A embalagem tem que ser uma estratégia que permeie toda a organização

Luciana Pellegrino, Diretora Executiva
ABRE – Associação Brasileira de Embalagem

O setor de embalagens no Brasil é movido
por inovações e constantes mudanças
buscando sempre atender às necessidades
das marcas e dos consumidores.
Num contexto de mudança de hábitos e comportamentos dos consumidores,
a embalagem desempenha papel fundamental
na geração de valor e facilitação das operações.
Na entrevista abaixo, Luciana Pellegrino,
Diretora Executiva da ABRE
(Associação Brasileira de Embalagem),
fala sobre esses assuntos, além de apontar
tendências do mercado nacional
e mundial de embalagens

 

Por Carlos Donizete Parra

 

 

 

 

 

 

Engarrafador Moderno:  Quais os principais pilares da indústria de embalagens no Brasil?

Luciana Pellegrino: A indústria brasileira de embalagens tem que atender esse dinâmico mercado de consumo. Cerca de 70% das embalagens são destinadas para bens de consumo rápido. E a função da indústria de embalagem é permitir inovação às marcas com agilidade e rapidez. A indústria tem que possibilitar que a inovação chegue ao consumidor, sempre.

 

Para isso acontecer a indústria precisa ser bastante flexível, não é?

Luciana: A indústria tem que viabilizar pequenas tiragens e tornar isso acessivel permitindo às marcas ampliarem seus portfólios constantemente. A flexibilidade permite à indústria oferecer alternativas diferentes de produtos aos consumidores, em volumes e formatos variados de acordo com a possibilidade e situação de consumo dos mais variados grupos da sociedade brasileira. O consumidor está com o bolso apertado, então a tecnologia viabiliza formatos menores e mais baratos de embalagens.

 

Então é aí que entra a tecnologia?

Luciana: A tecnologia torna a inovação acessível para extensões de marcas e novas linhas de produtos. Ela tem que permitir que a inovação chegue ao consumidor da melhor forma possível. A indústria de bebidas tem feito isso muito bem com a diversificação de produtos, como chás, águas saborizadas, refrigerantes, drinks prontos para o consumo, entre outros.

 

A sustentabilidade ganha cada vez mais relevância no lançamento de um produto no mercado?

Luciana: A sustentabilidade é presente não é mais visão de futuro. Ou a marca é sustentável ou ela vai se descolando cada vez mais da sociedade. E a sustentabilidade não está só na embalagem, ela está em toda a cadeia de consumo, na distribuição etc. Quando falamos em embalagem ela tem que ser reciclável, retornável, reutilizável, além de permitir a eficiência do processo de distribuição, reduzir perdas no processo produtivo, enfim alguns atributos que não são visíveis ao consumidor mas que fazem toda a diferença.

 

Qual a próxima fronteira das embalagens?

Luciana: A digitalização contribuiu muito com as questões de rastreabilidade que evitam falsificações e adulterações. Mas, a digitalização também permite à embalagem chegar a uma nova fronteira que é a de ser uma plataforma de comunicação entre o consumidor e a marca criando um relacionamento mais dinâmico e interativo que permite a troca de todo tipo de informação, de forma mais inteligente e ampliada. O Lupinha, recentemente lançado pela ABRE,  é uma plataforma de comunicação para o consumo consciente que será muito utilizada por todos os elos dessa cadeia. É um agente para viabilizar a circularidade das embalagens. A plataforma orienta e faz a curadoria para o descarte consciente dos consumidores e cooperativas de reciclagem permitindo que a circularidade aconteça.

 

As dificuldades para atingir essa circularidade ainda são muitas?

Luciana: Sim, mas eu vejo pelo lado positivo: temos muitas oportunidades com o uso de menos matérias-primas, eficiência nos transportes, melhor uso das embalagens pelo consumidor, retornabilidade das embalagens para a indústria, reciclagem, enfim ainda podemos ganhar em várias áreas. É evidente que tudo isso pressupõe investimentos mas também vai gerar ganhos de eficiência e isso alavanca a competitividade das empresas envolvidas nesses processos.

 

Quais os grandes desafios da indústria de embalagens no Brasil?

Luciana: Os desafios são grandes mas a indústria de embalagens tem ultrapassado esses desafios investindo em tecnologia e alta performance. Para mim o grande desafio que se apresenta agora é o de articular com toda a cadeia a redução da poluição ambiental. Isso demanda uma ação coordenada entre consumidor, Governo, indústria, catadores e outros.

 

Qual a situação do Brasil em termos de tecnologia quando comparamos com o mercado global?

Luciana: Em termos de tecnologia estamos iguais aos países mais desenvolvidos. As diferenças estão muito atreladas ao mercado de acordo com o poder aquisitivo das pessoas. O Brasil demanda tecnologias avançadas mas com um custo muito mais competitivo porque a pressão por custos no nosso mercado é bem mais forte. Isso é notado nas embalagens, por exemplo, o mundo usa o stand up pouch com zíper como uma solução de embalagem mais flexível na produção. No Japão, o filme dessas embalagens é mais robusto com melhor acabamento e decoração muito atrativa. No Brasil essa embalagem é mais simples devido a necessidade de ter um custo menor que possa ser acessível ao poder aquisitivo dos nossos consumidores. O brasileiro é um dos mais sensíveis a preços no mundo. A indústria tem que fazer uma “mágica” para trazer essa inovação para o nosso mercado.

 

E a questão da reciclagem?

Luciana: Tem um movimento muito forte das indústrias buscando o potencial de reciclabilidade das embalagens. O material utilizado tem que ser reciclável. Ganham participação os monomateriais que facilitam a reciclagem. Os materiais com várias camadas estão com mais dificuldades hoje em dia.

 

E o retornável vai ou não vai?

Luciana: O retornável não é um tema novo. O grande passo é criar infraestrutura para o consumo domiciliar. Em bares e restaurantes já é normal. As indústria de bebidas estão buscando alavancar as garrafas long necks nesse processo de retornáveis. A dificuldade é transformar comportamentos e hábitos. É um processo de educação que leva tempo e investimento por parte das empresas. Uma outra forma de se fazer isso é através do incentivo econômico. Trocar o vasilhame por dinheiro ou algum outro incentivo financeiro. O consumidor brasileiro está muito atento a essas questões tanto que no último Observatório da Embalagem ficou muito claro que o consumidor não quer pagar, por exemplo, pela sustentabilidade. Ele acha que marcas tão poderosas é que têm que pagar e não ele. Ele aceita pagar por funcionalidade, praticidade e outros atributos. Ele quer marcas que viabilizem a sustentabilidade por meio das embalagens e que no propósito da marca como um todo esteja a sustentabilidade, não só na embalagem. Isso é um passo que as marcas têm que dar em termos de proposta de valor em todo o processo produtivo.

 

Tem que ser uma estratégia de marca mais ampla?

Luciana: Isso mesmo, tem que haver um diálogo entre toda a empresa acerca da embalagem, não é só um problema do P&D ou do marketing. Tem que ser uma estratégia que permeie toda a organização. Esse é um dos grandes desafios dessas empresas no mundo.

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