Tendências no setor de alimentos e bebidas

Sucos e chás despontam como bebidas com alto potencial
de crescimento no mercado brasileiro nos próximos anos

SÍLVIA CRISTINA SOBOTTKA ROLIM DE MOURA

Em função da crescente demanda dos consumidores por alimentos saudáveis, naturais e convenientes, bebidas a base de frutas e vegetais estão se tornando cada vez mais populares (SUN-WATERHOUSE et al., 2010).

Frutas e vegetais possuem compostos funcionais que beneficiam uma ou mais funções orgânicas, além da nutrição básica, contribuindo para melhorar o estado de saúde e bem-estar e/ou reduzir o risco de doenças (CARVALHO et al., 2006). Uma das barreiras ao aumento do consumo desses produtos é o tempo necessário para o preparo, além da vida de prateleira reduzida dos produtos in natura (ORREGO; SALGADO; BOTERO, 2014).

Atenta a essa realidade, a indústria de alimentos busca continuamente maneiras inovadoras de contribuir para o aumento do consumo de frutas e vegetais, das várias formas possíveis: in natura, desidratada, congelada, liofilizada, na forma de sucos e extratos, ou mesmo na forma de ingredientes isolados, utilizados para enriquecer os mais diferentes tipos de produtos. Liu (2013) destaca a importância de uma alimentação variada para a dieta, pois ela possibilita a ocorrência de efeitos sinérgicos entre os diversos fitonutrientes.

A Plataforma de Inovação Tecnológica é uma estrutura vinculada ao ITAL, Instituto de Tecnologia de Alimentos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado de São Paulo, criada em 2010 com o objetivo de estreitar o relacionamento com os stakeholders do setor de alimentos, bebidas e embalagens, conhecer melhor as necessidades do mercado e identificar áreas estratégicas para a inovação tecnológica e para o desenvolvimento do setor.

A primeira publicação lançada pela Plataforma foi o Brasil Food Trends 2020 (FIESP/ITAL, 2010) destacou após pesquisa IBOPE realizada no Brasil, as seguintes macrotendências de mercado: Conveniência e Prataticidade, Confiabilidade e Qualidade, Sensorialidade e Prazer, Saudabilidade e Bem-estar e Sustentabilidade e Ética.

Saudabilidade

Especificamente para o mercado de bebidas e dentro da macrotendência Saudabilidade e Bem-Estar são destacadas nesta publicação algumas tendências: produtos naturais (puros, integrais), nutritivos (rico em vitaminas, sais minerais, fibras), funcionais (com propriedades que auxiliam a saúde – “super frutas”, “super alimentos”, pré e probióticos), com redução calórica (menores teores de açúcar ou sem açúcar), para públicos específicos (gestantes, idosos, esportistas) ou ainda relacionados ao estado de ânimo (moodproducts – para alegrar, encorajar, relaxar, energéticos).

Levando-se em conta a macrotendência Conveniência e Praticidade,
a publicação destaca para o mercado de bebidas os produtos adequados para consumo em diferentes lugares ou situações; produtos on-the-go, que proporcionam flexibilidade e multiplicidade de escolha para que o consumidor possa compor a dieta conforme sua necessidade ou mercados específicos, como é o caso de produtos destinados a melhorar a qualidade da alimentação do público infantil.

Sustentabilidade

A macrotendência Sustentabilidade e Ética tem crescido no mundo todo (FIESP/ITAL, 2010). Como exemplos na área de bebidas podemos citar a água mineral com redução do consumo de material plástico utilizado na embalagem e sucos com redução de pegadas de carbono, com embalagem reciclada e reciclável.

A praticidade é uma das macrotendências detectadas no estudo realizado pelo ITAL

Segundo pesquisa Datamonitor realizada em 2014, envolvendo consumidores de 20 países (FELGATE, 2014), a tendência “super” foi identificada entre as 8 maiores tendências relacionadas ao setor de frutas, vegetais e grãos. Esta tendência se refere a consumidores que preferem os “super alimentos” como forma natural de melhorar a saúde, em detrimento aos suplementos e medicamentos. Muitos consumidores acreditam que uma dieta saudável pode diminuir o risco de doenças ao longo da vida. A maioria das frutas e vegetais possui propriedades benéficas à saúde, como alto conteúdo de antioxidantes (amora, romã); alto teor de ferro (couve); ou até capacidade de reduzir a pressão arterial (cerejas). O desafio da indústria é a utilização destes “claims” de saudabilidade nos produtos industrializados, contando geralmente com o auxílio da publicidade para promover as “super” frutas e vegetais.

