Refrigerante na era da reinvenção


Seguindo as demandas do consumidor, que valoriza hábitos mais saudáveis, bebida passa a ser desenvolvida  com menos açúcares e sódio, além de ganharem sabores de frutas nacionais

| KATHLEN RAMOS |

Assim como já acontece com todo o setor de alimentos, a indústria de bebidas presencia um grande desafio, representado pela era da saúde e do bom estilo de vida. Segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2017, desenvolvida pelo Ministério da Saúde, a prevalência da obesidade e do excesso de peso está estagnada nas capitais do Brasil, enquanto o consumo de refrigerantes caiu e a ingestão de frutas e hortaliças aumentou.

Dados da Euromonitor International comprovam essa realidade. Segundo esta empresa de pesquisa, em 2017, o mercado de refrigerantes movimentou cerca de 13.2 bilhões de litros (no varejo e food service), queda de quase 20% em vendas na comparação com 2012, quando esse mercado atingia algo em torno de 16.5 bilhões de litros. E, as projeções para 2022 indicam vendas de 13.4 bilhões de litros, o que representa, praticamente, uma estabilidade no setor. Em contrapartida, números da Vigitel indicam que o consumo regular de frutas e hortaliças subiu 4,8% de 2008 a 2017 e a prática de atividades físicas subiu 24,1% de 2009 a 2017.

“As embalagens de PET ganham cada vez mais espaço devido a características como brilho, transparência, peso reduzido, alta resistência mecânica, boas propriedades de barreira, além de custo acessível”, Geraldo Guitti, Refrigerantes Convenção

Diante desse cenário de ameaça, a indústria de refrigerantes segue um movimento de reinivenção. “O grande desafio das indústrias de bebidas é levar a informação ao público que o açúcar não é único vilão da obesidade. Ele pode ser, sim, mas caso seja consumido em excesso e não atrelado a prática de hábitos saudáveis, como exercícios físicos e alimentação equilibrada. Outro desafio é gerar, gradativamente. a mudança no paladar dos brasileiros que tendem a apreciar alimentos mais doces”, pontua o presidente da Refrigerantes Convenção, Geraldo Guitti.

Espera-se, assim, que os fabricantes passem a investir na reformulação de produtos, a fim de posicioná-los como “mais saudáveis”, conforme reforça a analista sênior da Euromonitor, Angélica Salado. “Essas tentativas incluem a redução de açúcar, bem como o aumento do uso de adoçantes como a stevia. A proporção de brasileiros obesos ainda deve aumentar, de 22% em 2016 para 26% em 2022, reforçando a necessidade de soluções alternativas na categoria”, afirma.

O diretor comercial da Krones do Brasil, Silvio Rotta, reforça que as grandes indústrias de refrigerantes têm feito investimentos em pesquisa e no desenvolvimento de novos produtos, alinhados com o desejo dos consumidores por bebidas mais saudáveis. Isso inclui o portfólio de refrigerantes. “Vemos mais bebidas com menos açúcares, conservantes e sódio, por exemplo. Há a criação de novas linhas de refrigerantes com maior quantidade de suco de frutas e água na fórmula, em diferentes sabores. São inovações que tornam essas bebidas mais saudáveis, com ingredientes mais naturais, e sem alteração no paladar dos consumidores”, analisa.

Novos sabores que vão além dos tradicionais Cola, Guaraná, Laranja e Limão, também têm movimentado o mercado na tentativa de atrair novos consumidores para a experimentação. “O Brasil é rico em diversidade de matéria-prima e a indústria de bebidas vem utilizando as frutas nacionais, tanto como forma de representar a identidade regional, quanto para ampliar os produtos com foco em saudabilidade”, acrescenta o gerente de marketing da Refrix, Fábio Mouro.

O que tem sido feito na prática? O diretor de inovação da Coca-Cola Brasil, Renato Shiratsu, afirma que a empresa está evoluindo em muitas receitas, além de oferecer embalagens menores e mais convenientes, para ajudar as pessoas a diminuírem seu consumo de açúcar. “Nos últimos três anos, repensamos as receitas de 27 produtos por meio de investimento em pesquisa e desenvolvimento”, destaca.

Nesse sentido, a empresa lançou, neste ano, a Sprite Ice Mint (Sprite com menta adicionada e zero açúcar), a Sprite Lemon Fresh (uma versão levemente gaseificada e sem adição de açúcar) e Coca-Cola Plus Café Espresso (com 40% mais cafeína e 50% menos açúcar). Outro grande destaque é YAS, uma bebida feita apenas de água com gás, suco de fruta e aromas naturais, sem conservantes, corantes, açúcar adicionado ou adoçantes.

