A redução do portfólio com foco nas cervejas mais vendidas é forma encontrada pelas cervejarias artesanais para ganhar competitividade e crescer no mercado
Por Henrique Oliveira
O Blog “Bar do Celso” publicou no Instagram, na semana que antecede o Carnaval, uma nota interessante sobre um fato que vem ocorrendo nos Estados Unidos.
Para superar a crise, lojas e bares especializados em cervejas adotaram a estratégia de reduzir o número de rótulos em suas gondolas.
Essa informação, Celso extraiu do New York Times, por meio do artigo de Joshua M. Bernstein publicado em 26 de janeiro: “After a Boom, Craft Beer Considers a New Creed: Less Is More”, em português: “Após o Boom, Cervejarias Artesanais Consideram um Novo Credo: Menos é Mais”.
Segundo o artigo, “em novembro passado (2023), as vendas de cerveja nas lojas americanas caíram 3,1% em volume em relação ao ano anterior, segundo a empresa de pesquisa de mercado NIQ. Nos bares e restaurantes, as vendas caíram quase 4,7%. (Só para cerveja artesanal, a queda foi ainda mais acentuada: 5,3% nas vendas nas lojas e 6,7% em bares e restaurantes.) Parte desse comportamento está associada a mundança de comportamento do consumidor, que está voltando à simplicidade. Depois de anos oferecendo uma sucessão constante, muitas vezes semanal, de novos produtos, muitas cervejarias, bares e supermercados reduziram o número que produzem, servem e vendem. Em parte, isto é uma concessão à realidade econômica: os americanos estão comprando menos cerveja, optando por bebidas espirituosas e drinks em lata ou abstendo-se totalmente de álcool.”
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Com base nesse cenário, o jovem Celso perguntou? Você concorda com a estratégia citada no artigo, sobre o mercado americano das artesanais que “Menos é Mais?”
Bart Watson, economista-chefe da Brewers Association cantou a pedra no primeiro semestre de 2023, citando que o crescimento de cervejas artesanais atingiu um patamar que é comum a outros segmentos presentes nos Estados Unidos, deixando de ser um foguete de crescimento isolado. Quanto a estratégia, comento que o mesmo cenário citado no artigo do Times vem também ocorrendo no Brasil. Primeiro, cabe destacar que o setor de bebidas alcóolicas é muito dependente do comportamento do PIB. Quando a economia vai bem, muitos dizem: “garçom, desce uma gelada”! Quando a economia vai mal, aí a frase é outra: “garçom, encerra a conta”!
Tanto no Brasil quanto no exterior, observa-se um certo achatamento dos salários, sem citar os efeitos do desemprego pós-pandemia, sobretudo devido a uso de tecnologia e atos de inovação. Nessas circunstâncias, o consumidor passou a optar em buscar cervejas pelo melhor (ou menor) preço ou ainda pelo custo-benefício e optou a tomar boa parte de suas cervejas em casa. Consequentemente, bares e lojas especializadas voltaram-se para os rótulos de maior drinkability, e por aqueles que giram melhor os estoques, visando otimizar custos, manter o capital de giro sustentável, sem perder a rentabilidade. O mesmo cenário foi visto, por exemplo, no setor de serviços de alimentação, mais precisamente no cardápio dos restaurantes, com uma redução significativa do menu: houve uma menor oferta no número de pratos (ou até a sua redução em termos de quantidade), sobretudo em itens como peixes, crustáceos e carnes nobres, itens perecíveis, considerados de elevado custo. Em suma, quando o cinto aperta, às vezes o melhor é fazer o tradicional, o arroz com feijão, o básico, até que haja alguma recuperação econômica. Nessa hora menos, de fato, é mais.
Uma das soluções que cabe aos empresários é lidar com a gestão ideal dos estoques. É uma conta complexa, que carece de monitoramento, tomada de decisão com base em testes, criação de promoções por meio de combinados, (os famosos “combos”) para maior giro, ou ainda expandir as ofertas por SKU’s, ou seja, ofertar uma maior diversidade, em termos de tamanho de embalagem, de um mesmo produto e, naturalmente, efetuar um ajustamento do mix aos olhos de cliente, seja pelo seu perfil, seja pela sua necessidade ou desejo de consumo. (Aliás, anote aí: mix será a bola da vez no ano de 2024, em vários setores.)
O momento é de reinventar-se, pois o cenário fica ainda mais complicado com a ação dos concorrentes de outros nichos, como o gin, o whisky, o rum e a cachaça. Todos esses estão buscando cada vez mais atrair clientes com uma política de preços mais aderente ao bolso e com a elaboração de coquetéis e drinks de encantar os olhos e o paladar.
Para encerrar, aqui vai uma notícia boa no fim do túnel. Ao contrário dos Estados Unidos, onde há um universo de mais de 9.500 cervejarias artesanais, (o que deixa qualquer consumidor confuso na hora de tomar a sua decisão de compra), a realidade do Brasil tem sido diversa. Apesar da mudança de comportamento do consumidor, o mercado de cervejas artesanais está expandido. Dados do Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura (MAPA) mostram que em 2022, o setor cervejeiro cresceu 11,6%, com a abertura de 180 novos estabelecimentos. Ao todo, foram registradas 1.729 cervejarias.
Isso mostra que o Brasil não é um país e sim um continente e que há espaço para o surgimento de novos estabelecimentos, sobretudo em seu interior e em áreas em que há práticas de turismo, gerando emprego e renda. E para atrair e manter clientes, nada como promover uma boa visita guiada à fábrica, realizar degustações harmonizadas, criar eventos locais, produzir novas bebidas além da própria cerveja e por aí vai.
Há muito o que fazer além do trivial. Nesse sentido, menos não é mais. Mãos à obra.
Henrique Oliveira Consultor Executivo Governança, Risco & Compliance
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