Negócios e conhecimento tecnológico

Festival Brasileiro da Cerveja atrai visitantes, gera negócios e
dissemina conhecimento para o setor cervejeiro

CARLOS DONIZETE PARRA

Realizado entre os dias 8 e 11 de março, em Blumenau (SC), o Festival Brasileiro da Cerveja se consolida como um dos principais eventos cervejeiros da América Latina. A cada ano o evento cresce em público visitante e empresas participantes. Em 2016, foram mais de 40 mil visitantes e no fechamento deste ano espera-se aumento nesse número. Foram 130 cervejarias participantes e cerca de 60 expositores na Feira Brasileira da Cerveja, realizada em pavilhão anexo paralelamente ao Festival. Os visitantes puderam degustar mais de 135 estilos de cervejas, entre elas produtos recém premiados durante o Concurso Brasileiro da Cerveja, realizado entre os dias 4 e 6 de março, que contou com cerca de 60 jurados, que degustaram em média 60 amostras cada um por dia. A cerimônia de premiação dos melhores rótulos aconteceu na terça-feira, dia 7.

Esta foi a quinta edição do Concurso Brasileiro de Cervejas. Ao todo, 2.034 rótulos participantes, um acréscimo de 38% com relação ao ano passado. Se compararmos aos anos anteriores o crescimento é ainda mais significativo. O número de amostras inscritas passou de 215 (2013), para 414 (2014), 874 (2015), 1.469 (2016) para 2.034 este ano.

O número de cervejarias também aumentou significativamente em 2017. Foram 332, um crescimento de 50% se compararmos com a edição de 2016. Com relação às quatro edições anteriores, o número de empresas inscritas passou de 42 em 2013, para 81 (2014), 136 (2015), 222 (2016) para 332 em 2017.

Para esta edição a novidade foi a inclusão de quatro subestilos na categoria Cerveja Brasileira. A categoria contou com amostras que possuem adição de frutas, adição de ervas e especiarias, adição de madeiras e adição de ingredientes brasileiros como lúpulo, malte e levedura.

Schornstein recebeu medalha de ouro por sua Imperial IPA

Cervejas premiadas

A Schornstein, cervejaria de Pomerode (SC), recebeu duas medalhas no Concurso Brasileiro da Cerveja, medalha de ouro para o lançamento da empresa no Festival, na categoria Imperial Double India Pale Ale. Já a Kolsch, receita desenvolvida para a Festa Pomerana, recebeu o bronze na categoria German Style Kolsch.

De acordo com o diretor executivo da cervejaria, Adilson Altrão, as medalhas mostram que, mesmo depois de 10 anos no mercado, a Schornstein não abre mão da qualidade nos seus produtos. “Nós temos uma trajetória incrível de reconhecimento e de abrangência nacional. Levamos o nome de Santa Catarina com seriedade e credibilidade. E esse concurso, que é sério e feito com muita competência, mostra que a marca segue sendo sinônimo de qualidade”, diz.

Em 2016 a Schorstein cresceu 55% em número de pontos de vendas e atingiu 19 estados brasileiros. A produção passou de 200 mil litros de cerveja. A cervejaria é uma das pioneiras na cerveja artesanal no país com sede na cidade de Pomerode desde 2006, onde são produzidos cerca de 10 rótulos de diferentes cervejas.

Outro destaque do concurso foi a cervejaria paranaense Way Beer, que conquistou quatro medalhas, sendo duas delas de ouro.

As cervejas Watermelon Ale e Farmhouse Ale fabricadas pela Way Beer receberam medalha de ouro

Entre as cervejas premiadas está a Watermelon Ale, medalha de ouro na categoria American Fruit Beer. Disponível em latas de 473 ml, a Watermelon Ale é uma cerveja colaborativa desenvolvida pela Way Beer em parceria com a cervejaria norte-americana Jester King. Para a sua produção, foram utilizadas 3 toneladas de melancia, o que resultou em muita refrescância para a bebida. A Watermelon é uma cerveja de cor avermelhada, devido à melancia e ao hibisco, e tem 4,7% de álcool e IBU de 16,2.