“Nos últimos três anos repensamos as receitas de 27 produtos por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, Renato Shiratsu, Coca-cola Brasil

Desenvolvida com consumidores brasileiros para acertar com o paladar nacional, é uma aposta da empresa no mercado de bebidas à base de frutas e gaseificadas. YAS chega em três opções de sabores: Maçã & Chá Preto, Laranja & Maracujá, e Uva. “Nosso objetivo é ajudar a desenvolver essa nova categoria de bebida, que tem gás, como refrigerante e frutas naturais, como em um suco de fruta. Por estar em linha com as demandas do consumidor moderno, acreditamos ter um grande potencial de desenvolvimento”, afirma Shiratsu.

Acreditando que o consumo moderado de açúcar faz parte de uma dieta balanceada e do estilo de vida saudável, o Grupo Heineken no Brasil também tem ampliado a oferta de refrigerantes com menos açúcar ou zero adição deste ingrediente. A marca Itubaína Guaraná – lançamento mais recente da companhia -além do sabor marcante da fruta, possui, segundo a empresa, 36% menos açúcar em relação à média do mercado e também está disponível na versão zero.

Na mesma toada, a Refrigerantes Convenção apresentou, em 2017, a linha de refrigerantes com 53% menos açúcares, nos sabores preferidos dos consumidores da marca: o Guaraná e o Frutaína. “Um dos fatos curiosos é que essa mudança não gerou perda da qualidade e sabor. Muitos dos nossos consumidores apreciaram os novos produtos e optaram por essas novas versões, substituindo as apresentações regulares”, observa Geraldo Guitti.
Já a Refrix, seguindo a tendência de apresentar novos sabores, lançou, neste ano, o sabor Framboesa para todos os estados onde comercializa a marca Xereta, que já conta com outros sabores diferenciados, como Maçã, Abacaxi, Tubaína e Uva, por exemplo.

Mudanças nas embalagens Uma tendência muito grande no setor de refrigerantes diz respeito à embalagem. Recentemente, as grandes indústrias divulgaram suas metas de sustentabilidade para os próximos anos, em que vão priorizar a adoção de apresentações retornáveis ou feitas em material majoritariamente reciclado. “Uma parte importante da nossa estratégia é o forte investimento em embalagem retornáveis nos últimos anos. Além das garrafas de vidro retornáveis, que nunca deixaram de existir, há alguns anos temos em nossa linha as garrafas de PET retornáveis”, afirma Renato Shiratsu, da Coca-Cola Brasil.

Para tanto, com investimento de R$ 100 milhões, a Coca-Cola Brasil passa a comercializar todas as garrafas de PET retornável de suas marcas de refrigerantes em um único formato. Isso quer dizer que, a cada volta à fábrica, a embalagem 100% reciclável poderá ser envasada e receber um rótulo de papel destacável de qualquer produto da Coca-Cola Brasil. Com isso, o consumidor poderá escolher qual bebida deseja comprar toda vez que levar a embalagem vazia de volta para o ponto de venda.

Até então, havia um modelo diferente de garrafa retornável para cada marca de refrigerante, com formato próprio e o rótulo impresso de forma permanente. A tinta aplicada nas garrafas prejudicava, ainda, a reciclagem do produto. A solução, pioneira entre os fabricantes da Coca-Cola em todo o mundo, possibilitou adaptação nas linhas de produção para aplicar e retirar rótulos de papel, a cada nova ciclo das garrafas. As novas tecnologias permitiram mais versatilidade e eficiência, e menos desperdício. A iniciativa será replicada na América Latina em países como Argentina, Chile, Peru e Colômbia.

A Coca-Cola Brasil aposta na ampliação da oferta de produtos retornáveis como parte de sua estratégia de crescimento consciente. “Hoje estamos com cerca de 20% do nosso volume comercializado composto por embalagens retornáveis, e a meta é chegar a 30% até 2020”, revela o gerente de operações da Coca-Cola Brasil, Diogo Gioia. “Com as embalagens retornáveis, oferecemos produtos com a mesma qualidade, por um preço mais acessível”, conclui. No Brasil, a empresa vai chegar ao fim de cinco anos (2016-2020) com investimento de R$ 1,6 bilhão para garantir os objetivos de suas políticas de embalagens, como o de ajudar a recolher o equivalente a 100% das embalagens que coloca no mercado até 2030.

Os principais benefícios da embalagem universal para o meio ambiente são a redução de emissão de carbono e a não geração de resíduos, uma vez que ela diminui a quantidade de novas garrafas produzidas. Há, também, o controle total sobre sua destinação após os ciclos de uso, quando todas voltam para as fábricas e, em seguida, são encaminhadas à indústria recicladora. Com as retornáveis, anualmente, a empresa deixa de colocar mais de 200 milhões de PETs no mercado.

