Fabricantes buscam alternativas para manter consumo de destilados em alta
Por Carlos Donizete Parra
Diante da forte retração do consumo que atrapalha a indústria em geral, fabricantes de destilados procuram alternativas para manter as vendas aquecidas. Nos últimos anos esses produtos tiveram alta nas vendas em virtude do aumento da renda que beneficiou consumidores, principalmente das classes C e D, que com maior poder de consumo puderam incluir em suas compras produtos considerados supérfluos. Com uma situação econômica estável, consumidores das classes A e B também puderam gastar com produtos de maior valor agregado favorecendo o aumento de vendas de bebidas premium.
O segmento premium no Brasil ainda é pequeno, mas produtos como café, cerveja, sucos e outros alimentos superam a crise e, para isso, investem em ações e lançamentos dirigidos a esse perfil de consumo. As cervejas especiais conquistam cada vez mais adeptos aumentando os espaços para esses produtos nas gôndolas dos supermercados e pontos de vendas. Essas cervejas mantém vendas acima de dois dígitos, mesmo com situação econômica adversa.
Os destilados se valem dessa onda de premiunização para o desenvolvimento de produtos mais sofisticados e para diferentes ocasiões de consumo. A própria gourmetização que se espalha por diferentes faixas da população apoiada por programas na televisão aberta, como o Master Chef e outros, influenciam e modificam o comportamento e os hábitos dos brasileiros.
O aumento da renda possibilitou ao consumidor nacional a realização de viagens internacionais e a experimentação de produtos diferentes formando um paladar mais refinado. Isso, no mínimo, torna essas pessoas mais exigentes. O que é muito bom para as empresas que fabricam produtos de qualidade.
Beneficiadas por esses fatores, a indústria de destilados procura manter as vendas de seus produtos em alta e, a grande maioria, trabalha com expectativa de crescimento para este ano. Em 2014, segundo dados da Nielsen, as vendas de uísque, em valor, cresceram 30% nos 12 meses encerrados em julho, enquanto as vendas de vodca subiram 12% no mesmo período.
Esse aumento foi puxado, principalmente, pelas marcas mais caras. No caso da vodca, as garrafas com preço acima de R$ 50 tiveram alta de 43% nas vendas. Já as vendas de uísque luxo e superluxo (acima de R$ 90) subiram 49% e 115%, respectivamente. O aumento de consumo foi percebido em todas as faixas de renda, alterando a freqüência de consumo. As classes B e C consomem os produtos chamados premium em ocasiões especiais, já os consumidores da classe A fazem uso desses produtos de forma habitual.
Aumentando o portfólio
Com uma atuação bastante dinâmica, o setor de destilados é um dos que mais lançam produtos na área de bebidas. Essa estratégia atrai consumidores sedentos por novidades, sejam elas nacionais ou importadas.
O dinamismo do setor chamou a atenção das vinícolas que passaram a dirigir investimentos maiores para esse tipo de bebida.
Conhecida no mercado pela venda de vinhos e espumantes, a Salton decidiu aumentar seu portfólio no setor de destilados. A empresa já produz o conhaque Presidente.
Com uma nova fábrica recentemente inaugurada em Jarinú, no interior do Estado de São Paulo, a Salton coloca no mercado o Golden King, um malt whisky, de cor amarela que traz no sabor aromas de carvalho, baunilha, caramelo, ameixas secas, mel e frutas cristalizadas, proporcionando um gosto suave e macio com pequena adstringência.
Elaborado com malt de um e dois anos turfado, proveniente de cevada importada, cortado com destilado simples de cana de açúcar e extrato natural de carvalho francês, o produto chega ao mercado para conquistar o paladar dos consumidores cada vez mais interessados em alta qualidade.
O novo malt whisky já está sendo produzido na unidade de Jarinu e o projeto contempla elaboração de produtos na categoria destilados. Segundo Cleber Slaifer, diretor de vendas da Vinícola Salton, a empresa tem apostado em grandes novidades e o Golden King chega ao mercado para contribuir ainda mais com o crescimento da companhia. “Estamos de olho nas oportunidades geradas com a mudança no perfil do consumidor, cada vez mais exigente. O público que comprava destilados mais baratos, está evoluindo, quer produtos mais bem apresentados e mais elaborados”, afirma Slaifer.
Outra vinícola interessada nesse setor é a Casa Valduga, uma das mais tradicionais fabricantes de vinhos e espumantes da Serra Gaúcha. Depois do Brandy XV e XX anos, a empresa lança o Ten Years Brandy. Armazenada em barricas de carvalho francês por dez anos, a bebida une qualidade e sofisticação.
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A novidade é elaborada com a cepa Trebbiano, uma das variedades de uva branca mais cultivadas no mundo, também é considerada a principal uva para a produção de tal destilado. Este Brandy encanta por sua maciez e delicadeza, sendo envasado em garrafas numeradas e assinadas pelo enólogo João Valduga.
Após a elaboração do vinho branco, é realizada a primeira destilação, durante dez horas, em alambique descontínuo de cobre. Na segunda destilação, são separados ‘cabeça, coração e cauda’ do líquido que, ao ser guardado por dez anos em barricas de carvalho francês, atinge sua expressão máxima. O resultado é um Brandy equilibrado e elegante, apresentando notas de coco e baunilha com nuances de frutas cristalizadas. Uma opção para acompanhar chocolates com alta concentração de cacau e também pode ser apreciado na companhia de bons charutos.
