O Brasil reciclou 410 mil toneladas de embalagens PET pós-consumo em 2024, um volume 14% superior às 359 mil toneladas registradas em 2022. Informações como essas precisam chegar ao consumidor de forma correta e isso também foi uma das questões apresentadas no PETtalk
Por Carlos Donizete Parra

Sabemos que a reciclabilidade da embalagem
começa no seu projeto, uma vez que as
características do corpo, rótulo e tampa influenciam diretamente no reaproveitamento pós-consumo
Por isso, a importância da atualização das Diretrizes para a Reciclabilidade da Embalagem PET,
Auri Marçon, ABIPET
A ABIPET – Associação Brasileira da Indústria do PET realizou em São Paulo, a edição de 2025 do PETtalk, conferência que aborda os principais temas da cadeia produtiva do PET. Entre as ações a serem destacadas durante o PETtalk 2025 – Conferência Internacional da Indústria do PET estão o lançamento do Censo da Reciclagem do PET no Brasil e a atualização das Diretrizes para a Reciclabilidade da Embalagem PET. O evento apresentou um panorama global sobre o mercado do PET, além de palestras focadas em inovação, sustentabilidade, tecnologia, tendências e novidades do setor.
Esta edição também contou com a participação de associações internacionais – a norte-americana NAPCOR e a europeia PETCORE – trazendo uma visão do mercado de embalagens PET nos Estados Unidos, Canadá, México e Comunidade Europeia.
Tecnologia de reciclagem
Entre as palestras de tecnologia destaque para Ayrton Irokawa, Head of Sales da Krones do Brasil, com a palestra Como a tecnologia pode influenciar na economia circular.

As bandejas PET são mais sensíveis
e leves do que as garrafas PET,
além disso, a carga orgânica que vem
nessas embalagens dificulta o processo
de lavagem. Para isso, desenvolvemos
uma solução que permite realizar
o processo de reciclagem com qualidade
e alta performance, Ayrton Irokawa, Krones
Ayrton Irokawa destacou o apoio da Krones aos clientes na transformação sustentável da cadeia de valor dos plásticos, desde a embalagem incluindo a moldagem por injeção com a tecnologia Netstal (empresa recentemente adquirida pelo Grupo) até plantas completas de reciclagem de embalagens, com plásticos como PET, PP, PE, PO, PS e plásticos flexíveis. A Krones desenvolve soluções de reciclagem que atendem demandas específicas dos clientes através dos sistemas Meta Pure W e Meta Pure S. Entre as diversas embalagens recicladas pelo sistema da Krones, o executivo ressaltou como exemplo o desafio das bandejas PET. “As bandejas PET são mais sensíveis e leves do que as garrafas PET, além disso, a carga orgânica enorme que vem nessas embalagens dificulta o processo de lavagem. Fizemos vários estudos para desenvolver essa solução e apoiar nossos clientes com uma tecnologia que permite realizar o processo de reciclagem com qualidade e alta performance”, garante Ayrton Irokawa.

A tampa PET contribui muito para a circularidade, simplificando a reciclagem e diminuindo o desperdício. No entanto, ainda faltam alguns assuntos regulatórios para que a tampa possa ser
utilizada no Brasil, Paulo Carmo, Husky
Tampas PET
Na palestra Circularidade e design de embalagem, Paulo Carmo, Gerente de Negócios da Husky, enfatizou a importância do design para a circularidade. Outro assunto abordado foi a utilização da tampa de PET no fechamento das embalagens produzindo um conjunto monomaterial, ressaltando como isso pode simplificar a reciclagem e reduzir o desperdício.
Resina reciclada
A Head de Sustentabilidade da Valgroup, Larissa D’Otaviano, apresentou o tema O futuro do PET: Soluções sustentáveis para um mundo em transformação.
A executiva falou sobre os quatro pilares de sustentabilidade da Valgroup (Reduzir, Reciclar, Redesenhar e Reintegrar), além das perspectivas para a reciclagem mecânica no Brasil destacando que a produção de resina reciclada pode crescer 7,5% ao ano até 2030 e que em 2025 o mercado de sucata PET deve ter o valor reajustado, sendo que à medida que o mercado volte a equilibrar oferta e demanda, os preços devem estabilizar em um valor estimado em torno de R$5,00/kg. Larissa ressaltou que a resina PET deve continuar sua transição para os mercados de economia circular aumentando cada vez mais o valor agregado.

