Caminhos do vinho

Investimentos em novas fábricas, tecnologia de produção
e de plantio deverão suportar o aumento das vendas
das vinícolas tanto no mercado interno como externo

| CARLOS DONIZETE PARRA |

O vinho brasileiro segue aumentando suas vendas tanto no mercado interno quanto no exterior. As importações também estão crescendo, verificou-se um aumento de cerca de 40% dos rótulos de fora do país tendo o Chile como principal fornecedor.

Exportações em alta Com mais de US$ 15 milhões comercializados no mercado internacional em sucos, vinhos e espumantes, o setor vitivinícola brasileiro obteve crescimento de 17,3% nas exportações em 2017. O destaque das vendas ficou com a categoria de vinhos e espumantes, que representa quase 60% do total exportado, registrando uma expansão de 47,5% no valor comercializado, somando US$ 8,77 milhões. Os sucos, por sua vez, tiveram uma retração de 8,6% na contabilização das vendas, atingindo US$ 6,32 milhões.

Esses produtos foram distribuídos para 51 países, tendo como principais destinos Japão, Paraguai, Estados Unidos, China, Reino Unido, México, Chile, Colômbia, Equador e República Dominicana.

As 42 empresas participantes do projeto setorial Wines of Brasil, realizado em parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para a promoção comercial no mercado externo, responderam por, aproximadamente, 95% do resultado obtido em 2017 na exportação. O desempenho do grupo foi ainda mais expressivo, obtendo incremento de 55,6% nas vendas ao Exterior.

O gerente de Promoção do Ibravin, Diego Bertolini, explica que o Japão aparece como principal destino das exportações, em função de operações com suco concentrado. Segmentando a lista de principais compradores por produto, a Terra do Sol Nascente figura na quarta colocação na importação de espumantes e em sétima em vinhos, devido a contratos de fornecimento com grandes players de venda online de vinhos e redes varejistas. O país ampliou em 34% o valor adquirido em relação a 2016.

Outro destaque no ano passado foi a América Latina. De forma agrupada, os países da região despontaram como grandes parceiros comerciais, absorvendo 41,3% do valor global negociado. No entanto, Estados Unidos, Reino Unido e China, por serem mercados maduros, formadores de opinião e compradores de rótulos de maior valor agregado, continuam entre os mercados-alvo do projeto. O valor médio por garrafa exportada para os Estados Unidos gira em torno de US$ 10, cinco vezes maior que o Paraguai.

Linha de espumantes da Garibaldi cresceu 30% em 2017, ultrapassando 2 milhões de garrafas vendidas
Foto: Rafael Torres Atz

“A partir de 2018 teremos ações voltadas para a América Latina em função de vantagens competitivas, como proximidade geográfica e também de perfil de produto. Os consumidores possuem paladar semelhante ao que temos no nosso mercado interno, que aprecia vinhos mais leves e frutados”, observa Bertolini, acrescentando que nessa região há um bom potencial para o suco 100%. “Desde o ano passado estamos focando no que somos mais competitivos, que é o espumante, mas calibrando estratégias para cada país trabalhando também vinhos e o suco de uva”, informa o gerente. A estratégia está embasada no fato de os espumantes responderem por quase 8% da receita com exportações, apesar de somar 4,6% em volume, o que demonstra a melhor rentabilidade do produto, com média de US$ 4,59 por litro. Os espumantes também estão ampliando sua participação nas vendas. Em 2017, o volume cresceu 47,5%, ante 45,6% dos vinhos.

Além de apresentar crescimento sustentável, as exportações brasileiras de vinho são cada vez mais diversificadas. As vinícolas vão montando suas estratégias baseadas em fatores muito particulares, como portfólio de produtos, preços, facilidades de negociação e, principalmente, as necessidades específicas do país comprador.

Vinícolas brasileiras Com ampla expansão no mercado internacional, a Vinícola Miolo comemora o volume de vinhos exportado para o Oriente Médio no ano passado. O aumento das exportações de vinhos da marca para o país é resultado direto de dois grandes projetos da vinícola ao longo de 2017.

O primeiro deles envolve a imponente Qatar Airways, que escolheu o tinto Miolo Cuvée Giuseppe Merlot/ Cabernet Sauvignon para ser servido em sua primeira classe a partir deste ano. O rótulo encorpa a lista de vinhos da Miolo presentes nos Emirados Árabes, que já conta com o Miolo Reserva Pinot Noir e o Miolo Reserva Sauvignon Blanc.

Outra parceria importante na elevação dos números foi realizada com a Fogo de Chão: aos moldes do que já acontece em 30 restaurantes do grupo nos Estados Unidos, o novo empreendimento da rede em Dubai terá rótulos da Miolo em sua carta de vinhos brasileiros.

