Otimismo no ar

Produtores se animam com melhora do mercado e buscam seduzir consumidores

NELSON DONATO

Cheiro de vinho no ar, degustadores atentos e expositores animados com as perspectivas do mercado. Foi com esse clima de otimismo que a 21ª edição da ExpoVinis, uma das principais feiras vinícolas da América Latina, foi realizada entre os dias 6 e 8 de junho no Expo Center Norte, em São Paulo.

O evento atraiu milhares de pessoas, desde apreciadores de vinhos, até renomados chefs em busca de sabores capazes de seduzirem seus clientes. Mais de 80 vinícolas nacionais e internacionais trouxeram para o evento seus rótulos. Algumas já conhecidas pelos brasileiros buscam a reafirmação em um momento econômico duvidoso, outras tentam ingressar no mercado nacional e aproveitar para conseguir seu espaço às mesas das terras tupiniquins. Mas, para obter sucesso nessa empreitada, é preciso entender o momento econômico do país e estar atento às novas tendências dos consumidores.

A compreensão desse novo cenário é vista explicitamente na melhora dos números do segmento vinícola. De acordo com dados do Ibravin (Instituto brasileiro do Vinho), a comercialização de bebidas derivadas da uva, permanece em retração. Porém, apesar de negativos, os índices apontam melhora no segmento no primeiro trimestre de 2017 com queda de todos os produtos em 12,5%, enquanto que no mesmo período de 2016, a derrocada foi de 20%.

Além dos apontamentos menos desfavoráveis, o que alavancou o otimismo na ExpoVinis foi a forma como os produtores encaram o mercado brasileiro. Clelia Iwaki, diretora das feiras da marca Fispal, que são organizadas pela Informa Exhibitions, lembra que em 2016, o impacto causado pela crise econômica interferiu diretamente no comércio de vinhos. “Ano passado aconteceram muitas coisas e a própria feira sofreu muito.Por conta disso houve mudanças, ela normalmente acontece em abril, agora, transferimos para junho. Havia outro ânimo e o mercado de vinho refletia o momento. Agora, parece que o mercado entendeu o que o consumidor final busca. Se antes muitos buscavam rótulos de R$ 200, agora compram aqueles mais baratos, de R$70 a R$ 80. Quando olho a proposta da feira deste ano, que busca trazer informações para o consumidor para que ele amadureça, vejo que nesse sentido a ExpoVinis cresceu muito. Percebo a queda do tabu de que para o vinho ser bom ele teria que ter determinado preço.”

Outro segmento diretamente ligado ao vinícola e que apresentou melhora foi o de alimentação fora do lar. A abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) divulgou sua última análise de conjuntura do setor referente ao primeiro trimestre do ano. O levantamento aponta que, atualmente, 31% dos estabelecimentos apresentaram prejuízo, enquanto que em 2016 este indicador chegou a 39%. Outro balanço de destaque é o número de empresas que atingiu lucro superior a 10% (percentual considerado ideal para boa operação). Segundo a abrasel, o percentual de associados que atingiram essa meta evoluiu nas últimas três edições da pesquisa, saltando de 14% para 18%. A expectativa da entidade é que até o final de 2017, o número de bares e restaurantes que consiga este percentual seja de 25%.

Surfando nessa onda otimista, os 22 expositores nacionais aproveitaram a ExpoVinis para apresentar aos consumidores produtos que vão muito além aos famosos espumantes. O principal desafio dos produtores é transformar o consumo de vinho em algo cultural para o brasileiro, assim como já acontece com a cerveja e com os destilados. Para isso, o principal conceito é trazer rótulos com sabor mais abrasileirado. “Muitos acham que os principais concorrentes dos vinhos brasileiros são os estrangeiros, mas a verdade é que competimos contra cervejas e vodcas, que são muito mais consumidas por aqui. A ideia geral dos produtores é trazer vinhos frescos, leves e frutados, que combinem com o clima tropical do país. Também é preciso desenvolver ações diretas de marketing, visando chegar ao nosso consumidor final”, explica Diego Bertolini, gerente de promoções do Ibravin.

Um exemplo das novas tendências dos produtos nacionais é a linha “Happy Hour” da vinícola Arbugeri. Com objetivo de competir com as bebidas derivadas da cevada, naqueles momentos de descontração que o brasileiro tanto gosta, os produtos visam trazer sabor mais tropical, adaptando-se ao clima do Brasil. “Como estamos em um país muito quente, a tendência é não consumir bebidas tão encorpadas na maior parte do ano. Nossa ideia então é trazer um vinho que fique apenas seis meses no carvalho e reduzir o teor alcoólico”, detalha Gustavo Arbugeri, enólogo da produtora. Além do sabor, outra aposta para ganhar novos consumidores é o visual da garrafa. “Juntamente com a tendência mais tropical, nossos rótulos procuram ser mais divertidos, descontraídos, perfeitos para momentos felizes com os amigos.”

