Martiniano Lopes*
No mundo do agronegócio, nenhuma produção em larga escala é possível sem um maquinário robusto, estoque adequado e pessoas qualificadas. Podemos afirmar que o sistema composto por esses itens é o centro nervoso de uma empresa. Diante disso, não é exagero apostar que a gestão eficiente da manutenção é fator chave para diminuir os custos da produção.
Um bom planejamento é fator crítico para manter a produção em seu auge e, diante disso, um item primordial para o bom funcionamento da manutenção é a conservação do maquinário. Pois bem, é fato que as produções agrícolas são cíclicas. Por isso, o item mais básico é planejar uma boa revisão e manutenção durante o período de entressafra, e no período de safra ter um modelo de manutenção proativo, que mantenha os equipamentos disponíveis para produção. Um bom funcionamento desse sistema durante a safra reduz sensivelmente o custo da revisão de entressafra.
Engana-se, porém, quem imagina que a preservação dos importantes ativos acontece apenas nesse período. Para manter a empresa em pleno funcionamento durante os momentos produtivos é necessário conhecimento do maquinário e seu manuseio. Vejam, por exemplo, o que acontece nas propriedades rurais dos Estados Unidos, comandadas por pequenos grupos familiares. Estes fazendeiros dependem de sua produção e, por isso, toda a família tem total conhecimento quanto a tudo que operam, desde o trator, até colhedeiras, passando por adubadeiras e sistemas de irrigação. Isso facilita o reconhecimento de qualquer anormalidade, o que proporciona melhor gestão de riscos.
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Ao analisarmos essa questão no âmbito das empresas brasileiras, o operador das máquinas deve ser aquele que também inicia a manutenção dos aparelhos. O profissional deve ter a função de operador-mantenedor, ou seja, aquele que conhece e trabalha com o dispositivo diariamente. Por isso, uma de suas responsabilidades deve ser indicar algum desequilíbrio e evitar um possível problema que deixe os equipamentos fora de uso. Imaginem os pilotos da Fórmula 1. Eles conhecem seus carros e são os responsáveis por identificar algum tipo de conserto ou alteração para permitir que o automóvel possa ter rendimento melhor ou evitar possíveis panes. Não são raros os casos de pilotos contratados para “acertar” os carros. Ou seja, eles relatam quais as melhorias necessárias depois de dirigir e conhecer a máquina e todas as suas reações em situações reais de uso.
Nesse sentido, torna-se importantea boa formação e capacitação dos operadores dos equipamentos de colheita e, portanto, a eficiência do setor de Recursos Humanos na empresa é um elemento fundamental para garantir a disponibilidade de colaboradores qualificados no momento certo. Contratar especialistas ou investir em treinamentos e manter esses profissionais motivados podem ser diferenciais para contar com ótimos funcionários que, no final das contas, permitirão que as máquinas desempenhem seu melhor funcionamento, gerando maior produtividade e, consequentemente, lucro. Uma das formas que vem sendo utilizadas para manter a motivação dos colaboradores é a remuneração variável.
E, assim como na Fórmula 1, é preciso buscar as técnicas mais modernas de conservação, que agreguem agilidade e bons resultados. Muitas vezes, o produtor realiza suas manutenções “dentro de casa”, por outro lado já observamos fabricantes oferecendo não só peças, mas também serviços de revisão e manutenção. Existem vantagens e desvantagens, que sempre dependerão da forma de organização , modelo de governança e relação entre o fornecedor e o produtor.Além disso, também é importante entender a escala de manutenção, tipo de serviço, logística para reposição das peças, restrição de caixa, entre outros fatores. O caminho da compra de serviço de manutenção tem que ser feito com clareza de propósito, que gere valor agregado e principalmente que seja visto como uma parceria de negócio.
As empresas do setor de agronegócio estão ficando cada vez mais complexas e maiores. Por isso, gerir riscos deve ser uma preocupação sistemática. Independentemente da forma escolhida, os empresários precisam ter consciência de que, sem manutenção inteligente, não será possível obter redução de custos. Nisso muitas empresas do setor falham e por isso é preciso criar controles estatísticos para definir quais máquinas estão mais sujeitas a problemas, quais as peças, período de uso, tempo de manutenção, qual o tipo recomendável (corretiva, preventiva, preditiva) e o nível de estoque adequado para manter os equipamentos operacionais. Tais cuidados evitarão paralisações e prejuízos em tempos de produção. O correto gerenciamento da manutenção das máquinas é fator crítico para manter a empresa funcionando com lucratividade.
* Martiniano Lopes é sócio da KPMG e líder de Energia e Recursos Naturais.
Site: kpmg.com/BR