Atendendo demandas da indústria Para atender a nova realidade do mercado de refrigerantes, a indústria de equipamentos também tem investido para apresentar novas soluções. A Krones desenvolve e fornece, por exemplo, uma linha Ref PET, de alta produtividade, que opera com embalagens retornáveis, que já está em funcionamento no Brasil. “Na Ref PET, temos o AirContronic, um inspetor para garrafas PET vazias de elevada precisão, capaz de detectar embalagens impróprias para reutilização, eliminando-as da linha e assegurando a qualidade dos envases. Uma vez que uma garrafa retornável tem um ciclo de vida de até 25 usos, este cuidado com controle e inspeção é necessário”, resume Silvio Rotta, da Krones.

“Uma vez que uma garrafa de PET retornável tem um ciclo de até 25 usos, o cuidado com controle e inspeção é extremamente necessário”, Silvio Rotta, Krornes do Brasil

Em termos de reciclagem, a Krones tem a solução “bottle-to-bottle” MetaPure, que recicla eficientemente garrafas PET usadas para que empresas voltem a utilizar o material reciclado em forma de rPET nas indústrias de bebidas e alimentos. A planta é composta por módulos de lavagem e descontaminação, além de instalações periféricas. O processo é seguro e garante a máxima qualidade do produto final da reciclagem.

Seja quais forem as mudanças estipuladas, as PETs continuam dominando o setor. “As embalagens plásticas de PET vêm ganhando cada vez mais espaço devido a características como brilho e transparência associados a peso reduzido, alta resistência mecânica, boas propriedades de barreira e custo acessível. A versão mais vendida é o PET 2 litros, pois os consumidores têm o hábito de compartilhar a bebida com familiares e amigos”, resume o presidente da Refrigerantes Convenção, Geraldo Guitti.

Insights e tendências

“O Brasil é rico em diversidades de matéria-prima e a indústria de bebidas vem utilizando frutas nacionais tanto para representar a identidade regional, quanto para ampliar os produtos com foco na saudabilidade”, Fabio Mouro, Refrix

TUBAÍNAS DE VOLTA: embora os refrigerantes tenham sofrido muito nos últimos anos com a situação econômica e migração para outras categorias, nem todas as apresentações amargaram perdas. As “tubainas”, bebidas regionais com guaraná, ganharam relevância. Elas atingem consumidores de baixa renda, pois são muito acessíveis, geralmente metade do preço dos refrigerantes mais caros do setor.

LIDERANÇA: no mercado de refrigerantes, a Coca-Cola continua sendo protagonista e criadora de tendências. Além dos novos sabores, incluindo, limão siciliano, por exemplo, a empresa ofereceu um novo formato de latas (de 220 mL), criando novas ocasiões de consumo e preços acessíveis para os consumidores com orçamentos apertados. Também lançou novas fórmulas para Sprite e Schweppes, com menos adição de açúcar.

FORÇA DO GUARANÁ: Ambev está em segundo lugar neste mercado,sendo forte em refrigerantes sem cola. A empresa ficou muito atrás do líder global e dos carbonatados de cola, mas a distância diminuiu consideravelmente em outras categorias, como bebidas a base de guaraná. Esse desafio fez a protagonista do setor lançar, em 2017, uma versão de Fanta, baseada no Guaraná, em uma tentativa de competir com a marca Antarctica.

MUDANÇAS NO MERCADO: a indústria de refrigerantes está passando por um processo de adequação. Um exemplo disso é o fim de benefícios fiscais para as grandes empresas, que até 2020 tornará a regra do jogo mais equilibrada para todos. Além disso, o cerco para empresas que insistem em praticar a informalidade também está fechando. Esses aspectos podem determinar as empresas que permanecerão no mercado.

PREVALÊNCIA DAS PETS: o refrigerante é um produto muito consumido em casa e com a família e, por esse motivo, a embalagem de PET 2 litros continua sendo a mais vendida.

NOVOS BENEFÍCIOS: estudos indicam uma tendência de que as bebidas carbonatadas possam migrar das versões regulares para outras que ofereçam algum benefício, como por exemplo: sem conservantes, aumento da porcentagem de sucos de frutas, redução de açúcares, redução de calorias com o uso de adoçantes, adição de ervas e especiarias, entre outros.

ADESÃO AOS PREMIUNS: a premiumização voltada aos refrigerantes pode ser denominada como “luxo acessível” para os consumidores que estão abertos a conhecerem novos produtos. Nesse sentido, pode-se visualizar produtos com investimentos em embalagens em formatos diferenciados, acabamentos com efeitos estéticos, uso de cores e impressão de alta qualidade, texturas e brilhos capazes de provocar sensações e emoções.

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