“É muito legal receber um prêmio tão importante quanto esse, em um concurso que reúne milhares de cervejas de todas as partes do Brasil. Nos últimos anos, procuramos lançar cervejas inovadoras, com a cara do Brasil, e a adição de frutas em nossas bebidas tem feito muito sucesso. Com a Watermelon Ale trabalhamos com a melancia, uma iguaria consumida em todos os cantos do Brasil, que resultou em uma cerveja muito interessante, saborosa e refrescante”, explica Alejandro Winocur, sócio proprietário da cervejaria.

Farmhouse Ale tem Butiá na receita e uma segunda fermentação na garrafa

O outro ouro recebido foi na categoria “Specialty Saison”, com a cerveja Farmhouse Ale. Desenvolvida com a polpa do Butiá, fruta tradicional no Sul do Brasil, a Farmhouse foi produzida em parceria com a cervejaria norte-americana Stillwater Artesanal, do cervejeiro cigano Brian Strumke. A bebida segue o estilo Farmhouse e apresenta 7,2% de teor alcoólico. Para completar o processo de produção, que durou quase um ano, passou por uma segunda fermentação, na garrafa, que atenuou a percepção do açúcar e aflorou o aroma.

“Há muito tempo planejávamos desenvolver uma cerveja com o Brian, um cervejeiro respeitado em todo o mundo e que viaja pelo planeta produzindo rótulos de qualidade e compartilhando suas experiências. O resultado desse trabalho em conjunto foi extremamente gratificante e segue a linha de inovação proposta pela Way Beer. E agora, com muito orgulho recebemos esse prêmio por ela”, comenta Alessandro Oliveira, mestre-cervejeiro e sócio proprietário da Way Beer. Outras duas cervejas foram premiadas com medalhas no Concurso: a JabutiGose, medalha de prata na categoria Contemporary Gose; e a Gose, medalha de bronze na categoria Contemporary Gose.

A Bierland foi, mais uma vez, premiada no Concurso Brasileiro de Cervejas, que integra a programação do Festival Brasileiro da Cerveja. A Cerveja Bierland Strong Golden Ale recebeu medalha de ouro, no estilo Belgian – Style Pale Strong Ale, na categoria comercial. Com esta conquista, a Cervejaria chega ao número de 108 medalhas em concursos nacionais e internacionais, ficando entre as cervejarias brasileiras mais premiadas no mercado artesanal.

Bierland chega a 108 premiações em concursos nacionais e internacionais. Desta vez a premiada foi a Bierland Strong Golden Ale

Para o sócio proprietário da Bierland, Eduardo Krueger, conquistar ouro em um concurso tão importante como este reafirma a qualidade da cervejaria e seus produtos. “Foi uma premiação bastante expressiva, ficamos muito felizes por receber medalha de ouro com a Bierland Strong Golden Ale no concurso. Esse tipo de reconhecimento nos incentiva a continuar realizando nosso trabalho da melhor forma possível”, declara.

Localizada em Blumenau, a Cervejaria Bierland surgiu da iniciativa de três sócios. Foi inaugurada em agosto de 2003 e, traduzindo do alemão, o nome significa “Terra da Cerveja”, uma homenagem à cidade onde está situada. Atualmente, a Bierland produz 14 cervejas entre as de linha e sazonais.

A Bodebrown conquistou onze medalhas, uma menção honrosa, por ter acumulado o maior número de medalhas na história da premiação, subindo ao pódio por cinco anos seguidos e, ainda, foi eleita a segunda Melhor Cervejaria do Brasil.

Uma das cervejarias mais conhecidas no Brasil, a Bodebrown pretende ampliar a capacidade produtiva

Na coleção de medalhas, ouro para as cervejas: Tripel Montfort Merlot Wood Aged 2015, Blanche de Curitiba e De Bora Extreme – Edgil. Já as quatro de prata foram para Atomga Cherry Wood Aged 2014, Hair of The Bode Wood Aged 2014, Sour-Punk 2016 e Montfort Golden Mirtilo Sour 2015. As cervejas 4 Blés, Limoeiro/Bodebrown Grisette 2016, Hair of The Bode 2016 e Atomga Amburana Wood Aged 2014 ficaram com medalhas de bronze.

Fundada em 2009, a Bobebrown é uma das cervejarias mais premiadas do Brasil e da América do Sul. Vencedora de dezenas de prêmios, incluindo o importante Trophy Gary Shepard de maior revelação no Australian International Beer Awards (Austrália), utiliza os melhores produtos nacionais e importados para a produção de suas cervejas.