O processo de reciclagem mecânica
do PET reduz as emissões de CO2
em 53% comparado a resina virgem,
deixando de emitir 1,1 ton de CO2eq/ton, Larissa D’Otaviano, Valgroup
Outro ponto ressaltado pela Head de Sustentabilidade foi o processo bottle to bottle que, entre outros fatores, reduz consideravelmente as emissões de carbono. “Desde 2000, com o processo de reciclagem mecânica do PET conseguimos reduzir as emissões de CO2 em 53% comparado a resina virgem, deixando de emitir 1,1 ton de CO2eq/ton”, explica Larissa D’Otaviano.

É importante falar como essas alianças
têm avançado para que pudessemos
sair desses pilotos demonstrativos
para uma escala que realmente
transforma uma realidade e um setor, Rodrigo Brito, Coca-Cola
Colaboração e escala
Rodrigo Brito, Líder da área de Sustentabilidade da Coca-Cola para o Brasil e países do Cone Sul, explorou o tema Colaboração e Escala: Como a Coca-Cola tem contribuído para a Circularidade do PET. Falou sobre a importância de programas como Sustenta PET, Recicla Solar e Recicla Andina para o desenvolvimento da circularidade no Brasil. Segundo ele, esses programas proporcionam uma circularidade que garante que aquela garrafa volte a virar garrafa e seja utilizada pela fábrica cerca de 15 vezes. Isso também garante maior previsibilidade no fornecimento de resina, além de contribuir para um valor melhor do material para catadores, aumentando os volumes de coleta de PET no Brasil.
“O PET hoje já é o segundo material mais coletado e mais reciclado do Brasil. Qualquer lugar do Brasil que você vê um catador na rua, ele está coletando geralmente PET e latinha de alumínio. Latinha 10 reais, PET o valor varia entre 5 e 6 reais, dependendo do lugar. Então, isso é o que gera maior renda para os catadores no Brasil, atualmente”, explica Rodrigo Brito.
O executivo da Coca-Cola falou como as diversas parcerias com entidades, cooperativas de catadores e sociedade em geral tornaram possível o avanço e desenvolvimento desse programa de reciclagem de PET no Brasil. “Essas alianças possibilitaram que saíssemos de programas pilotos com poucos resultados para um programa com escala que realmente transforma uma realidade e um setor”, diz Rodrigo.
Entre as metas da Coca-Cola na área de sustentabilidade estão a de coletar e reciclar o equivalente a 70% das embalagens que coloca no mercado até 2035, além do uso entre 35% a 40% de conteúdo reciclado em todas as embalagens utilizadas pela Companhia.
Brasil recicla 410 mil toneladas de embalagens PET
O Brasil reciclou 410 mil toneladas de embalagens PET pós-consumo em 2024, um volume 14% superior às 359 mil toneladas registradas em 2022, de acordo com a 13ª edição do Censo da Reciclagem do PET no Brasil, produzido pela Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET) e divulgado durante o PETtalk 2025.
O Censo também mostra que a indústria da reciclagem do PET alcançou um faturamento da ordem de R$ 5,66 bilhões, ou 32% de todo o faturamento do setor, representando forte geração de renda para a base da pirâmide social: aproximadamente 40% desse total permanece com catadores, cooperativas e sucateiros.
O volume de reciclagem e o faturamento são consequência de investimentos em capacidade instalada e do desenvolvimento de demanda para o material reciclado, a partir de um trabalho feito a pelo menos três décadas pela indústria. O setor, no entanto, vive um desafio. A falta de uma política pública consistente de coleta seletiva impede que as embalagens descartadas pelos consumidores tenham uma destinação correta.
