Nostalgia regional em forma de refrigerante

As bebidas locais marcam a experiência dos consumidores de determinadas regiões brasileiras. E as marcas aproveitam essa preferência para ampliar seu raio de atuação

 

Por Thais Martins

Segundo levantamento da consultoria global em pesquisa, Mordor Intelligence, o tamanho do mercado de refrigerantes deve passar dos US$ 676,1 bilhões em 2024, com perspectiva de atingir US$ 901,7 bilhões até 2030. Entre as tendências está a preferência do consumidor por rótulos limpos, ou seja, bebidas sem glúten, com baixa caloria, baixo teor de carboidratos e sem açúcar.

“A valorização de produtos que representam sua origem desperta memórias afetivas, o que tem contribuído para a aceitação do mercado. A valorização de produtos que representam sua origem desperta memórias afetivas, o que tem contribuído para a aceitação do mercado”, Diego Albuquerque, Asa Branca

Mas, fazendo um contraponto, 7 décadas atrás o que prevalecia mesmo era o gostinho de infância que muitas bebidas causaram, e ainda causam, como memória afetiva. Tanto é que não é raro visitar diferentes estados brasileiros e ouvir a recomendação para provar determinado refrigerante local. E, para os mais saudosistas, vale até mesmo aproveitar aquela viagem para estocar sua bebida favorita até a próxima oportunidade de retornar à região. Então, que tal beber uns goles de nostalgia?

Ceará

O nome do refrigerante Siará não foi criado exclusivamente para a bebida gaseificada: já existia um vinho de caju com o mesmo nome, lançado por volta de 2010. “A escolha tem um vínculo histórico. Como ‘Ceará’ não era registrável, identificamos que a grafia oficial era ‘Si’, por isso adotamos o termo e reforçamos a homenagem à cultura nordestina. A valorização de produtos que representam sua origem desperta memórias afetivas, o que tem contribuído para a aceitação do mercado”, explica o diretor comercial da indústria de bebidas Asa Branca, Diego Albuquerque.

Lançado recentemente, atualmente todo o estado já consome o produto. “Temos uma equipe própria, com mais de 40 vendedores atendendo todo o estado. Porém, outras regiões brasileiras, como Brasília, Paraíba e Bahia, já estão com interesse na bebida. Já temos contatos e compras realizadas de forma pontual e estamos trabalhando com representantes para facilitar a expansão da distribuição”, comemora Albuquerque.

A empresa está otimista quanto ao crescimento do Siará, com estimativa de que o volume de vendas triplique até o segundo semestre de 2025 devido a versão ‘zero’ e a expansão para novos estados

O grande diferencial do refrigerante é o uso da matéria-prima de alta qualidade e o suco concentrado de caju autêntico, sem o uso de aromas artificiais, o que garante um sabor mais puro e natural. “Ao todo, são cerca de 10 mil pacotes vendidos mensalmente da bebida, o que equivale a 60 a 80 mil garrafas mensais, considerando todas as embalagens. No entanto, optamos por não divulgar amplamente esses números, pois, em comparação com o mercado de refrigerantes, ainda representam um volume inicial: uma média de 120 mil anualmente, o que é considerado baixo para o mercado. Em contrapartida, estamos otimistas quanto ao crescimento do Siará, já que prevemos que o volume de vendas triplique até o segundo semestre de 2025 devido a versão ‘zero’ e a expansão para novos estados, que acontece de forma natural”, pontua o diretor.

Espírito Santo

“Em 2024, produzimos um volume de 1.483.535 fardos, com uma média de 128.480 fardos mensais. Em 2024, investimos em maquinários, elevando a capacidade produtiva em mais de 40%”, Raony Ramos Rocio, Grupo Coroa

Na década de 50, o Grupo Coroa iniciou a produção do Guaraná Coroa, hoje carro-chefe da companhia capixaba. Eleita uma das melhores do mundo pela Bevnet, a bebida é produzida no Centro do município de Domingos Martins, com a Água Mineral Campinho, direto da Fonte Santa Elisa II, e distribuída em todo o estado do Espírito Santo, parte da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Guaraná Coroa, carro chefe da companhia, é produzido com a Água Mineral Campinho, direto da Fonte Santa Elisa II, e distribuída em todo o estado do Espírito Santo, parte da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro

“Trabalhamos com logística própria, com cerca de 48 veículos, e parceiros que auxiliam na distribuição. Em 2024, produzimos um volume de 1.483.535 fardos, com uma média de 128.480 fardos mensais. Em 2024, investimos em maquinários, como a SB016, que elevou a capacidade produtiva em mais de 40%”, enumera o gerente de marketing, Raony Ramos Rocio.