Chilenos lideram

Já não é de hoje que as vinícolas chilenas caíram no gosto dos brasileiros. Desbancando rótulos de países do velho mundo como Itália, França e Portugal, os produtos das terras andinas continuam liderando o ranking brasileiro de vinhos importados.

Conforme pesquisa da International Consulting em 2016 o crescimento em relação a 2015 foi de 14% em valor e 18% em volume, representando uma fatia de mercado de 44% em valor e 48% em volume, mais do que o dobro do segundo colocado, a Argentina, que detém 16%.

Um dos principais destaques do Chile foi a Doña Javiera, fundada em 1698, cujos rótulos possuem o Grande Selo do Reino Unido e são servidos no Palácio de Buckingham e no Parlamento Britrânico. Embora já possua posição de destaque no cenário internacional, a vinícola ainda não exporta produtos para o Brasil, e viu no evento a oportunidade de desbravar novos mercados e, para isso, busca importadores para levar suas garrafas para as prateleiras nacionais.

O evento foi também o palco escolhido no Brasil pela MontGras para celebrar seus 25 anos. Na feira, foi possível apreciar tintos e brancos que celebram a história da vinícola e conhecer o novo assemblage tinto que marca a comemoração de mais de duas décadas da vinícola.

Ao lado da tradição foi possível presenciar o surgimento de um produto inovador, o Winebeer, da Chilean Grape Group. Apesar de a tradução literal ser “vinho e cerveja”, o rótulo vai além de uma simples mistura entre as duas bebidas. Os ingredientes principais são o lúpulo, a uva e a levedura. De acordo com o gerente de marketing da empresa chilena, Juan Pablo Rogers, o produto passa por vários processos até chegar ao ponto ideal. “O tempo de processamento é de aproximadamente um mês e meio.

Tudo é feito de maneira cem por cento natural e sem glúten. Estamos aqui em busca de parceiros para a importação, coisa que já conseguimos na Holanda e no Canadá. Nossa estimativa é que o produto chegue ao consumidor final com o preço entre R$ 15 e R$ 20.”

A verdade é que seja com vinícolas seculares, ou com a inovadora Winebeer, os produtos chilenos vieram para ficar. A identificação com o consumidor brasileiro tende a aumentar graças à proximidade entre os dois países, o preço dos rótulos e inegavelmente, pela qualidade dos vinhos andinos.

Italianos não desistem do Brasil

A relação entre Brasil e Itália é antiga. Data do final do século XVIII quando os primeiros italianos chegaram ao país para trabalhar, principalmente nas lavouras de café. Quando se fala de futebol é impossível não se lembrar da épica final da Copa de 1994 ou da dolorida eliminação brasileira em 1982. Mas, o que seria essa proximidade sem aqueles famosos vinhos italianos, servidos à mesa, durante as macarronadas de domingo, ou nas famosas cantinas do Bixiga.

É muito difícil imaginar como seria a história brasileira sem a contribuição italiana. Felizmente, para os apreciadores do vinho da “Bota”, os rótulos tendem a ficar cada vez mais presentes por aqui. Isso porque a Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, vê em nosso país, um potencial consumidor para os rótulos italianos. Diferente de produtores de outros exportadores que recuaram ao ver o momento de recessão do Brasil, os italianos já decidiram que não desistirão de comercializar seus derivados da uva, e planejam estabelecer uma relação bilateral bem mais forte para trazer seus vinhos para cá, e levar os brasileiros para o velho mundo.

“Vemos um momento extremamente desafiador, porém sabemos da importância do mercado brasileiro para os italianos”, afirma Giorgio Rossi, diretor executivo da entidade. Na ExpoVinis, a Câmara aproveitou a oportunidade para apresentar produtores com rótulos mais acessíveis e indicar possíveis tendências. “Participamos desde a primeira edição e dessa vez estamos em um estágio decisivo. Somos o pais europeu que mais exporta vinhos para o Brasil. Mas com os problemas econômicos estamos apresentando produtos mais baratos, que possam ser comprados. Buscamos fidelizar mais o público e notamos que a tendência é pelo consumo de vinhos Rose. Outra meta é manter e ampliar a nossa base de consumidores da classe A.”

Outra ação promovida pela instituição é o intercâmbio entre vinhos brasileiros e italianos. Além de trabalhar para intensificar o fluxo de importação de produtos da Itália no Brasil, há também a promoção para a entrada de rótulos nacionais no velho continente, por meio de degustações e exposições em feiras europeias.

Feira elege os melhores vinhos

Um dos momentos mais esperados da ExpoVinis é a eleição do Top Ten. Para o concurso cada expositor pode inscrever dois vinhos para cada 10m2 de espaço destinado a ele durante a feira. O júri foi composto por dez sommeliers, jornalistas, enófilos e degustadores. Confira os vencedores.

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