Rótulos com arte
As edições limitadas também funcionam como ferramenta para posicionar a bebida na mente do consumidor de acordo com os atributos desejados. Embalagens diferenciadas, rótulos especiais, bem como sabores inusitados são opções disponibilizadas frequentemente pelos fabricantes de destilados. Desenvolver o projeto mais adequado para o target de público de acordo com suas necessidades é o desafio do pessoal de Pesquisa e Desenvolvimento.
A Campari acaba de lançar uma edição limitada da icônica bebida vermelha vendida em todo o planeta, numa estratégia de marketing utilizada pela empresa para deixar o produto sempre em evidência nos pontos de vendas. A edição limitada apresenta três diferentes rótulos colecionáveis com desenho de um pavilhão da Expo Milão, criado pelo artista Fortunato Depero em 1933 para a marca. O rótulo faz parte do projeto global do Gruppo Campari chamado Art Label, uma iniciativa lançada em 2010 para celebrar o 150º aniversário da marca.
Para iluminar e acrescentar cor ao desenho original do artista – afinal 2015 também é o Ano Internacional da Luz – Campari recorreu à especialista em cores Francesca Valan, uma consultora que também colabora com a X-Rite Pantone, autoridade global no assunto, para ajudar a selecionar os tons apropriados para o processo de modernização da arte, tendo em mente o que Depero escolheria se ele estivesse vivo hoje.
“Fortunato Depero é um artista notável e tem um longo histórico com a companhia. Reinterpretando um movimento de arte de uma maneira original e adicionando cores e elementos inesperados à sua icônica garrafa, a Campari busca mostrar que tradição e modernidade podem andar de mãos dadas. Temos certeza que o consumidor da marca compartilha dessa filosofia e apreciará essa nova edição limitada”, afirma Marina Santos, Diretora de Marketing da Campari do Brasil.
De olho nas exportações
Os Governos do Brasil e México assinaram em maio uma declaração com as bases para o reconhecimento mútuo da cachaça e da tequila, como produtos distintos, respectivamente, do Brasil e do México. O processo de reconhecimento da cachaça no México como um destilado exclusivo do Brasil teve início, oficialmente, com a assinatura da declaração conjunta entre os dois países assinada pela presidente do Brasil, Dilma Roussef e pelo presidente do México, Enrique Peña Nieto. Esse é o terceiro país a reconhecer a cachaça como um destilado exclusivo do Brasil. O primeiro foi a Colômbia, e o segundo foram os Estados Unidos, em 2012, depois de mais de uma década de negociação dos produtores e do Governo Brasileiro.
A ida de representantes do IBRAC (Instituto Brasileiro da Cachaça) ao México no ano passado integrou as ações do Projeto Setorial de Promoção às Exportações de Cachaça firmado entre a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a entidade. A visita teve como objetivo a realização de ações de benchmarking com a tequila com o intuito de melhorar o trabalho de promoção e defesa da cachaça em mercados internacionais.
O convênio com a Apex-Brasil terá duração de dois anos com previsão de investimentos de R$ 1,3 milhão contando com a participação de 38 empresas.
Ao longo dos dois anos, esse recurso será utilizado em ações de promoção da cachaça no mercado internacional, especialmente em países prioritários do projeto: Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido.
As exportações de cachaça atualmente estão aquém do potencial de mercado e estima-se que apenas 1% do volume produzido é exportado. Apesar de ainda serem modestas, nos últimos 5 anos as exportações de cachaça para o mercado mexicano cresceram mais de 611% (em valor) e 800% (em volume).
Com quase 500 anos de história, a cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, tendo como matéria-prima exclusiva o mosto fermentado do caldo da cana-de-açúcar, com teor alcoólico de 38% a 48%. Atualmente é o 3º destilado mais consumido no mundo, sendo produzido em várias destilarias espalhadas pelo Brasil.
O sucesso da tequila no mercado internacional é um exemplo para a cachaça. Enquanto em 2014 as exportações de tequila representaram uma receita de mais de U$ 1 bi para o México, o Brasil exportou pouco mais de US$ 14 milhões de cachaça.
Outro ponto de destaque está relacionado à proteção internacional. Enquanto a Tequila é protegida em mais de 46 países, incluindo a União Europeia, a cachaça está protegida em apenas três.
Os números da cachaça
- O Brasil possui quase 2.000 produtores devidamente registrados, com 4.000 marcas.
- Estima-se que esses produtores possuam uma capacidade instalada de produção de aproximadamente 1,2 bilhão de litros anuais da bebida, porém, anualmente são produzidos aproximadamente 800 milhões de litros.
- Em 2014 a cachaça foi exportada para 66 países. Atualmente são mais de 60 empresas exportadoras (40 dessas apoiadas pela Apex-Brasil), gerando uma receita de US$ 18,33 milhões (10,18 milhões de litros). Comparando-se os números, em 2014, houve um aumento de mais de 10% em relação a 2013. Também houve um aumento de mais de 10% no volume, sendo exportado um total de 10,18 milhões de litros em 2014.
- Principais Regiões Produtoras: São Paulo, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e Paraíba.
- Principais Regiões Consumidoras: São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Bahia e Minas Gerais.