Ohr (2012) destacou que as bebidas não alcoólicas contendo “super frutas” foram a categoria que teve o maior número de lançamentos, representando 40% do total, principalmente nos segmentos bebidas a base de frutas e bebidas para o bem-estar. Destacou as seguintes “super frutas”: açaí, aroniaberry ou chokeberry, blueberry, cerejas, cranberry, romã, pêra espinhosa e uva-passa. A autora menciona que não há uma definição aceitável do que seja uma “super fruta”, mas diz que o termo geralmente se refere a frutas com excepcional valor nutricional e com alto conteúdo de antioxidantes, tendo forte apelo junto ao consumidor e tendendo a ser mais exóticas.

Redução de açúcar

Pesquisa de mercado realizada pelo Datamark Market Intelligence Brazil (2016), anunciou que a PepsiCo definiu meta para reduzir a quantidade de açúcar em seus refrigerantes ao redor do mundo, como parte de um conjunto de objetivos para combater críticas que envolvem problemas que variam desde obesidade até mudança climática. A empresa sediada em Nova York, nos Estados Unidos, anunciou que, até 2025, pelo menos dois terços de suas bebidas terão 100 calorias ou menos de açúcar adicionado por porção de 12 oz (aproximadamente a 354 ml), uma alta ante os cerca de 40% de agora. A mudança, que a empresa planeja atingir introduzindo mais bebidas zero ou baixa caloria e reformulando as existentes, acontece com a PepsiCo e a rival Coca-Cola sendo cada vez mais criticadas por especialistas de saúde e governos que as culpam por alimentar epidemias de obesidade e diabetes. A PepsiCo diz que a nova meta global é mais ambiciosa que o objetivo anterior, de reduzir o açúcar em 25% em certas bebidas em determinados mercados até 2020. Apesar do nome, a PepsiCo obtém apenas 12% de sua receita anual de 63 bilhões de dólares com o refrigerante de mesmo nome. Um quarto da receita provém de bebidas carbonatadas como Mountain Dew, e o restante de águas e sucos, além de lanches e molhos para aperitivos.

A maioria das frutas e vegetais possui propriedades benéficas à saúde

O Datamark (2016) noticiou também que as bebidas naturais vão crescer 10 % ao ano até 2020 no Brasil enquanto o mercado de bebidas em geral vai passar por expansão anual de 5 % sobre o mesmo período. Empresas iniciantes brasileiras de sucos naturais, sem adição de açúcar ou conservantes, estão ampliando presença no varejo do país. Em abril de 2016, a Do Bem, foi vendida para a Ambev por um valor não revelado. As multinacionais de bebidas têm investido no mercado de produtos não carbonatados nos últimos anos. Coca-Cola e Femsa compraram há 10 anos a empresa mexicana Jugos Del Valle por 470 milhões de dólares. No ano passado, a britânica Britvic comprou a Empresa Brasileira de Bebidas e Alimentos (Ebba), que detém a tradicional marca Maguary, por 580 milhões de reais.

Valor nutricional

Segundo pesquisa apresentada pela Mintel GNPD Category Insight Fruit & Vegetables (2011) – Superfruits & Antioxidants é preciso enfatizar as propriedades antioxidantes dos vegetais, como tomate, alcachofra e o milho doce. O mercado vai continuar a se beneficiar do interesse do consumidor em todos os alimentos com propriedades antioxidantes relacionadas, com o segmento de frutas e vegetais, em especial, beneficiando da popularidade das “super frutas” serem ricas em antioxidantes.

Frutas e vegetais são também ricos em fibras alimentares, cuja ingestão traz vários benefícios fisiológicos para o aparelho digestório. Além disso, reduz os níveis sanguíneos de glicose gordura e colesterol, contribui para o aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta, melhora absorção de minerais e traz efeitos prebióticos (ZACARCHENCO; GALLINA; VAN DENDER, 2014). Este trabalho descreve em detalhes os prebióticos e seus efeitos benéficos para a saúde.

Segundo Datamark (2016) a água de coco envasada e os chás prontos são as únicas categorias de bebidas não alcoólicas que cresceram em vendas em 2016, de acordo com dados da consultoria Nielsen. No acumulado de janeiro a agosto, as vendas de água de coco avançaram 5,3% em volume, em comparação com o mesmo período de 2015. As vendas de chás prontos aumentaram 0,9% no mesmo intervalo. O mercado de bebidas não alcoólicas como um todo encolheu 7,2%. Marcelo Fazio, gerente de contas da Nielsen para o mercado de bebidas, observa que a expansão da água de coco não se deve apenas ao seu apelo de produto saudável. “A categoria teve redução mais forte nos preços neste ano. Excluindo a inflação, os preços da água de coco baixaram, em média, 7,2%. Foi a maneira que os fabricantes encontraram para manter a demanda aquecida de um produto que é de consumo eventual”, afirma Fazio.

