um crescimento de 36% em relação a 2021. Os dados são de uma publicação do Stateof The Industry, publicado pelo GFI.

“Há uma série de ingredientes que já vêm sendo utilizados como base das bebidas , mas é importante ter atenção também para o approach junto ao consumidor como fonte de proteínas ou como alimento funcional”, LUIS Madi, Diretor de Assuntos Institucionais do Ital

Com tanto potencial, uma questão que surge é: quais são os desafios na busca por novos ingredientes para este mercado? Para Luis Madi, Diretor de Assuntos Institucionais do Ital, há uma série de ingredientes que já vêm sendo utilizados como base das bebidas como o amendoim, o arroz, a avelã e o coco. “No entanto, para formulações, há uma série de potenciais novos ingredientes que possibilitam, por exemplo, a inclusão de fibras, a redução de açúcares e sódio, a obtenção de aromas e sabores. Outro ponto de atenção é o approach junto ao consumidor como fonte de proteínas ou como alimento funcional”, pondera.

“Os diversos biomas oferecem amplo potencial de plantas a serem exploradas e que podem ajudar a promover uma transformação do plant-based no país”, LUIS Aguiar, Duas Rodas

Como acelerar o processo de plant-based no Brasil?

O Brasil é um país com uma grande variedade de opções naturais e oportunidades de negócios. Luiz Aguiar, gerente de marketing da Duas Rodas, afirma que os diversos biomas oferecem amplo potencial de plantas a serem exploradas pela categoria e que podem ajudar a promover uma transformação do plant-based no país. “Mas, é preciso também considerar que o hábito de consumir apenas o que já é conhecido é um fator limitante. O brasileiro é um povo muito fiel ao produto, o que é um desafio para as empresas do segmento, e uma dificuldade para se conseguir fazer um comparativo com outros países”, explica.

Bebidas lácteas X Clean label

Existem diversas opções de bebidas lácteas plant-based no mercado. De acordo com o diretor da A Tal da Castanha, essas alternativas são geralmente feitas a partir de grãos, sementes ou leguminosas, e podem ser enriquecidas com vitaminas e minerais. “Algumas das opções mais comuns são leite vegetal de castanha de caju, amêndoas, aveia, coco ou castanha de caju com coco”, enumera.

Já os produtos clean label são aqueles que contêm poucos ingredientes e não possuem aditivos químicos, como corantes, conservantes, estabilizantes e outros componentes artificiais. É um mercado recente e com muitas dúvidas, uma vez que está sendo estudado pelos órgãos regulamentadores e pelo fato de não haver uma legislação específica para esta categoria de produto no Brasil.

“O grande desafio para os produtos clean label é manter o produto minimamente processado, sem adição de corantes e de tudo aquilo que sabemos que quanto menos fizerem parte do processo melhor para mantê-lo mais saudável e mais natural possível”, RICARDO Laurino, Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), sustenta que esses produtos trabalham em harmonia entre dois pontos, “que é encontrar equilíbrio entre o sabor, a experiência, o aroma e a textura da bebida, mas, ao mesmo tempo, manter o produto minimamente processado, industrializado, sem adição de corantes e de tudo aquilo que sabemos que quanto menos fizerem parte do processo melhor para mantê-lo mais saudável e mais natural possível”. Para ele, esse é o grande desafio de trabalhar com produtos clean label.

Desafios

“Acreditamos que para acelerar a transformação plant- based precisamos analisar o papel da indústria, do estado e dos consumidores. Olhando do ponto de vista da indústria de alimentos e bebidas, ainda há oportunidade para as marcas apostarem em outras categorias além dos leites vegetais e os análogos cárneos, que hoje são os dois produtos que mais lideram lançamentos no Brasil”, acredita Sarah Minami, Coordenadora de Design & Application da Mastersense.

“Do ponto de vista da indústria de alimentos e bebidas, ainda há oportunidade para as marcas apostarem em outras categorias além dos leites vegetais e os análogos cárneos”, SARAH Minami, Mastersense

Para ela, existe um desafio de desenvolvimento de produtos com experiências sensoriais, tais como as de origem animal. “Graças às tecnologias em ingredientes e aromas, já conseguimos entregar excelentes produtos à base de plantas, mas precisamos vencer a barreira de percepção do consumidor, que entende que esses produtos podem não ser tão gostosos ou saborosos”.

Já para a Coordenadora de Marketing de Categoria da Mastersense, Laura Matiola, outro desafio da indústria que impacta o avanço desse setor é o custo apresentado ao consumidor final. “No caso dos leites vegetais, por exemplo, há uma diferença grande na tributação que faz com que eles saiam muito mais caros que os leites de origem animal, o que envolve então um terceiro influente para esse avanço: o estado. Além disso, a escala de produção ainda é menor, o que também impacta no custo final”.

