A Indústria 4.0 e seus profissionais

O desenvolvimento de profissionais de tecnologia
é fundamental para a consolidação da indústria 4.0 no país

Alaercio Nicoletti Junior

Alaercio Nicoletti Junior
Qualidade e Melhoria Contínua
CORP. – Grupo Petrópolis

A intensificação da transformação digital nos negócios, assim como o crescimento consistente de aberturas de startups e empresas de tecnologia, implica numa perspectiva positiva para as instituições, mas traz também alguns desafios. Certamente um dos mais importantes é a falta de profissionais qualificados nos conceitos que envolvem a indústria 4.0. Basta dar uma olhada no noticiário e percebemos a dificuldade das corporações na busca de profissionais capacitados no Brasil, sobretudo em STEM (Ciências – Science em inglês, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Segundo o Brazil Digital Report³, somente 1% da nossa população – cerca de 2 milhões de pessoas – possui alguma capacitação formal em STEM, o que fica muito aquém de países como Espanha, com 4,2%, Inglaterra com 3,4% ou Índia, que apesar de possuir 1,7% de graduados nas áreas STEM, acumula mais de 22 milhões de pessoas em números absolutos. Para piorar o cenário, existe uma defasagem qualitativa das formações acadêmicas em relação às necessidades do mercado. O Banco Mundial sinaliza a urgência na adoção de uma agenda para que o Brasil tenha mais eficiência produtiva com os recursos que possui, o que inclui obrigatoriamente o desenvolvimento de competências para a tecnologia e a aproximação entre instituições para a preparação efetiva de profissionais para o mercado de trabalho.

Mas o horizonte é promissor, face à perspectiva de recuperação econômica do país e a possível atração de novos investimentos. Segundo a Confederação Nacional da Indústria,a digitalização dos processos produtivos deve passar de 1,6% para 21,8% nos próximos dez anos – o que torna ainda mais desafiador o cenário do déficit de mão de obra qualificada.

Inovação

A necessidade constante pelo aumento de produtividade e qualidade, assim como a criação de novas soluções para os clientes, tem sido a receita para as empresas manterem-se competitivas em seus mercados de atuação. Essa perspectiva gerou um movimento que parece definitivo de abertura das fronteiras organizacionais para a inovação e a adoção de novas e melhores tecnologias. Para citar um exemplo que vai além do óbvio, a indústria em geral caminha para reduzir o capital empregado em peças de reposição de seus maquinários por impressões 3D com mesma geometria e funcionalidade.

Nesse sentido, lançamos recentemente um desafio interno para integração de telemetria em regiões remotas onde não havia acesso via wifi ou outra tecnologia. Tínhamos soluções propostas por empresas consolidadas e startups que tornavam o investimento proibitivo, sem payback justificável para a substituição das medições manuais. Nossos jovens engenheiros e estagiários desenvolveram uma placa conectada a um raspberry pi, integrando os dados via cloud e com o uso de data analytics com um investimento irrisório. A solução funcionou, a organização está satisfeita e a equipe com brilho nos olhos mergulhada em novos desafios.

O fato é que as empresas vêm buscando seus caminhos para acelerar a preparação dos seus profissionais face aos novos desafios, quer seja com soluções internas como o descrito acima ou encontrando alternativas disponíveis no mercado. Nesse sentido, uma experiência digna de nota e que está aportando no país em 2019 é o da École 42. Concebida na França e com o propósito de formar pessoal qualificado em programação sem nenhuma contrapartida financeira (investimento ou mensalidade), num conceito próprio em que não há professores ou script prévio para as aulas. Os estudos, que podem durar 3 anos, consistem na condução e entrega de projetos a partir de desafios. O interessante é que, segundo a fonte, nas diversas unidades existentes em alguns países, os alunos conseguem boas posições de emprego geralmente nos primeiros 6 meses, o que reforça a necessidade de profissionais qualificados para os desafios que a indústria vive nos dias atuais.

Buscar uma aproximação com a academia continua sendo um tabu para as organizações. Embora existam tentativas e projetos em andamento, a maioria das empresas brasileiras ainda acha difícil a parceria com Universidades, enquanto sobram verbas destinadas a incentivos governamentais não utilizados pelas corporações para o propósito de desenvolvimento da indústria 4.0, geralmente pela falta de conhecimento. Alguns desses são de responsabilidade do MCTIC (Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e estão ligados diretamente à inovação, como a Lei do Bem, a Lei de Informática e a Rota 2030.

É preciso vencer paradigmas, criar alternativas e encontrar caminhos para viabilizar essa atualização na formação tecnológica para atendimento das indústrias do país. Nesse cenário, é importante que as organizações assumam o papel de protagonistas, tanto na busca quanto no desenvolvimento de seus profissionais. Também é fundamental entender que só se muda um país a partir da educação, vide exemplos como da Coréia do Sul e da China. Assim, a aproximação do mundo corporativo com o acadêmico para o desenvolvimento dos profissionais do futuro, embora constitua um desafio, é fator de sucesso para nos tornarmos verdadeiramente competitivos na indústria 4.0.

Agradecimento especial a Roberto Uchida, da FIAP, pela contribuição na elaboração do texto.

Referências

1. Anuário “Valor Inovação Brasil 2019” – https://www.strategyand.pwc.com/br/inovacao-brasil
2. Brazil Digital Report – 1a Edição, 2019. https://www.mckinsey.com/br/our-insights/blog-made-in-brazil/brazil-digital-report
3. École 42 -https://www.42sp.org.br/

Alaercio Nicoletti Junior
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