Insumos adequados geram produtividade e eficiência

Evitar desperdícios com perdas de insumos e melhorar a eficiência das linhas
são questões cada vez mais importantes nas fábricas de bebidas

 

Por Carlos Donizete Parra

 

A capacidade oculta na linha de produção é aquela potencial, porém escondida, por falta de dados, informações, conhecimento e gestão ineficiente dos processos. Essa capacidade provém de paradas evitáveis nas linhas de produção, má gestão de processos, baixa performance dos equipamentos e falhas da mão de obra.

“A má qualidade no insumo pode levar
anos de desenvolvimento em equipamentos
para estaca zero. Esta é a importância
do desenvolvimento do equipamento x insumo
andarem lado a lado, interagindo os limites dentro de cada processo. Outro ponto
a destacar é o sistema de monitoramento
dos fornecedores”, Gustavo Leoncini,
Grupo Petrópolis

De acordo com especialistas, a capacidade oculta na linha de produção faz a indústria brasileira desperdiçar cerca de R$ 500 bilhões por ano, sendo que mais da metade desse montante vem do setor de alimentos e bebidas. Daí a necessidade de controles que possam contribuir para redução desse desperdício. O conceito de capacidade oculta se diferencia de outro mais difundido, o da capacidade ociosa. A oculta, conforme explica o fundador e CEO da Cogtive, Reginaldo Ribeiro, refere-se ao potencial produtivo “despercebido”, enquanto a ociosa é a identificada, porém não aproveitada. “A capacidade oculta deriva de ocorrências como paradas da linha de produção, má gestão dos processos, baixa performance dos ativos e problemas na alocação da mão de obra”, afirma.

Os insumos, se não utilizados de maneira correta, podem se tornar um grave problema para o desempenho operacional da linha de produção. Para resolver isso, é importante que a empresa tenha um bom planejamento de produção, estoques adequados e, principalmente fornecedores alinhados às políticas industriais para evitar problemas que possam afetar a produção.

Para Gustavo Leoncini, Gerente de Embalagem do Grupo Petrópolis, os insumos têm relação direta com a performance e produtividade nas linhas de produção da empresa. “Com o aumento da tecnologia dos equipamentos de envase, os insumos tiveram que acompanhar este avanço. Como impacto positivo desse processo temos diversas situações onde uma inovação do insumo permitiu aumento da velocidade nominal do equipamento. Acredito que no universo da embalagem nada é impossível. O lado negativo é que a qualidade ruim de um insumo pode levar anos de desenvolvimento em equipamentos para estaca zero.

Esta é a importância do desenvolvimento conjunto entre equipamento e insumo, interagindo os limites dentro de cada processo”, garante Leoncini. Outro ponto destacado pelo executivo é o sistema de monitoramento dos fornecedores. Segundo ele o processo de homologação e definição das especificações deve ser robusto e atuante.

Os insumos são classificados de primários (garrafas, tampas, preformas, latas e outros) e secundários (paletes, filmes, separadores, lubrificantes etc.) e precisam de investimentos em uma cultura de dados que possibilite a coleta de informações essenciais para minimizar os impactos que esses produtos podem causar na produtividade e eficiência das fábricas. “Precisamos de dados específicos sobre todos os insumos para que possamos atuar de forma mais eficaz e com o controle devido que esse tema merece nas linhas de produção”, explica Fausto Padrão, Gerente de Engenharia da Coca-Cola Andina.

A coleta e mineralização desses dados deve ser foco nas empresas para resolução desse problema e, atualmente com o desenvolvimento das ferramentas de Inteligência Artificial tornou-se mais fácil encontrar soluções (inclusive “de prateleira”) que se adequem às necessidades  das fábricas.