“No caso dos leites vegetais, por exemplo, há uma diferença grande na tributação que faz com que eles saiam muito mais caros que os leites de origem animal, além disso, a escala de produção ainda é menor, o que também impacta no custo final”, LAURA Matiola, Mastersense

No quesito consumidores, é preciso mobilizá-los cada vez mais sobre o impacto ambiental através de seus hábitos alimentares. “Hoje, no Brasil, a sustentabilidade tem menos peso que a saudabilidade. Já na Europa, vemos esse cenário diferente e uma maior mobilização em relação à sustentabilidade ambiental. As questões de ética social e sustentabilidade são cada vez mais relevantes para as gerações mais novas, como a geração Z. Portanto, em resumo, o avanço desse mercado no Brasil depende de diferentes atores, cada um deles pode impactar no outro, sendo um impulsionador dessa mudança”, diz Laura.

“As bebidas lácteas vegetais têm uma pegada de carbono bem menor que os leites animais, as emissões são quase dez vezes menores do que as do leite de vaca”, GIOVANA Meneghel, Nude

Posicionamento empresarial

Fundada em 2020, a Nude é uma foodtech que desenvolve seus alimentos a partir da aveia. “Comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e suas metas de mitigação climática, somos a primeira marca da América Latina a calcular todas as etapas da cadeia produtiva e estampar a pegada de carbono na embalagem. Fizemos isso, porque nosso objetivo é ajudar a indústria e o consumidor na transição para uma economia de baixo carbono”, aponta a CEO e co-fundadora da marca, Giovanna Meneghel.

Além de ser composta por vários nutrientes, como proteínas, cálcio, fósforo, ferro, manganês, potássio, vitamina A, vitaminas do complexo B e vitamina E, a aveia tem uma performance ambiental extremamente interessante. “As bebidas lácteas vegetais têm uma pegada de carbono bem menor que os leites animais – as emissões são quase dez vezes menores do que as do leite de vaca, segundo os índices dos pesquisadores Poore e Nemecek. É muito mais do que plant-based”, diz Giovanna.

Crédito Foto: Angelo Dalbo

A aveia também é a aposta da Natural One que lançou sua primeira bebida vegetal. A escolha se deu por três motivos: a facilidade de sourcing no Brasil – uma vez que o país é um grande produtor do cereal, – tornando o insumo mais acessível e com melhor custo-benefício se comparado a outras matérias-primas como castanha e amêndoa; tem um ciclo de plantação mais curto, o que amplia a oferta no mercado; e, o mais importante, trata-se de um dos cereais mais nutritivos.

“Partindo da inovação, tecnologia e sustentabilidade, a companhia investiu mais de R$ 3 milhões em dois anos de pesquisas, desenvolvimento, produção, ajustes fabris, campanhas de comunicação entre outros ao lado de importantes parceiros nesta co-criação como a Pronutrition, foodtech de inovação aberta em alimentos e bebidas saudáveis que apoia empresas no desenvolvimento de novos produtos”, revela o CEO da Natural One, Rafael Ivanisk. As bebidas vegetais chegam ao mercado brasileiro inicialmente em quatro sabores: Tradicional/Original, Cappuccino, Cacau e Frutas Vermelhas.

 

 

 

“Partindo da inovação, tecnologia e sustentabilidade, a Natural One investiu mais de R$ 3 milhões em dois anos de pesquisas, desenvolvimento, produção, ajustes fabris, campanhas de comunicação para o lançamento das bebidas vegetais”, RAFAEL Ivanisk, Natural One

Saudáveis e sustentáveis

O mercado de saudáveis movimenta mais de 100 bilhões de reais, considerando nesse total desde itens orgânicos aos produtos plant-based, segundo dados da Euromonitor International. Nos últimos anos, o varejo em geral recebeu uma enxurrada de lançamentos desses produtos, fazendo o faturamento crescer globalmente cerca de dois dígitos anualmente desde 2015.

Para a Gerente da Tovani Benzaquen Ingredientes, Cristina Mazzini, os processos de obtenção das proteínas evoluíram muito e, com isso, é possível obter ingredientes que contribuam para a funcionalidade, estabilidade e corpo das bebidas, e ainda entreguem o benefício do high protein associado ao apelo de 100% vegetal.

“A Tovani Benzaquen tem como missão entregar soluções naturais, saudáveis e sustentáveis aos clientes, sendo a proteína de ervilha uma das soluções mais completas desse portfólio. E também é um produto que se enquadra perfeitamente nas questões ambientais que todas as indústrias necessitam para o bom desenvolvimento dos negócios. A proteína de ervilha é a que gasta menos água na cadeia de produção. Ela emite 19 vezes menos carbono na atmosfera do que a proteína de origem animal. Em termos nutricionais apresenta o aminograma mais similar ao da proteí­na animal.