A busca por saudabilidade estimula o aumento do consumo de sucos de frutas e água mineral

Já na categoria de bebidas alcoólicas, pesquisa Datamark (2016) aponta que a retração no acumulado de janeiro a agosto foi de 4,4% em volume de vendas. Entre as categorias avaliadas pela Nielsen, as vendas de uísque encolheram 9,1% e as de rum tiveram queda de 26%. A cachaça, destilado mais vendido no País, teve retração de 0,4%. As vendas de vodca também encolheram no período, em 2,1%. Fazio observa que as categorias com preço mais baixo por litro apresentaram mais resistência neste ano de crise. “A queda mais forte em uísque e rum deve-se a dois fatores: o preço e a concentração do consumo desses produtos em bares”, afirma. Na avaliação da Nielsen, a tendência para o fim de 2016 e para 2017 ainda é de retração no consumo de bebidas alcoólicas, principalmente em bares. “As bebidas de preços mais baixos terão desempenho melhor. Para as demais bebidas alcoólicas, haverá retração, no máximo estabilidade”, diz o analista.

Oportunidades

A publicação Brasil Food Trends 2020 (FIESP/ITAL, 2010) salientou que no futuro próximo o mercado de alimentos será mais complexo, com consumidores buscando um pacote mais amplo de benefícios a preços mais acessíveis. Além disso, deverá constituir um mercado de grandes dimensões, com muitas oportunidades tando no mercado interno como para as exportações. Mas, para explorar esse futuro promissor, é recomendável que as empresas procurem dominar tecnologias para a criação de produtos agregando benefícios nas categorias de tendências abordadas. Isso porque os consumidores poderão demandar produtos posicionados conforme uma tendência específica, mas também valorizar produtos que apresentem combinações de benefícios, contemplando duas ou mais categorias de tendências.

Os estudos da Série Brasil Trends 2020 são resultados do monitoramento das tendências e inovações no setor de alimentos, bebidas e embalagem, levantamento de dados com base na análise de estudos, pesquisas e visitas técnicas a feiras e congressos do setor. Além do Brasil Food Trends 2020, lançado em 2010, em 2012 o Brasil Pack Trends 2020 foi lançado pelo ITAL e em 2014 o ITAL publicou o Brasil Ingredients Trends 2020 e o Brasil Bakery & Confectionary Trends 2020. O próximo lançamento será o Brasil Beverage Trends 2020 e nos próximos anos outros lançamentos de tendências nas áreas de carnes; leites e derivados; frutas e vegetais estão sendo trabalhados. Além desta Série em 2016 foi lançado o portal de alimentos processados (http://www.alimentosprocessados.com.br/), coordenado pelo ITAL e com participação de Universidades, Associações e Entidades como SBCTA, IFT, IAFosT e SBAN.

A publicação Brasil Fruit & Vegetable Trends 2020 é um estudo que está sendo elaborado pelo Fruthotec/ITAL, com o apoio da Plataforma da Inovação Tecnológica. Será um documento inédito para o setor em questão, por abordar temas de grande relevância, tais como: fatores de influência (drivers) do consumo de frutas/hortaliças/vegetais; tendências globais de consumo, tendências e inovações em ingredientes, processos e embalagens. As macrotendências levantadas neste estudo são: Funcionalidade e Nutrição; Incorporação e Substituição; Diferenciação e Gourmetização; Naturalidade e Sustentabilidade; Praticidade e Snackficação. Para maiores informações e parcerias plataforma@ ital.sp.gov.br

Referências

CARVALHO P. G. B., MACHADO C.M.M., MORETTI C. L., FONSECA, M. E. N. Hortaliças como alimentos funcionais. Horticultura Brasileira. v. 24, p. 397-404, 2006.
DATAMARK Market Intelligence Brazil, http://www.datamark.com.br/analise-de-mercado/
FELGATE, M. Consumer and Innovation Trends in Fruit, Vegetables and pulses 2014. Consumer Insight. Datamonitor Consumer, fev. 2014.
FIESP/ITAL – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Instituto de Tecnologia de Alimentos. Brasil Food Trend 2020. São Paulo. FIESP/ITAL, 2010, 173p.
LIU, R. H. Health-promoting components of fruits and vegetables in the diet. Advances in Nutrition: An International Journal.; v. 4, p. 3845-3925, 2013.
MINTEL, http://www.mintel.com/global-new-products-database
OHR, L. M. Fruitful yields. Food Technology, Chicago, v. 66, n. 6, p. 103-110, 2012.
ORREGO,C.E.; SALGADO, N. ; BOTERO, C.A. Developments and trends in fruit bar production and characterization. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 54, p. 84-97, 2014.
SUN-WATERHOUSE, D., TEOH, A., MASSAROTTO, C., WIBISONO, R. & WADHWA, S. Comparative analysis of fruit-based functional snack bars. Food Chemistry, v. 119, p. 1369-1379.

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