“As empresas recicladoras chegam a atuar com uma ociosidade média de 23%, chegando a picos de até 40%”, afirma Auri Marçon, presidente executivo da ABIPET. “Com isso, a indústria de reciclagem do PET está chegando no seu limite, por não ter a matéria-prima necessária para seus processos produtivos, ao mesmo tempo em que toneladas de embalagens são destinadas aos aterros comuns ou descartadas incorretamente no meio ambiente.”
Circularidade em alta: de uma garrafa para outra
Em 2024, o principal destino da resina reciclada – 37% do total – foi a fabricação de uma nova embalagem (preformas e garrafas), utilizadas principalmente pela indústria de água, refrigerantes, energéticos e outras bebidas não alcoólicas, dentro do sistema bottle to bottle grau alimentício. No último levantamento, esse segmento de mercado já havia chegado à liderança, com um índice de 29%.
“Esse crescimento decorre da demanda de grandes usuários da embalagem PET, que confiam nas qualidades e características do material e mantiveram o seu compromisso com a sustentabilidade, mesmo em um período em que a resina reciclada é comercializada por um valor acima do produto virgem”, afirma o presidente executivo da ABIPET.
O setor têxtil vem em segundo lugar entre os maiores usuários, com um consumo de 24% de todo o material reciclado, seguido pela indústria química (13%), lâminas & chapas (13%), fitas de arquear (10%) e outras aplicações que somam 3% do total.
Design pela reciclagem e pelo meio ambiente
Memorando firmado durante o evento busca incentivar o desenvolvimento de embalagens PET com alto valor para a reciclagem, dentro do princípio de “design for environment”, ampliando a circularidade do produto, gerando renda para a base da pirâmide. Participam desse acordo, além da ABIPET, a Associação Brasileira das Indústria de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (ABIR), a Associação Brasileira da Indústria do Óleo Vegetal (ABIOVE) e a Associação Nacional dos Catadores (ANCAT).
A ABIPET fez a atualização das Diretrizes para a Reciclabilidade da Embalagem PET, com o apoio das demais entidades empresariais, que também ficarão responsáveis pela sua divulgação e sensibilização de seus associados. A ação busca evitar o desenvolvimento e a produção de embalagens mal projetadas, que não são aproveitadas pelos catadores e recicladores e acabam virando resíduos que são direcionados aos aterros comuns.
A ANCAT será responsável por identificar, junto às cooperativas associadas, quais são as embalagens sem atratividade para reciclagem – e suas respectivas marcas – para que sejam buscadas soluções para o problema.
“Sabemos que a reciclabilidade da embalagem começa no seu projeto, uma vez que as características do corpo, rótulo e tampa influenciam diretamente no reaproveitamento pós-consumo. O lançamento da nova edição das Diretrizes tem o objetivo de colaborar e alertar os profissionais ligados a essa fase do processo sobre as consequências de suas escolhas, mesmo antes da embalagem chegar ao mercado”, afirma o presidente executivo da ABIPET, Auri Marçon.
O Censo da Reciclagem do PET no Brasil e o relançamento das Diretrizes para a Reciclabilidade da Embalagem PET fazem parte de um trabalho desenvolvido pela ABIPET, que inclui também o estudo de Avaliação de Ciclo de Vida do PET (ACV do PET), lançado no final de 2024, que mostra a vantagem do ponto de vista ambiental do PET em relação às embalagens de vidro, alumínio e aço. O trabalho contou com a validação técnica e científica do Centro de Tecnologia de Embalagens, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL/CETEA).
Siga-nos nas Redes Sociais: