Tem vaga, mas falta profissional qualificado

Pesquisa aponta contrassenso entre desemprego e oportunidades de trabalho

Estudo realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC) revela a falta de profissionais qualificados em diversos setores e áreas de atuação; quase 49% dessas empresas relatam possuir vagas que não são preenchidas por não encontrarem trabalhadores aptos às funções disponíveis. A pesquisa foi coordenada pelos professores Paulo Resende, Paulo Renato de Sousa, Paula Oliveira e Simone Nunes, do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da FDC.
Aplicada no 2º semestre de 2015, a pesquisa teve participação de mais de 200 empresas brasileiras, das quais a maioria concentradas na região Sudeste, onde 45% delas mantém suas matrizes e mais de 36% têm negócios no Brasil e no exterior.
O mercado de atuação dessas empresas está divido nos ramos de serviço (25%), indústria de construção (10%), bens de consumo e autoindústria (9% cada). Empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão representam quase 42% do total da amostra e mais de 26% enquadram-se na faixa de até R$ 100 milhões.

Os resultados

De acordo com a pesquisa, mais da metade das empresas ouvidas (53%) acreditam que o país possui média oferta de mão-de-obra e 51,2% afirmaram enfrentar problemas para encontrar profissionais qualificados em sua região geográfica, o que dificulta e, muitas vezes, encarece o processo. Mais de 47% afirmam estarem enfrentando dificuldades, das mais distintas razões, para contratar.
As duas causas mais graves para a não contratação foram a falta de capacitação adequada e expectativas de salários desalinhadas. “Na maioria das vezes os candidatos, especialmente entre 18 e 39 anos de idade, enquadram-se nos dois casos, o que dificulta imensamente a efetivação das vagas”, afirma o professor Paulo Resende.

Demanda por profissionais

A pesquisa avaliou também quais as profissões, os tipos de cargo e níveis as dificuldades para contratar, bem como quais são os países que mais têm exportado mão-de-obra para o Brasil para suprir esta demanda. O nível gerencial mostrou ser o que mais sofre com a escassez: 40,4% das empresas dizem não encontrar profissionais prontos para assumir as oportunidades de trabalho. Na segunda colocação está a área de supervisão e coordenação com 38,3% das citações. Trainees, estagiários e assistentes representam poucos menos de 15% das respostas, o que evidencia uma situação mais favorável para quem está no início da vida profissional. Já as carreiras que mais carecem de trabalhadores qualificados são: engenharia de segurança de trabalho, engenharia mecatrônica, engenharia de controle e automação, especialistas em meio ambiente, além de trabalhadores de ofícios manuais.
Sobre a importação de mão-de-obra, os Estados Unidos figuram como o país de origem de profissionais estrangeiros mais cobiçados pelas empresas brasileiras, com citação de 16% do total, seguidos pelos argentinos (14%) e Portugal, Alemanha e Chile com 9% das citações cada país por parte das empresas. “Os argentinos optam pelo Brasil, pois recebem ótimas ofertas financeiras para essa transição”, afirma o professor Paulo Resende. “Já os americanos são beneficiados pelas relações comerciais já estabelecidas por seus países com o Brasil, inclusive grandes companhias que já contam com subsidiárias em nosso país”, complementa o professor.
Outro fato relevante da pesquisa refere-se ao nível de qualificação. Das empresas que se deparam com problemas de contratação, 40% tem mais dificuldades para encontrar candidatos de nível técnico, especialmente no setor industrial de bens de consumo duráveis e de alta complexidade, como o de tecnologia da informação (TI), por exemplo. Na sequência estão os profissionais com nível superior (36%) e, por fim, o nível operacional (24%).
Por fim, o estudo aponta que quase 35% das empresas ouvidas estão diminuindo as exigências, especialmente nos níveis técnicos e administrativo, com destaque para quesitos como experiência na área (71,4%) e habilidades técnicas (48,6%). Quando avaliam os profissionais de nível superior, quase 24% das empresas assumiram fazer esse tipo de concessão. Das exigências deixadas de lado quase 67% das empresas citaram a fluência em idiomas, especialmente o inglês.
“Em um momento no qual temos números crescentes nos índices de desemprego, o estudo vem apenas confirmar a continuidade deste problema paradoxal e histórico no Brasil. Há uma urgência em revisar e modernizar os currículos, tanto superiores como os técnicos. E a recuperação sustentável para essa e qualquer outra crise deve passar, impreterivelmente, pela educação e qualificação”, finaliza o professor Resende.

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