A Miolo também celebra mais uma parceria internacional, desta vez em terras chilenas. Desde março, o Miolo Cuvée Tradition Brut pode ser encontrado em quatro unidades dos Supermercados Jumbo, uma das maiores redes supermercadistas do Chile.

O espumante integra a linha Cuvée Tradition junto com as versões Demi-Sec e Brut Rosé, que também compõem o portifólio da El Mundo del Vino, maior wine store de Santiago, há mais de um ano. Os vinhos são elaborados no Vale dos Vinhedos (RS) pelo método tradicional – também conhecido como Champenoise –, com uvas Chardonnay e Pinot Noir, e passam por um período sobre leveduras envelhecendo nas caves subterrâneas da Miolo: 12 meses no caso do Brut e do Demi-Sec, e 6 meses no caso do Rosé.

Além dos rótulos Cuvée Tradition, é possível encontrar na grande loja de vinhos o Millésime Brut 2012, espumante que possui o selo de Denominação de Origem Vale dos Vinhedos.

“Exportamos vinhos para o Oriente Médio há mais de uma década e os novos projetos com a Qatar e a Fogo de Chão são reflexo do trabalho de imagem e conquista de mercado que realizamos com nossos vinhos no país. As expansões tanto no Chile como em Dubai mostram o triunfo da Miolo por todos os esforços realizados para tornar nossos produtos reconhecidos no exterior. Nosso principal objetivo é fortalecer o consumo de vinhos brasileiros no exterior, com presença cada vez maior nos principais mercados consumidores em todo o mundo”, resume Adriano Miolo, superintendente da vinícola.

A digitalização é um grande aliado
para o aumento da produtividade nas vinícolas

Depois da China, Colômbia e Paraguai, a Vinícola Peterlongo, de Garibaldi (RS) desembarca no Equador, México e Venezuela. A empresa comemora a expansão de sua presença na América do Sul e do Norte e já ensaia abertura no Peru ainda neste ano. Em 2017, a empresa exportou 185.480 litros.

A Peterlongo aposta na expansão de sua atuação na América do Sul com o fortalecimento nos países já presente, além da abertura de novos mercados. O supervisor de Exportação da vinícola, Ismael Tomedi, explica que a estratégia está focada nesta região justamente pelo perfil dos consumidores. “Quem vive em países da América Latina tem hábitos parecidos. O estilo de vida favorece o consumo de bebidas mais descontraídas como é o caso do espumante”, destaca.

Para esses três novos mercados, a vinícola exportou um mix que inclui espumantes, vinhos finos, frisantes, suco de uva e filtrado doce. A maior remessa ocorreu em dezembro, quando cinco containeres foram enviados para o Equador. Mesmo assim, a Colômbia continua sendo o destino número um de exportações da Peterlongo, responsável por 50% de todo volume que a vinícola manda para o exterior (2017).

O sócio diretor da Peterlongo, Luiz Carlos Sella, comemora o fortalecimento da marca no mercado internacional. “Na década de 1940 a Peterlongo chegou com seus primeiros produtos ao mercado internacional. Na época, tornou-se marca conhecida em redes de lojas americanas. Essa trajetória internacional vem sendo retomada nos últimos anos, com nossa chegada a países da América Latina e Ásia. Estamos focados em investimentos para conquistar novos mercados e fortalecer os já existentes”, afirma.

Em março, Sella e Tomedi viajaram para a Alemanha para prospectar negócios durante a Prowein Trade Fair. Além de apresentar seus lançamentos ao mercado internacional, a Peterlongo vai buscar novidades e tendências que possam manter a vinícola em sintonia com o mercado global.

Há mais de uma década, a Salton realiza um trabalho consistente na construção da imagem do vinho e do espumante brasileiro mundo afora, interagindo com mercados potenciais. Nos últimos anos, realizou parcerias comerciais importantes com países sul-americanos, como Chile, Colômbia, Bolívia e Paraguai, e aumentou as exportações para a Ásia e Reino Unido. Em 2017, a Salton exportou para 17 países, sendo quatro novos mercados: Camarões, Guiné Equatorial, Nova Zelândia e México. E mantém parcerias com diversos players como a rede Fogo de Chão Brazilian Steak House, Season’s 52 e a rede Rodízio Grill, nos Estados Unidos – maior mercado consumidor da vinícola fora do Brasil –, além da Marks & Spencer, no Reino Unido.