Padronização

Outro aspecto que pode auxiliar é a padronização, fator relevante para a repetibilidade dos processos na produção minimizando falhas e reduzindo custos operacionais. A padronização é ponto fundamental na conquista da tão sonhada excelência operacional buscada pelas empresas. Ela permite a produção em larga escala com eficiência e qualidade, reduzindo o desperdício e a necessidade de retrabalhos.

“A participação dos envasadores no desenvolvimentos de novos insumos, já é uma realidade com alguns fornecedores, onde cada parte está obtendo bons resultados. Pois ambos os lados acabam vendo situações que podem ser melhoradas”,
Gilmar Trevine, Newage Bebidas

Para Gilmar Trevine, Gerente Industrial da Newage Bebidas, a padronização é um impacto positivo que o insumo pode trazer à linha de envase. “Uma máquina é projetada para aquele insumo com todas as suas características. Qualquer mudança mesmo que pequena, pode trazer reflexos na performance do equipamento. É importante que sejam desenvolvidos insumos com custos menores, mas isso deve ser testado e aprovado junto aos envasadores, para que tal mudança não impacte a produtividade”, explica o executivo.

Nessa questão, Fausto Padrão cita os paletes de madeira utilizados pelas indústrias como um problema nas linhas de envase devido à falta de padronização. Segundo ele, o problema já começa nas fábricas de bebidas. “É difícil a indústria que faz a amostragem desses paletes na entrada da linha. Então, um palete com algum dimensionamento mais largo ou mais estreito pode causar travamento na paletizadora ocasionando parada da máquina e até chamada de manutenção em casos mais extremos”.

“Os insumos secundários têm participação muito grande nas paradas de linhas e isso não é tratado com a devida atenção causando prejuízos enormes à eficiência das fábricas. Em geral, a má qualidade dos insumos impede a boa eficiência da linha”, Fausto Padrão, Coca-Cola Andina

Outro detalhe levantado pelo Gerente da Coca-Cola Andina é que falta informação, inclusive na literatura quanto à medida exata dos paletes disponíveis no mercado. “Fala-se em uma altura de “mais ou menos” 140 mm. A informação não apresenta uma medida exata e uma variação nessa altura pode também resultar em parada de linha. Inclusive, as máquinas possuem sensores para detectar esses problemas, mas para agilizar a produção em muitos casos esses sensores são desligados, o que pode provocar danos ainda maiores com parada da linha e quebra do equipamento”.

Soluções

Reduzir os desperdícios com insumos de baixa qualidade, assim como os custos com paradas de linhas é determinante para a excelência operacional. Dessa forma, independente do insumo, já que todos têm sua importância dentro do processo produtivo, é essencial que as áreas competentes dentro da empresa façam as devidas avaliações para que o impacto no processo seja cada vez mais positivo.

“Um ponto que considero de suma importância para a eficiência de uma linha de produção é que a empresa não avalie a cadeia de insumos somente pelo impacto financeiro. Dentro de uma cadeia de produção, uma fita adesiva pode causar o mesmo impacto de perda de eficiência  que uma garrafa. A área de Qualidade Assegurada deve abranger todo o sistema de insumos com a mesma intensidade, rigor e parceria com fornecedores”, avalia Gustavo Leoncini, da Petrópolis.

Dessa forma, todos os insumos devem ser analisados pela área de Qualidade com o mesmo rigor já que um insumo secundário pode causar graves problemas tanto quanto os primários. Fausto Padrão lembra que os insumos primários são, normalmente, tratados com mais atenção que os secundários, já que são responsáveis diretos pela qualidade do produto final. “Esse é um erro  porque os insumos secundários têm uma participação muito grande nas paradas de linhas e isso não é tratado com a devida atenção causando prejuízos enormes à eficiência das fábricas. Em geral, a má qualidade dos insumos impede a boa eficiência da linha”.

