Com avanço do flexitarianismo, empreendedor deve ficar atento às tendências e preferências pelo consumo mais saudável do brasileiro
Por Carlos Donizete Parra
A busca por uma alimentação mais saudável tem estimulado muitos brasileiros a reduzirem o consumo de carne e aumentarem o de vegetais. Pesquisa realizada pelo IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria (antigo Ibope Inteligência), no ano passado, reforçou o avanço do flexitarianismo no Brasil. O termo que une as palavras “flexível” e “vegetarianismo” é usado para definir um tipo de padrão alimentar caracterizado pela redução do consumo de alimentos de origem animal.
De acordo com o levantamento, 46% dos brasileiros com mais de 35 anos pararam de consumir carne por conta própria, ao menos uma vez por semana. O estudo, que foi feito a pedido da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), também revelou que 32% já escolhem opções veganas em restaurantes e outros estabelecimentos.
O crescimento do mercado vegano traz oportunidades para os negócios do setor de alimentação. Com o aumento de preço dos produtos de origem animal, principalmente as carnes, uma boa estratégia tem sido explorar o valor nutricional dos alimentos de origem vegetal que, em sua maioria, são mais baratos.
Food service
Lucas Gayoso Dias, da área de Competitividade do Sebrae, vegano convicto, considera que os donos de pequenos negócios têm condições de dominar este mercado e explorar a variedade de produtos de origem vegetal que possuem maior valor biológico e nutricional, a exemplo dos grãos como lentilha, grão de bico e feijões. Segundo ele, aderir a movimentos e iniciativas voltadas ao segmento, como é o caso da “segunda sem carne”, pode ser uma forma do empreendedor começar a entrar nesse mercado.
“Um restaurante, por exemplo, pode oferecer apenas pratos veganos em determinado dia da semana, a fim de começar a explorar esse nicho. Vale ressaltar que, para seguir com uma ação dessas, é importante que o empreendedor tenha clareza de potencial variação nos custos, seja ela positiva ou negativa, e os impactos finais na margem de lucro”, destaca.
Lucas lembra que a inovação e a experimentação são essenciais para a sobrevivência de qualquer empresa, mas especialmente quando se trata do segmento de alimentação vegana. “O empreendedor desse nicho deve apostar no desenvolvimento de novos produtos, modelos de negócios e tecnologias”, comenta. Lucas ressalta o avanço das marmitas “fit”, que pode ser facilmente adaptado com opções veganas.
Sorvete de inhame
Fabio Neto e Paula Máximo são criadores da foodtech Yamo, fabricante de sorvetes de inhame, alimento que consta da lista dos chamados super alimentos. O inhame possui destaque pelo baixo índice glicêmico – o que traz energia com baixo impacto no sangue. O tubérculo também auxilia no funcionamento intestinal, controle de gorduras na corrente sanguínea e manutenção da saúde óssea (possui cálcio e fósforo).
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Depois de 1 ano no desenvolvimento e criação de uma fórmula que excluísse os ingredientes de um sorvete tradicional, como leite, gordura e creme de leite derivados de animal, a solução foi a utilização do leite de inhame.
A partir daí, a empresa criou um composto nutricional chamado de inhamina que deve ser usado também para o desenvolvimento de outros produtos não só os sorvetes, que atualmente são feitos de plantas e não possuem conservantes, glúten e lactose.
Fazenda Futuro: a foodtech da Anitta
Fundada em 2019, a Fazenda Futuro produz carnes e outros produtos plant based. Genuinamente brasileira, a empresa recebeu investimento de 300 milhões de reais e está presente em mais de 10 mil pontos de vendas em 24 países.
O investimento recente permitirá o fortalecimento das operações da empresa nos Estados Unidos.
Empreendedora de mão cheia, Anitta não podia ficar de fora desse mercado, avaliado em 2019 em 3,3 bilhões de dólares, segundo a GrandView Research. Assim, a musa brasileira virou sócia da Fazenda do Futuro em mais uma de suas belas investidas nos negócios.
Carne de laboratório
Alguns gigantes do mercado de produtos derivados de proteína animal, como JBS e Marfrig, escolheram o caminho da chamada carne cultivada ou carne de laboratório, produtos desenvolvidos a partir de células animais, enquanto outros optaram pela carne plant based que não levam proteína animal. Portanto, a carne de laboratório não é, necessariamente, um alimento vegano, mas uma alternativa ao consumo tradicional.
A JBS investiu, recentemente, na compra da startup espanhola BioTech Foods, justamente para dar impulso a essa linha de alimentos, além disso a empresa vai investir US$ 60 milhões em um centro de pesquisa de proteínas cultivadas, na cidade de Florianópolis.
Leite vegetal de aveia
Criada a partir de muita inspiração ativista e amor aos animais, Naveia é uma marca de leite vegetal de aveia – uma alternativa nutritiva, saborosa e cada vez mais acessível, que tem como maior missão impactar positivamente o planeta.
A startup acredita que é possível mudar o mundo com escolhas de consumo consciente e entende a categoria plant based como parte fundamental disso. Por essa razão, a empresa diz que não é uma marca com propósito e sim um propósito que criou uma marca: além de dar fim à exploração animal, trocar o leite convencional por leite de aveia significa gastar muito menos água e solo na cadeia produtiva, e uma redução expressiva na geração de gases de efeito estufa.
Lançado em novembro de 2020, Naveia conta, atualmente, com três produtos em seu portfólio: Original, Barista e Deleitinho (nos sabores chocolate e morango) que podem ser encontrados em diversos pontos de vendas de todo o país. A empresa acaba de lançar: deleite com manga e Chocolate em cartonada de 1 litro, além dos Lattes em lata Coldbrew, Mocha e Matcha.