Sempre em busca de expandir seus mercados, a Salton esteve presente, em fevereiro, na maior feira de alimentos e bebidas da Rússia: a Prodexpo 2018. A estratégia da vinícola foi apresentar aos russos, que atualmente correspondem a 3,6% do consumo mundial de vinho, produtos que expressam a brasilidade e as características das regiões produtoras da Serra e da Campanha gaúchas.

Durante os quatro dias de feira, representantes da vinícola participaram de reuniões com importadores e também tiveram oportunidade de apresentar seu portfólio para o público em geral. Conforme Cesar Baldasso, coordenador de Comércio Internacional da Salton, que esteve presente na feira, os russos elogiaram os produtos e se mostraram surpresos pelo Brasil estar produzindo e expondo vinhos, espumantes e soft drinks na Prodexpo.

Os vinhos chilenos são responsáveis por quase a metade das importações desse produto no Brasil, mas outros vinhos como os da francesa Lanson também apostam no mercado brasileiro

Importação Os vinhos chilenos continuam sendo os mais consumidos no mercado brasileiro, segundo dados divulgados pela Wines of Chile. As informações (agosto/2017) indicam crescimento de 23,5% em volume e 26% em valor nas exportações de vinhos chilenos ao Brasil, levando-se em consideração o mesmo período de 2016.

O aumento das exportações em volume indica que os brasileiros estão consumindo mais vinhos chilenos; o crescimento em valor está relacionado, especialmente, à categoria de vinhos premium, que têm conquistado cada vez mais espaço em nosso mercado e impacta na elevação desse dado.

“O resultado é reflexo das estratégias da Wines of Chile, que vem focando suas ações na difusão do segmento premium, representado por rótulos mais complexos, sofisticados, com alto potencial de guarda e elaborados nos mais variados terroirs do Chile”, resume Mario Pablo Silva, presidente da associação.

Esses vinhos também representam as singularidades do país, que possui vales com vocação especial para vinhos de alta gama, como o Vale de Colchagua; passando por vinhedos tradicionais em regiões como o Vale do Maule, Vale do Maipo e Vale de Casablanca; chegando a regiões extremas como o Vale de Copiapó (ao Norte) e o Vale de Osorno (ao Sul).

De maneira geral, o aumento acumulado das exportações de vinho chileno é de 5,1% em volume e 5% em valor. Neste bom desempenho, destacam-se, além do Brasil, a China (elevação de 24,4% em volume e 29,1% em valor). Os rótulos do Chile lideram o ranking de vinhos importados no Brasil desde 2002 e fecharam 2016 detendo 47% do mercado.

Inovações e tendências Garrafas grandes, experiências de luxo para degustar vinhos, interesse pelo consumo de uvas nativas e até robôs devem ditar o mundo da bebida em 2018.
O ano passado não foi nada fácil para o mundo do vinho, um ano marcado por geadas, chuvas de pedra, secas e incêndios que destruíram vinhedos em regiões da Califórnia e do Chile até a Europa.

Entre os principais caminhos destacados por especialistas para o mundo do vinho estão a sustentabilidade e a autenticidade dos produtos. Principalmente para os compradores de melhor poder aquisitivo e para o segmento premium esses atributos ganham importância. Tradição, história e ‘cultura do vinho’ são elementos-chave.

As uvas nativas estão passando por aumento de produção, assim como os produtos orgânicos. Com isso, ganham oportunidades os produtos regionais / locais e os vinhos de garagem, normalmente dedicados a pequenos lotes de produção e a uvas diferenciadas. O movimento dos artesanais também chega aos vinhos e merece investimentos, principalmente, daqueles pequenos produtores que podem aproveitar de suas propriedades para o enoturismo. Esse tipo de atividade já representa cerca de 20% do faturamento das vinícolas nos principais centros de produção de vinho no mundo. Outro destaque fica para o vinho rosé. Nos Estados Unidos apresenta uma alta de 57% nas vendas em valor.

Embalagens Enquanto a maioria das bebidas no Brasil mostra um crescimento no consumo de embalagens menores, principalmente devido à crise que atravessamos nos últimos anos, na Europa cresce a demanda pelas garrafas grandes para o vinho. As chamadas garrafas Magnum ganham popularidade em diversos países, entre eles o Reino Unido.