Na visão do gerente, o Guaraná Coroa ocupa um importante espaço na lembrança do consumidor, “não somente por ser um produto de qualidade diferenciada e atualizado com as demandas do mercado, como as versões zero açúcar e opções mais saudáveis, mas por fazer parte de momentos especiais das famílias capixabas há décadas”.

 

 

Maranhão

O Guaraná Jesus, icônica marca de refrigerantes da Solar Coca-Cola, carrega consigo a delícia de ser patrimônio maranhense há gerações. “É através do cor-de-rosa estampado na tradicional lata, que levamos a autenticidade do Maranhão para qualquer espaço, do Nordeste ao Norte, representando as riquezas e a tradição do Estado”, indica o gerente de marketing de refrigerantes, Victor Távora.

“O Guaraná Jesus, marca da Solar Coca-Cola, carrega a delícia de ser patrimônio maranhense há gerações. A Coca-Cola Brasil adquiriu os direitos da bebida em 2001, comprometendo-se a preservar a mistura de traços de cravo e canela em sua composição”, Victor Távora, Solar Coca-Cola

A marca foi criada pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes, com fórmula desenvolvida em São Luís, em 1927. Em 1980, a família de Jesus vendeu a marca para a Companhia Maranhense de Refrigerantes, franqueada pela Coca-Cola Brasil, que adquiriu os direitos da bebida em 2001, comprometendo-se a preservar a mistura de traços de cravo e canela de sua composição.

O Guaraná Jesus, marca da Solar Coca-Cola, carrega a delícia de ser patrimônio maranhense há gerações. A Coca-Cola Brasil adquiriu os direitos da bebida em 2001, comprometendo-se a preservar a mistura de traços de cravo e canela em sua composição

“O Guaraná Jesus já é distribuído em todo o território Solar, que corresponde a 70% do país, abarcando toda a região Nordeste, Norte e Mato Grosso. Posteriormente, outras engarrafadoras do Sistema Coca-Cola também passaram a distribuir o refrigerante em estados do Centro-Oeste. Hoje, o produto possui um alto valor agregado, com um crescimento anual de 15% na receita”, afirma Távora.

“Nossa média mensal de produção
varia de acordo com a sazonalidade
do produto, chegando a registrar a casa de 10 a 12 milhões de litros anualmente”, Rogério Vilela Silva, Frutty Refrigerantes

Minas Gerais

Em 1950, Frutuoso Mariano Silva montou a precursora da atual Frutty Refrigerantes, hoje comandada por filho e netos. Batizada com o nome do fundador, a bebida também é conhecida no interior de Minas Gerais como “Sodinha” e marcou a infância dos consumidores da região de São Gonçalo, sede da empresa. Já em 2010, a terceira geração da família passou a integrar a empresa, dando início a novos projetos de expansão e modernização, incluindo a produção da sua própria linha de embalagens PET.

Batizada com o nome do fundador, a bebida também é conhecida no interior de Minas Gerais como “Sodinha” e marcou a infância dos consumidores da região de São Gonçalo

De acordo com o diretor da Frutty, Rogério Vilela Silva, “a média mensal de produção varia de acordo com a sazonalidade do produto, chegando a registrar a casa de 10 a 12 milhões de litros anualmente”. Atualmente, a linha de refrigerantes conta com sete sabores: guaraná, abacaxi, limão, laranja, cola, tubaína e uva, disponíveis em embalagens de 2 litros, 180, 250 e 500 ml. “Nossa distribuição é terceirizada, contamos com uma equipe de vendas interna, além da atuação nas grandes redes de supermercados por grande parte de Minas Gerais. A aceitação dos produtos sempre foi muito boa, não é por acaso que temos 75 anos de atividades”.

