Inovação no segmento de bebidas

Uso e aplicação de aromas e extratos naturais para bebidas não alcoólicas

* LETÍCIA CORASSA NEVES E PAULO GARCIA DE ALMEIDA

Refrigerantes coloridos

O crescente número de pesquisas sobre a importância de uma alimentação equilibrada para a manutenção da saúde e a ampla divulgação dessas informações tem causado grande impacto nos hábitos alimentares da população.
No entanto, a falta de clareza nas informações leva o consumidor a optar por alimentos com maior apelo de saudabilidade o que pode, muitas vezes, não corresponder à realidade.
Neste cenário, alguns segmentos de bebidas têm encontrado grandes desafios devido à preferência do consumidor por produtos considerados mais saudáveis e nutritivos. Segundo dados da ABIR – Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas, no período de 2010 a 2015, houve um aumento no consumo de bebidas como água mineral, chá pronto para beber, energético, isotônico, refresco em pó e pronto para beber, néctar e suco pronto, sendo que estes últimos apresentaram o maior aumento comparado aos anos anteriores. Em contrapartida, as bebidas de soja, sucos concentrados e refrigerantes tiveram uma queda no consumo neste mesmo período. Em 2014 o consumo per capita de refrigerante no Brasil foi 80,6 litros/habitante sendo que em 2015, esse valor caiu para 75,1 litros/habitante.
Com o objetivo de atender as necessidades do consumidor, as indústrias de bebidas estão apostando em estratégias de inovação, criando novos produtos ou modificando os já existentes em seu portfólio.
As variações são diversas e incluem a redução de açúcar, adição de ingredientes funcionais e vitaminas, redução do teor de gás carbônico, além do desenvolvimento de produtos com novos sabores.
Apesar da indústria brasileira ainda se manter conservadora, mundialmente a indústria de refrigerantes apresenta novos sabores como estratégia para atender a demanda dos consumidores globalizados que sempre buscam novidades nesta categoria. Esses sabores podem ser formulados a partir de suco de frutas ou vegetais, polpa de frutas, extratos naturais de vegetais ou pela adição de aromas.
A relação dos aromas e extratos permitidos para uso em alimentos e bebidas no Brasil é apresentada na RDC nº 02 de 2007. A fim de atualizar a lista desses compostos, foi aberta a consulta pública nº 227 no dia 11 de julho de 2016, estabelecendo critérios para autorização provisória da comercialização de alimentos e bebidas contendo componentes aromatizantes provenientes de espécies botânicas regionais antes não listadas no regulamento. Essa proposta de inclusão justifica-se pelo longo histórico de consumo dessas espécies sem evidências de efeitos adversos agudos.
Dessa forma, se aprovada a consulta pública em questão e cumpridas as exigências legais, partes específicas de espécies botânicas regionais como catuaba, chapéu de couro, jurubeba, jatobá, pfafia e guaco, poderão ser utilizadas provisoriamente como componentes aromatizantes em alimentos e bebidas, abrindo espaço para inovações neste segmento.
bebidas-veraoO desenvolvimento de refrigerantes com sabores diferenciados é um desafio para o setor do ponto de vista regulatório, pois além das restrições dos ingredientes permitidos na composição, como os aromas e extratos, as bebidas devem respeitar os padrões de identidade e qualidade (PIQ) de refrigerantes, que no caso brasileiro é determinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), conforme Portaria nº544 de 1998.
Mas um grande desafio das empresas é fazer com que as novas bebidas resistam a modismos temporários e permaneçam nas gôndolas dos supermercados por longos períodos. O lançamento de novos produtos acompanha as necessidades do consumidor e por esse motivo, o sucesso de um produto em determinada região, estado ou país, não garante seu êxito em outro local. Muitas vezes a época do lançamento e a estratégia de marketing para determinado produto também podem interferir no resultado das vendas, como aconteceu com a líder mundial na tentativa de introduzir o sabor cereja no Brasil, nos anos 90. Apesar das vendas não terem atingido o sucesso esperado, a empresa está repetindo a experiência, iniciando suas vendas apenas em alguns estados do Brasil.
Enquanto a maioria das empresas aposta em sabores mais comuns de refrigerantes como “cola”, guaraná, limão, laranja e uva há bebidas de sabores bem criativos que estão agradando o paladar de consumidores em todo o mundo.
Em uma busca global por variedades de refrigerantes, encontramos diferentes sabores frutais como maracujá, framboesa, caju, romã, melancia e até abacate, assim como de vegetais como aipo, gengibre e manjericão. Porém, há outros nada triviais como sabor enguia ou sabor frango frito, ervilha, patê de salmão, batata doce, peru com molho de carne lançados por uma empresa canadense que podem nos causar certa estranheza de início, mas que encontram a aceitação de alguns consumidores em outros países.
A criatividade muitas vezes extrapola a normalidade, pois existem bebidas com sabores exóticos criados para ativar nossa memória olfativa, como a linha de bebidas com sabores “transpiração, grama natural e sujeira”, propostas aromáticas inspirados no futebol americano.
Como a aceitação dos alimentos e bebidas está relacionada fortemente às suas características sensoriais, os aromatizantes desempenham um papel importante neste particular, pois têm a capacidade de conferir um sabor agradável a determinado produto e assim, torná-lo mais atrativo ao consumidor.
A mudança dos hábitos alimentares no Brasil e no resto do mundo e consequentemente maior preocupação com o aspecto nutricional do que consumimos, a indústria de alimentos, incluindo o segmento de bebidas, passam por constantes desafios em busca de inovações que atendam estas necessidades.
A queda no consumo de determinadas bebidas, tais como os refrigerantes, e a preocupação em superar as expectativas dos consumidores, cada vez mais exigentes,tem aumentado o interesse das empresas em desenvolver novos produtos.
O segmento de bebidas não alcoólicas tem grande potencial de desenvolvimento para novos sabores, ainda não explorado na sua totalidade, principalmente pela riqueza de espécies frutíferas dos biomas brasileiros. Esta oportunidade acaba gerando inúmeras oportunidades de emprego em toda a cadeia, desde a agricultura até a industrialização, envolvendo inclusive os laboratórios de pesquisa das instituições de ensino. Como vivemos um momento irreversível de mudanças de hábitos alimentares, em busca de alternativas saudáveis, seria oportuno podermos envasar os ingredientes nutricionais associados às várias espécies vegetais exaustivamente estudadas pelos cientistas brasileiros e servir como exemplo para o mercado global.

*Letícia Corassa Neves
Mestranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Esalq/Usp
Especialista em Ciências Nutricionais – LaSalleBeauvais
MSc.Paulo Garcia de Almeida

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