Outro ponto que chama a atenção é quanto à tecnologia atual dos equipamentos. Quanto mais modernas e rápidas são essas linhas maiores são os danos causados por insumos de qualidade ruim. Os equipamentos atuais são mais sensíveis e necessitam de insumos de qualidade para entregar a eficiência projetada e compensar os investimentos alocados pelos fabricantes de bebidas. “Insumos primários como latas e tampas (alumínio e plástica) são críticos devido às altas velocidades em que são utilizados. Qualquer desvio gera uma micro parada ou até mesmo uma parada com intervenção mecânica”, explica Leoncini.

Evolução de um lado desafio de outro. O bom da história é que a evolução tecnológica, ao mesmo tempo que promove impactos positivos ao processo produtivo, apresenta desafios significativos aos fornecedores de insumos quanto à qualidade dos produtos que são oferecidos ao mercado. No final, todos têm que entregar com qualidade para que o resultado seja eficiência operacional e satisfação do consumidor com o produto final.

“Assim como o cliente precisa ter os equipamentos calibrados e com manutenção periódica, o fornecedor precisa garantir que em seu processo não haja variação na produção dos insumos. O insumo deverá chegar
no padrão solicitado pelo cliente e proposto
pelo fornecedor”, Thyago Urzeda,
Coca-Cola Bandeirantes

“Considerando os insumos relacionados a matéria-prima (pré-formas, rótulos, tampas, garrafas, xaropes, filmes…) que interferem diretamente na produtividade da linha, outras matérias primas com menores variações físico-químicas e dimensionais evitam ajustes operacionais constantes nos equipamentos e na qualidade do produto no mercado. Isso para garantir a qualidade e a conformidade da matéria prima e evitar maiores desvios padrão “, explica Thyago Urzeda, Gerente de Produção da Coca-Cola Bandeirantes. Segundo ele, a equipe de qualidade faz análise e avaliação prévia no recebimento e durante todo o processo produtivo, aumentando a confiabilidade do processo. Além do impacto em produtividade, matérias-primas não conformes podem ocasionar danos em máquinas.

A instabilidade de energia elétrica, o ar comprimido contaminado e outros fatores de utilidades também podem trazer diversos impactos, causando sérios prejuízos financeiros.

“Considerando os insumos capitais (produtos e maquinário, estes devem estar calibrados e com manutenção preventiva ativa) e de trabalho (mão-de-obra qualificada), para garantir a produtividade e qualidade dos produtos produzidos, tudo isso somado traz uma melhor condição ao processo e consequentemente uma melhor produtividade”, explica Thyago Urzeda.

O Gerente da Coca-Cola Bandeirantes reforça que os insumos primários que mais causam paradas de máquina são as rolhas plásticas que devido a variações dimensionais podem ficar presas no transporte unifilar de rolhas. “Além das tampas, as pré-formas de garrafas PET, causam instabilidade da garrafa e consequente perda ao processo. Já os insumos secundários que mais impactam uma linha de produção são os filmes termo-encolhíveis, rótulos, filme stretch, paletes e chapatex. Importante a atuação da Qualidade Assegurada nesse processo para garantir a produtividade e o menor desvio possível, nos aspectos custo e qualidade”, garante Thyago Urzeda.

 

Qualidade do fornecedor

A relação entre indústria de bebidas e fornecedor avançou muito nos últimos anos trazendo benefícios para ambas as partes. Assim como cresce a necessidade de processos cada vez mais eficientes cresce a importância dada à parceria entre comprador e seus fornecedores. É um elo determinante para o sucesso na cadeia de valor do produto. Para garantir que os fornecedores atendam aos requisitos de qualidade, segurança, conformidade regulatória e outros padrões determinados pelas empresas, foram criadas os processos de homologações vinculados, geralmente, às áreas de suprimentos e qualidade.