“O volume de produção da receita criada há mais de sete décadas chega, em média, a 400 mil pacotes mensais, em diversos tamanhos de garrafas. Investimos no desenvolvimento de novos produtos e, para este ano, temos expectativa de aumento de vendas devido a entrada em outros mercados”, Carlos Eduardo Lobato Biagioni, Refrigerante Mate Couro

Outra iniciativa mineira foi a de seis amigos, entre eles um farmacêutico, com o desejo de criar uma bebida gostosa a partir de extratos vegetais de erva mate, chapéu de couro e guaraná. Após muitas pesquisas, em 1947 iniciou-se a fabricação do Refrigerante Mate Couro, sendo distribuído em Belo Horizonte e pelo interior de Minas Gerais.

Iniciativa de seis amigos, entre eles um farmacêutico, deu origem a Mate Couro, em Minas Gerais. O portfólio da empresa atualmente inclui, além da receita original mais sete sabores de refrigerantes

“Atuamos em grandes redes de supermercado, como Carrefour, Atacadão, Supermercados BH e Super Nosso. O volume de produção da receita criada há mais de sete décadas chega, em média, a 400 mil pacotes mensais, em diversos tamanhos de garrafas. Com o decorrer do tempo, investimos no desenvolvimento de novos sabores de refrigerantes, como guaraná, cola, laranja, limão, uva, abacaxi e tangerina. Para este ano, temos expectativa de aumento de vendas devido a entrada em novos mercados do interior de MG”, explica Carlos Eduardo Lobato Biagioni.

Rio Grande do Sul

Com o mesmo nome da empresa, a linha de refrigerantes nasceu em 1971, e tem o guaraná como carro-chefe, facilmente encontrado no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A fórmula da bebida é criação de Nelson Eggers, neto do fundador da companhia, atual presidente do Conselho Consultivo e, à época, diretor-presidente e diretor industrial da Fruki Bebidas.

Instalada em Lajeado, a fábrica dispõe de sete linhas de envase, e da sede administrativa. Já os Centros de Distribuição estão localizados em Lajeado, Paverama, Canoas, Farroupilha, Pelotas, Santo Ângelo, Osório, Santa Maria, Biguaçu e Blumenau.

“A capacidade produtiva da empresa atinge 620 milhões de litros por ano. Destes, 200 milhões são da fábrica nova, em Paverama, que conta com uma linha de envase PET. Para o segundo semestre, essa planta deverá dobrar a produção após a instalação da segunda linha, registrando um salto para 820 milhões de litros”, Julio Nascimento, Fruki Bebidas

“Hoje, a marca atende de forma direta 25 mil clientes nestes dois estados através da equipe de vendas própria, formada por 150 profissionais. Além disso, para regiões periféricas, os distribuidores autorizados atendem aproximadamente 4 mil pontos de venda (PDVs)”, aponta Julio Nascimento, diretor industrial da Fruki Bebidas.

A capacidade produtiva da empresa atinge 620 milhões de litros por ano. “Destes, 200 milhões são da fábrica nova, em Paverama, que conta com uma linha de envase PET. Para o segundo semestre de 2025, essa planta deverá dobrar a produção após a instalação da segunda linha, registrando um salto para 820 milhões de litros por ano”, ressalta Nascimento.

A categoria de refrigerantes apresentou um crescimento exponencial no último ano, parte disso em virtude do lançamento de novos produtos sazonais

Segundo o diretor, a categoria de refrigerantes é o maior mercado de atuação da empresa em não-alcoólicos e onde foi registrado um crescimento exponencial no último ano. “Uma das iniciativas para obtenção desse crescimento é o lançamento de novos produtos sazonais, como foi Fruki Berga nos últimos três invernos, e a edição limitada de verão do Frukaxi, guaraná com aroma natural de abacaxi. Além disso, em comemoração aos 50 anos da marca, foi lançada uma collab com a marca de roupas Gang, com looks em homenagem ao logo vintage da nossa bebida”, finaliza Julio Nascimento.

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