Novidades da Feira

Levar e consumir em casa o mesmo chope fresquinho da cervejaria, como se a bebida tivesse acabado de sair da torneira. A ideia já é uma realidade possível em diversas cervejarias e bares especializados em cerveja espalhados pelo país. Para isso é necessário uma embalagem adequada, também chamada de growler, um garrafão retornável, tendência no segmento de cervejas especiais. A Feira Brasileira da Cerveja foi o palco escolhido por diversos fabricantes e distribuidores de growlers para apresentação de seus produtos. Tinha growler de todos os formatos, designs e materiais. A O-I (Owens Illinois) aproveitou o evento para lançar o primeiro growler de vidro produzido no Brasil.

Solução em vidro é sustentável e mantém o sabor e frescor do chope

A embalagem foi criada para oferecer ao mercado uma solução inteligente, que proporcione o consumo econômico e sustentável da cerveja. “Por ser retornável, o growler evita o consumo e descarte de embalagens. Além disso, ele também é vantajoso quanto ao custo-benefício, pois permite que a bebida seja comercializada com preços mais baixos”, explica Daniel Amaral, gerente de Marketing, Inovação e Desenvolvimento de Novos Produtos da O-I.

A fabricante de origem americana já havia notado a crescente demanda das cervejarias pelos growlers, mas identificou que nenhuma empresa produzia esse tipo de embalagem em vidro no Brasil, forçando os produtores a importarem as embalagens ou optarem por versões em outros materiais. Foi então que nasceu a ideia de elaborar um modelo que atendesse às necessidades do mercado. “Sempre estivemos próximos aos produtores de cervejas especiais, com a ampla variedade de copos e garrafas para o segmento de craft beer. Criamos o growler de vidro para ser uma das melhores soluções de embalagens para chope do mercado. Outra vantagem é que, por ser em vidro, mantém conservados o sabor e frescor original da bebida”, diz Daniel.

Growlers de cerâmica da MondoCeram podem ser personalizados e fornecidos em lotes pequenos

A MondoCeram, empresa do Grupo Ceramarte, especializada em artigos, produtos e utilitários em cerâmica, possue uma linha completa de growlers de vários formatos, designs e decorações diferenciadas, além de canecas e canecos de chope lisos ou artísticos com opções de tampas (ou sem). Um dos diferenciais da empresa é o decalque personalizado para cerâmica, porcelanas e vidros, que permite que o cliente crie decorações para lotes menores e possa utilizar o produto para eventos, lançamentos e outras finalidades.

Também era possível encontrar growlers de PET e de aço inoxidável produzidos no Brasil. O mercado aquecido das cervejas artesanais criou uma rápida demanda para esse tipo de embalagem e os fornecedores aproveitam a oportunidade ao mesmo tempo em que as cervejarias encontram nessa embalagem uma maneira diferente e mais econômica para vender seus produtos.

Na área de equipamentos uma centrífuga da Hipercentrifugation chamou a atenção dos visitantes da feira. Projetada para microcervejarias, a centrifuga tem capacidade para 500 litros de cerveja, sendo que a cada 1000 litros é preciso que seja feita a limpeza do equipamento. Segundo o diretor da empresa, Paulo Sergio Nascimento, a limpeza é feita em 10 minutos enquanto que um filtro de terra diatomácea demoraria pelo menos 1 hora. “ É muito fácil e pode ser feito por qualquer pessoa”, explica.

Projetada para pequenas cervejarias, centrífuga elimina partículas sólidas de bebida

A centrífuga permite eliminar partículas de levedura e lúpulo, oriundas do processo de fervura e fermentação. Ela trabalha pressurizada e, por isso, não incorpora oxigênio à bebida. Possibilita o reaproveitamento do fermento após a clarificação, pois não utiliza terra ou qualquer material filtrante no processo como acontece com os filtros tradicionais. “A centrifugação não ocasiona a perda das características da cerveja nem tampouco compromete seu sabor, pelo contrário vai melhorar o sabor da bebida e seu aspecto visual, tornando-a mais límpida”, explica Paulo Nascimento. Essa máquina pode ser utilizada também na produção de outros tipos de bebidas como vinho, suco e leite.

