A importância da rastreabilidade para a indústria de bebidas

Seguindo os passos do setor farmacêutico, o mercado busca informações
e formas para evitar falsificação, sonegação fiscal e garantir a qualidade do consumidor

Thais Martins

 

Quando se trata de rastreabilidade, a indústria farmacêutica caminha a passos largos. O debate que aconteceu na sede da GS1 Brasil, no final de maio, em São Paulo, mostrou a importância do assunto inclusive para outros segmentos. “Nossa tecnologia aplicada em farma é referência para vários canais. Para bebidas, o que temos discutido é justamente a falta de iniciativa por parte do governo em ter um movimento mais rápido. A preocupação é muito mais latente por parte da indústria, pois existe uma série de falsificações, afinal não é muito difícil fabricar um refrigerante e envasar uma água. E quem controla isso? A proposta é fazer com que o governo coloque o olhar em cima da regulamentação do setor”, diz o auditor de rastreabilidade da GS1 Brasil, Marcelo Sá.

Rastreabilidade vai proporcionar
mais segurança ao setor de bebidas

Marcelo Cozac, diretor da Mcpack, fabricante de equipamentos para indústria de bebidas, alimentos, farmacêutica e outras, e também organizador do Talk Day que aconteceu na sede da GS1, apontou o fato da rastreabilidade existir desde 2009 no setor farmacêutico e que vem em revisão há 10 anos. “E esperamos que esteja na última fase de revisão para ser implementada no Brasil. Fazendo um comparativo com o mercado de bebidas, podemos dizer que esta é mais focada em produtividade, quer colocar o produto na rua para vender. Já o setor farma está atento aos equipamentos, quer ver documentação para depois comercializar. Porém, já vemos a categoria de bebidas mudando o seu olhar.”

Cozac também concorda que a rastreabilidade dará mais segurança para o setor de bebidas. “Evitará falsificação, contrabando, roubo de carga, além de focar na qualidade do produto final para o consumidor. Acredito que chegaremos nesse ponto, afinal já rastreamos carne, leite… certamente avançaremos.”

Indústria farma como vitrine

A mercado farmacêutico esteve presente no evento discutindo os principais pontos da cadeia em termos de tecnologia e tendências. Um dos palestrantes, Fausto Padrão, gerente de engenharia da Coca-Cola Andina disse em um determinado momento que a indústria de bebidas se espelha muito no setor farma, “vocês são referências para nós em termos de processos, limpeza, qualidade, inspirações e exigências.”

A nova fábrica da Coca-Cola, é um exemplo da primeira indústria brasileira equipada com a tecnologia 4.0, construída com conceito de ser 100% sustentável e conectada. “Todo o projeto dessa fábrica preza pela rastreabilidade, a necessidade da automação, melhoria dos processos e está alinhada com a tecnologia 4.0: conectada, sustentável, com energia elétrica reaproveitável”, explicou Fausto.

De acordo com Fausto Padrão, a idealização da Tecnologia 4.0 surgiu em 2011 quando a Europa passava por um momento difícil, com a fuga de produção para a China. “A necessidade de se manter com o mercado ativo, valorizar a mão de obra e manter a indústria viva fez com que o discurso da Tecnologia 4.0 se concretizasse em 2015. Tanto é que hoje já é uma realidade a IoT, Big Data, CloudComputing, realidade aumentada. Isso é um meio, não é o fim.”

Rastreabilidade foi a temática principal do evento,
além de muita troca de experiências e relacionamento

A coordenadora de Soluções de Negócios da GS1 Brasil, Ana Paula Maniero, concorda com Fausto no sentido da integração de mercados com o intuito de troca de experiência e a busca por inovação. Não é à toa que possui 25 anos de mercado ajudando empresas a serem mais eficientes e sustentáveis. “Temos a favor do setor uma série de serviços, estudos, índices econômicos, pesquisas de automação e de perfil do consumidor que podem ser usados em qualquer segmento. Somos multissetoriais e trabalhamos com uma equipe de especialistas em várias verticais, entendendo e escutando as necessidades para elaborar a melhor ação e enfrentar os desafios.”

Ana Paula complementa que na indústria de saúde, muito se fala em codificação. “Datamatrix é tendência utilizada em todo o mundo em identificação de medicamentos. A GS1 é uma referência para definir o melhor padrão para garantir que toda a aplicação e equipamentos atendam aos padrões globais e de legislação. Mas, vamos além do Datamatrix. Existem os padrões em logística, caixa, pallet… tudo está ligado a rastreabilidade. Existem muitas operações que realizamos e muito está em discussão, como as bulas eletrônicas, código de barra dentro das embalagens que remetem a uma informação adicional etc.”

Na visão de Marcelo Sá, quando se fala em rastreabilidade, o mundo está trabalhando de forma harmônica, padronizada, colaborativa e em altíssima velocidade. “Participo da discussão do tema em dois grupos internacionais com o envolvimento de 50 países que mostram o que estão fazendo e quais são as suas dificuldades. A ‘coisa’ vai acontecer e rápido. O Q Code, pode exemplo, foi criado na Ásia e tomou uma proporção gigantesca. Atualmente, a discussão é sobre a diretiva dos medicamentos falsificados na cadeia de abastecimento legal. Este é o caminho.”

Jair Calixto, diretor de Assuntos Técnicos e Inovação da Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos) e membro do Comitê SNCM (Sistema Nacional de Controle de Medicamentos), ministrou sua palestra sobre o que é preciso ser feito nesta etapa da fase experimental da rastreabilidade. Para isso, o palestrante explicou o processo desde o surgimento da necessidade, da implementação da operação e como a tecnologia melhora a segurança do uso do medicamento.

“Existem os padrões em logística, caixa,
paletes … tudo está ligado à rastreabilidade
Ana Paula Maniero, GS1 Brasil

Já VolkerDitscher, gerente de negócios da Wipotec OCS, com experiência de mais de 10 anos com equipamentos e tecnologia de rastreablidade de medicamentos, apresentou as novas tecnologias para implementação de rastreabilidade de acordo com as atualizações específicas de cada país e indústrias. Em sua palestra, o executivo mostrou as novidades de mercados novos, como Rússia e China.

Soluções

A Mcpack oferece uma série de soluções e equipamentos para o setor de bebidas. Um dos destaques é a dosagem de nitrogênio líquido, carro-chefe da empresa. “Trabalhamos com isso há 17 anos e temos 96% do mercado da América do Sul com esse equipamento, muito utilizado na linha de produtos carbonatados, de água, suco etc… A dosagem de nitrogênio é muito importante para aumentar o shelflife do produto e reduzir a gramatura da garrafa, por exemplo.”

Outro destaque da Mcpack é o ultrassom para implodir a bolha do produto que está espumando, impedindo que a espuma saia da garrafa. “Com isso, a empresa ganha em alguns pontos, como a redução de perda de produto, aumento da temperatura de envase (no refrigerante tem que envasar a frio para não perder carbonatação), redução do consumo energético, ganho em TPO (quantidade de oxigênio dentro da garrafa de cerveja, por exemplo), entre outros benefícios”, finaliza Cozac.

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