“Uma vez bem definida a especificação, existem oportunidades de melhoria particulares de cada processo que focam minimizar a interferência externa, melhorar a eficiência em custo e a geração de menos resíduos sempre num trabalho de parceria a 6 mãos (área industrial, qualidade e fornecedor)”, Simone Sayuri Nakazone, Cia. Muller de Bebidas

“Eu sempre acreditei no conceito de fornecedor – parceiro. A melhoria da qualidade vem com o trabalho em conjunto, com o fornecedor conhecendo os processos e as demandas da área produtiva. Ter indicadores e compartilhá-los com os fornecedores é fundamental em um processo de melhoria contínua. Em muitos casos, uma pequena alteração por parte do fornecedor traz uma melhora significativa nas paradas de máquina”, garante Simone Sayuri Nakazone, Gerente Industrial da Cia. Muller de Bebidas.

A partir desse bom relacionamento e de um monitoramento constante das entregas dos fornecedores é possível estender essa parceria com foco também no desenvolvimento dos produtos e da eficiência dos processos. “Permitir que os envasadores participem e opinem no desenvolvimentos de novos insumos, além de conhecer e entender as dificuldades operacionais na aplicação de seus respectivos insumos no processo de envase é fundamental para a boa performance das linhas. Isso já é uma realidade com alguns fornecedores, onde cada parte está obtendo bons resultados. Ambos os lados encontram situações que podem ser melhoradas. Muito importante também são os treinamentos constantes da aplicação dos insumos para os colaboradores”, explica Gilmar Trevine, Gerente Industrial da Newage Bebidas.

O papel dos fornecedores é, portanto, cada vez mais crucial para uma boa performance na linha e precisa ser encarado como uma extensão de sua própria fábrica. “O grande papel do fornecedor é olhar o seu produto com o viés de utilização e não como fabricação. Se olharmos juntos para a produtividade final do processo, ou seja, nas linhas de envase, iremos focar na diminuição dos limites de produção no fornecedor, utilizando as ferramentas de Six Sigma para entender as oportunidades”, explica Gustavo Leoncini.

Tecnologia e inovação como aliadas

O avanço das novas tecnologias e a digitalização já são fatores conhecidos e frequentemente utilizados pelas empresas na resolução desses problemas.

“Tecnologias disruptivas ajudam as indústrias
a aumentar a eficiência em uma planta fabril,
na medida em que proporcionam aos gestores informações em tempo real, fundamentais
para a tomada de decisões rápidas”,
Reginaldo Ribeiro, Cogtiv

De acordo com Reginaldo Ribeiro, CEO da Cogtive, estancar desperdícios ocasionados pela capacidade oculta passa pela automação da gestão do processo produtivo. Ou seja, pela utilização de inteligência artificial, robotização e aprendizado de máquina. “Em outras palavras, passa pela transformação digital, que não pode ser entendida apenas como um diferencial. Ela é obrigatória para a sobrevivência dos negócios que envolvem manufatura.”

Assim, antes de investir na linha de produção, o combate à capacidade oculta exige aprimorar os processos de gestão dessa linha. “Tecnologias disruptivas ajudam as indústrias a aumentar a eficiência em uma planta fabril, na medida em que proporcionam aos gestores informações, dados em tempo real, fundamentais para a tomada de decisões rápidas, mas seguras, a fim de evitar paradas, perdas e outras ocorrências que interrompam a produção”, assinala Ribeiro.

A inovação é outra ferramenta a ser considerada por todos os envolvidos nesse processo. Estudos mostram que a inovação representa um importante fator para o desenvolvimento de produtos e processos que promovam a competitividade e excelência operacional. “Em geral os insumos que estão diretamente ligados a performance de produção são os materiais de embalagem e os produtos químicos auxiliares como adesivos e lubrificantes de esteira. A inovação é uma oportunidade de melhoria de performance produtiva tanto em eficiência como em custos e pode gerar impactos positivos significativos. Novos materiais, maior personalização para cada linha de produção estão entre os pontos que podem ter destaque”, finaliza Simone Nakazone, Gerente Industrial da Cia. Muller de Bebidas.

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