“Temos uma linha extensa de soluções para formulação de produtos plant-based, funcionais e clean label. Soluções naturais, saudáveis e sustentáveis para as necessidades atuais do mercado”, CRISTINA Mazzini,
Tovani Benzaquen Ingredientes

Além disso, é livre de gordura saturada, colesterol, lactose, alergênicos e possui maior digestibilidade. Atualmente, é possível desenvolver um produto plant-based usando apenas uma fonte de proteína vegetal que disponibilize a maioria dos nutrientes buscados pelos consumidores. No entanto, sempre há a necessidade de mantermos uma dieta balanceada e rica de micro e macronutrientes, como fibras, vitaminas, sais minerais e proteínas”, destaca Cristina Mazzini.

 

Bebidas de cereais

O mercado para produtos plant based no Brasil apresentou crescimento de mais de 70% apenas entre 2015 e 2020, chegando ao final deste período com um valor aproximado de US$ 83 milhões, segundo estudo divulgado pela Euromonitor. Para o mesmo intervalo de tempo, a ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) apontou que o lançamento global de produtos dentro da categoria aumentou em 40%, estando o Brasil entre os países com mais opções de inovação no segmento plant based na América Latina.

Os produtos plant based, que inicialmente significavam uma alternativa de alimentos para consumidores veganos, hoje representam um movimento que engloba saudabilidade, dietas restritivas, bem-estar animal, assim como a segurança alimentar. Reforçando isso, a ProVeg International, uma organização não governamental que trabalha no campo da mudança do sistema alimentar ao redor do mundo, divulgou que, atualmente, quase 30% da demanda desses produtos é realizada por consumidores mais conscientes, que tentam reduzir o consumo de produtos de origem animal e/ou buscam uma alimentação mais saudável.

Dentre os produtos com maior destaque dentro desse segmento, estão as bebidas à base de cereais, que podem ser obtidas a partir de matérias-primas vegetais, tais como aveia, arroz, ervilha, amêndoa, coco, soja, entre outros. Elas apresentam alto valor nutricional e são compostas por vitaminas, minerais, proteínas, fibras, além de substâncias bioativas e antioxidantes, que variam de acordo com sua base vegetal e atuam na manutenção da saúde do consumidor.

“O grande desafio no desenvolvimento de bebidas à base de cereais está nas características sensoriais apresentadas pelo produto final, principalmente quanto
à textura e ao sabor residual”,
JULIANO Rost, Prozyn Biosolutions

“O grande desafio no desenvolvimento de bebidas à base de cereais está nas características sensoriais apresentadas pelo produto final, principalmente quanto à textura e ao sabor residual. Isso ocorre devido aos diferentes tipos de moléculas e tamanho das partículas presentes nas matérias-primas vegetais, que apresentam aroma e sensação desagradáveis durante o consumo, prejudicando a aceitação do produto pelo consumidor”, explica Juliano Rost, Gerente Comercial da Prozyn Biosolutions.

Para auxiliar os clientes a inovarem dentro desse segmento, a Prozyn oferece soluções desenvolvidas para melhoria de qualidade sensorial de bebidas vegetais. A linha Stabmax Protein representa uma tecnologia clean label, à base de enzimas, que atua na melhoria de sabor e textura através da suavização do sabor residual, da redução do amargor e da melhoria do mounthfeel do produto, mesmo em bebidas com alto teor proteico, como aquelas derivadas de ervilhas. Já a linha Plantzyme foi desenvolvida para aportar mais sabor e fluidez em bebidas de cereais, por meio da atuação de enzimas que hidrolisam o amido, realçando o dulçor natural do vegetal e diminuindo a viscosidade do produto. A Prozyn ainda conta com a linha Greensugar, para quem busca inovação em produtos com zero adição de açúcares com uso de ingredientes naturais e sem sabor residual.

 

Perspectivas para o futuro

Pode-se afirmar que a perspectiva das bebidas plant- based é animadora. Para Ricardo Martin, gerente de Marketing da Tetra Pak Brasil, novas tecnologias disruptivas no setor de alimentos e bebidas, como a fermentação de precisão, estão vindo para elevar o segmento a “um novo patamar de sabor, mais próximo de suas referências lácteas, e de um custo cada vez menor no longo prazo”.

A indústria também pode investir no vegetariano, vegano, alérgico à lactose ou em busca de uma vida desconectada ao leite. “Cada vez mais estabelecida no Brasil, a demanda por produtos à base de plantas tem aumentado devido ao crescimento do consumo e à busca por mais opções. Com o mercado de bebidas, isso não é diferente. Esse tipo de alimento é uma alternativa para quem deseja reduzir, por exemplo, o consumo de lácteos tradicionais, e que foca na produção de bebidas à base de derivados de plantas”, finaliza Martin.

 

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