A Hipercentrifugation fabrica o mesmo equipamento para vazões de 1000, 3000, 5000 e até 20000 litros, sendo que acima de 3000 litros o equipamento é autolimpante, facilitando ainda mais a operação para o fabricante. Na feira o equipamento estava sendo vendido por R$ 18mil, já com as ferramentas de montagem do tambor, acessórios e skid móvel para transporte.

Acasc pede incentivos aos pequenos produtores

Logo após o encerramento do Festival Brasileiro da Cerveja, a Associação das Cervejarias Artesanais de Santa Catarina (Acasc), através do presidente da entidade, Carlo Lapolli, entregou ao governador Raimundo Colombo, documento solicitando dois importantes incentivos para o setor.
O primeiro é a ampliação do benefício de crédito presumido da operação própria e da substituição tributária de 13% para 20%. “Seria um apoio crucial para os negócios cervejeiros do estado que, muitas vezes, acabam não resistindo à alta tributação imposta para o produto e à dificuldade de chegada em outros estados por conta da substituição tributária”, defende Lapolli.

Outro pedido da Acasc é para que parte do ICMS recolhido pelas cervejarias artesanais no estado seja destinado para o Fundo Estadual de Turismo, a fim de fomentar a atividade. “O Vale da Cerveja, no Vale Europeu, e o Caminho Cervejeiro, de Florianópolis, são duas iniciativas que merecem atenção e investimentos. Com elas, teremos atratividade para arrecadar com o turismo o ano inteiro”, complementa.
A Acasc é a mais antiga associação regional de cervejarias do Brasil e conta com 33 associados entre cervejarias, bares e fornecedores do segmento.

Brassagem colaborativa

Entre os vários lançamentos e eventos paralelos que aconteceram durante a semana do Festival Brasileiro da Cerveja, sem dúvida alguma a brassagem colaborativa realizada na Cerveja Blumenau foi um dos mais atrativos.

Um grupo que troca informações durante o ano todo através da internet resolveu fazer uma cerveja e o estilo escolhido foi uma Double Red Ale. A nova cerveja recebeu o nome do próprio grupo: Illuminati.

Parte da brassagem será envelhecida em barril de cabernet sauvignon cedido pela cervejaria Leopoldina. Também são patrocinadores a Agrária, que disponibilizou as matérias-primas, a Cristal Blumenau, que produziu os copos personalizados e a Anexar Comunicação, responsável pela identidade visual da Illuminati. Depois de pronta, a cerveja será comercializada na loja da Cerveja Blumenau.

Fábrica da Blumenau

A Cerveja Blumenau foi inaugurada em 2016 com uma capacidade de 90 mil litros de cerveja por mês e um investimento de cerca de R$ 3 milhões. A fábrica possui equipamentos de ponta fornecidos pela Zegla, tradicional fabricante de equipamentos para bebidas de Bento Gonçalves(RS).

A sala de brassagem tem capacidade de fabrico de 2500 litros podendo chegar a 3500 litros, dependendo da cerveja que será produzida, segundo informações do cervejeiro da empresa, Mark Neumann. “Na etapa de fervura temos também um fervedor externo que possibilita mais eficiência na geração de calor, além de conferir parâmetros melhores ao processo”, explica Mark. O sistema é composto ainda por trocador de calor (toda água é reutilizada evitando desperdícios), fermentação totalmente automatizada com vários tanques de 2500, 5000 e 10000 litros que são utilizados de acordo com a cerveja, possibilitando mais flexibilidade à produção.

Depois da fermentação a cerveja produzida segue para centrifugação onde são eliminados o excesso de lúpulo e fermento (retirada dos sólidos). Se for cerveja segue para o flash pasteurizador e para um tanque de pressão onde aguarda o envase, se for chope segue para envase em barris.

O engarrafamento também foi todo fornecido pela Zegla e conta com rinser/enchedora/tampadora e rotuladora com tecnologia de última geração, totalmente automatizada.

A Cerveja Blumenau fabrica 10 rótulos de cerveja próprios e mais 15 cervejas para terceiros regularmente o que garante, atualmente, uma produção de aproximadamente 60 mil litros por mês. “Já estamos com uma produção bem acima do planejado. Esperávamos atingir essa produção somente no final deste ano”, explica Ulysses Kreutzfeld, diretor proprietário da Cerveja Blumenau. Segundo o empresário, as cervejas da Blumenau já estão em mais de 650 pontos de vendas em todo o Brasil e pretendem atingir mais de 2000 até o final de 2017.

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