As embalagens continuam sendo fundamentais para o setor dos vinhos, e mais ainda quando o produto atinge a camada mais abastada da sociedade. O segmento ‘luxo’ necessita de designs modernos e criativos para atrair e cativar os consumidores. Por sinal, esse segmento aponta outra tendência que são os espaços alternativos para degustações e harmonizações com o vinho. Isso pode acontecer em hotéis, spas, clubes e outros recintos cercados de muito luxo e badalação. As visitas aos parreirais também continuam como opção interessante para vendas e engajamento de um número maior de pessoas para as marcas. O que vale em todos esses casos é a experiência proporcionada ao consumidor. É isso que ele busca em suas viagens para os locais de plantio e produção de vinhos. Na Serra Gaúcha algumas vinícolas fazem isso com maestria já há algum tempo. Apostar em parcerias com hotéis e resorts em outros centros de turismo também é uma boa alternativa para reforçar as vendas e a promoção das marcas.

Robôs nos vinhedos Os robôs deixam de ocupar os filmes de ficção científica para fazer parte integrante de nossas vidas. Eles estão por toda a parte, às vezes não os vemos, mas falamos com eles por telefone ou por mensagem de voz. Nas indústrias eles são a bola da vez. Estão sendo “treinados’ para substituir o homem em tarefas repetitivas e que não exigem tomadas de decisão. A digitalização é um aliado muito importante para o aumento da produtividade e melhora da rentabilidade nas vinícolas. O robô é uma das ferramentas desse movimento 4.0 que veio para revolucionar a indústria em todos os setores. Um dos grupos vinícolas mais tradicionais do mundo, a família Rotschild, do Château Mouton-Rotschild e do Château Clerc Milon, passou a usar robôs em seus vinhedos para retirar as ervas daninhas das plantações. A vinícola canadense Henry of Pelhan instalou sensores em suas videiras para coletar informações sobre temperatura, níveis de água e umidade do ar para possibilitar tomadas de decisão mais assertivas buscando a melhoria das operações do vinhedo.

Investimentos em tecnologia Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, o faturamento de 2017 aumentou mais de 10% no comparativo com 2016, batendo na casa dos R$ 134 milhões.

Um dos responsáveis por esse resultado é a linha de espumantes com crescimento de 30% em 2017, ultrapassando os dois milhões de garrafas vendidas. Isso significa que a produção da bebida dobrou nos últimos três anos, consolidando-se como carro-chefe da marca. Na mesma ascendente aparecem os vinhos de mesa (15%) e o suco de uva integral (12%).

Os indicadores são o resultado direto de uma estratégia clara de expansão, tendo como um dos protagonistas o ciclo de investimentos em processos e no parque fabril. Em 2017 foram R$ 3,5 milhões aplicados. Desde 2004, o montante já ultrapassa os R$ 26 milhões. E o compromisso com a manutenção de uma estrutura de ponta não para por aí: ao longo dos próximos três anos, o plano de investimentos da vinícola prevê o direcionamento de R$ 15 milhões em equipamentos, tecnologia, capacitação e infraestrutura. Tudo isso sem abrir mão daquela que é uma das características mais marcantes da cooperativa nos seus quase 90 anos de história: a valorização do produtor. “A Garibaldi é uma Cooperativa de famílias agricultoras, que tiram da terra o seu sustento e confiam na vinícola para construir seu futuro e o das próximas gerações. Nosso compromisso é trabalhar por essas pessoas, para lhes oferecer cada vez mais e melhores condições de crescimento e desenvolvimento”, diz o presidente Oscar Ló.

No início do ano, a Garibaldi concentrou seu foco na vindima – trabalhando para receber cerca de 19 milhões de quilos de uvas que serão utilizadas para elaboração dos produtos da safra 2018. A produção é proveniente de quase 400 famílias associadas, de 12 municípios gaúchos, que cultivam mais de 900 hectares de vinhedos.

Outra gigante do setor vitivinícola nacional, a Cooperativa Vinícola Aurora completou em fevereiro deste ano 87 anos de história, e para mostrar que não está para brincadeira lançou a pedra fundamental no terreno onde será implantada sua nova fábrica. Nos últimos quatro anos foram investidos mais de R$ 40 milhões em estrutura, em diversos setores.

Recentemente, dois robôs foram instalados na operação de recebimento das uvas, um na matriz, em Bento Gonçalves, e outro na unidade localizada no Vale dos Vinhedos.

Além dos robôs, a empresa investiu em equipamentos como desengaçadeiras, prensas, tanques, equipamentos de precisão para melhorar a extração de cor da uva, e outros de acordo com necessidade da produção.

Nova indústria A nova fábrica da Aurora, no Vale dos Vinhedos, começará a ser construída ainda em março, e lá deverão ser investidos cerca de R$ 20 milhões. A estrutura contará com 14 mil metros quadrados de área construída e deverá concentrar a produção e a expedição de suco de uva e vinho de mesa. Os sucos de uva são responsáveis, atualmente, por cerca de 45% do faturamento da empresa.

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